MISTURANDO BEM, FICA LIVRE
COLUNA CARLOS BRICKMANN
(EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 1º DE OUTUBRO DE 2017)
É
tudo muito simples: os petistas agora têm de falar mal de Palocci,
falar bem de Maluf e defender Aécio. Os parlamentares do Centrão têm de
falar bem de Temer e Aécio, dizer que não existe Quadrilhão, esquecer
Maluf (as alas que hoje comandam o PP operaram sozinhas no Mensalão) e
ignorar Palocci. Os tucanos falam bem e mal de Temer, esquecem Maluf,
ignoram Palocci e defendem Aécio, que foi seu candidato à Presidência.
Mas nem todos defendem Aécio: Alckmin, Serra, Fernando Henrique e Tasso
Jereissati, os caciques do partido, mantêm-se em estrondoso silêncio.
Todos,
petistas, tucanos das mais diversas alas (há aproximadamente uma ala
por parlamentar), a turma do Quadrilhão, se aliaram em defesa da
democracia deles, especialmente das normas que dificultam prisões. Onde
já se viu, punir senadores só porque fizeram o que não deviam? E até
onde isso vai, considerando-se que metade dos senadores está sendo
investigada?
Suas
Excelências descobriram que gritar “Fulano na cadeia” para fins
eleitorais virou algo perigoso: o grito vira eco, vai e volta. Querem
mudar. Só falta combinar com o Supremo. Mas aí tudo é mais suave: o
julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade, que os partidos
propuseram em defesa dos parlamentares atingidos por decisões do
Supremo, está marcado para breve, 11 de outubro. E a presidente do
Supremo, ministra Carmen Lúcia, já disse que Supremo e Senado “estão na
boa”.
Estão na boa, pois.
O objetivo final
Como
presidente do Supremo, Carmen Lúcia tem papel da maior importância.
Frase sua: “O fim do Direito é a paz, a finalidade do Direito é a paz.
Nós construímos a paz”. A paz, portanto, será construída.
Nem burros...
Há
muitos anos, a deputada estadual paulista Conceição da Costa Neves, a
temida rainha da Assembleia, dizendo a este repórter que os deputados
eram o retrato do povo, exemplificou: “Na Assembleia há honestos e
ladrões, estudiosos e ignorantes, preguiçosos e trabalhadores. Só não
tem burro nem bobo, porque burro e bobo não conseguem chegar aqui”.
Todo
esse comportamento de Suas Excelências, que nós consideramos esquisito,
eles sabem que é mesmo esquisito. Burro e bobo não chegam ao Congresso.
Eles têm motivo para agir assim; na verdade, motivos. Alguns querem
livrar-se de problemas futuros com grades e tornozeleiras; outros só se
preocupam em manter o padrão de vida, sem devoluções, sem multas.
...nem bobos
O
fato é que não há partido importante livre de escândalos. Quem parece
lutar por Aécio está é salvando Lula; quem diz que Lula não deveria
passar por tantos problemas está lutando por Aécio – e todos, inclusive
Renan Calheiros, que fez discursos oposicionistas, por Michel Temer, que
sabe o que fazem aliados e adversários quando ninguém está olhando. Em
cada caso, seguem a regra básica de sobrevivência congressual: “no meu,
não”.
Do chão não passa
Michel
Temer está a ponto de bater um recorde mundial: daqui a pouco, seu
índice de aprovação poderá ser divulgado com nome por nome dos que o
apoiam. Na última pesquisa Ibope, Temer está com 3%, menos da metade de
Dilma na sua pior fase. E 77% acham seu Governo ruim ou péssimo.
Aliados
já querem botar a culpa no pessoal de Comunicação, já que os bons
resultados econômicos – um pouco menos de desemprego, uma leve alta no
consumo, a tendência ao retorno do crescimento econômico, a forte baixa
nos juros, a inflação em queda – não têm contribuído para evitar a má
imagem de Temer e do Governo. O problema é que, no momento, os
resultados econômicos teriam de ser fenomenais para elevar a
popularidade do presidente. Na hora em que cada prisão é saudada antes
que se saiba seu motivo, esperava-se que Temer limpasse a área, cortando
despesas, combatendo privilégios, implantando austeridade. E ele
assumiu com Jucá, Padilha, Moreira Franco, e apareceu conversando com
Joesley – aquele que não resistiu e caguetou a si mesmo. Não há
popularidade que aguente.
As tropas-ioiô
O
ministro da Defesa, Raul Jungmann, e o governador do Rio, Luiz Fernando
Pezão, anunciaram a retirada das tropas que cercaram a Rocinha. Ambos
dizem que houve significativos avanços para a paz na favela e que, “se
necessário”, os militares podem voltar. Lembremos: o traficante-chefe da
favela, Rogério 157, escapou do cerco. Como não será aceito em outros
morros (cada um já tem seu traficante-chefe), nem se converterá a alguma
religião contemplativa, tem mesmo é de voltar para a Rocinha. O chefão
anterior, Nem, que comanda a guerra contra 157, tem seu quartel-general
num presidio federal de segurança máxima, a milhares de quilômetros do
Rio. Mas agora querem prendê-lo no Rio mesmo, pertinho da favela.
Sairia mais barato manter as tropas na Rocinha, em vez de fazê-las ir e voltar.
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