Hugo Motta critica Haddad, diz que país não aguenta mais imposto e vê "recado da sociedade" em decisão da Câmara
Presidente da Câmara ecoa discurso antipolítica fiscal do governo, mas ignora papel do Congresso em manutenção de privilégios.
Em mais um gesto de distanciamento da equipe econômica do governo, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), adotou um tom populista ao comentar a aprovação do regime de urgência para o projeto que visa derrubar o novo decreto sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Nas redes sociais, Motta afirmou que a decisão do plenário é um "recado claro da sociedade", tentando capitalizar o desgaste do governo com a opinião pública e se colocar como porta-voz de um suposto clamor popular contra aumentos de impostos.
A manifestação foi feita em publicação na plataforma X (antigo Twitter). “346 votos. Um recado claro da sociedade — a Câmara foi apenas o veículo que ecoou essa demanda: o país não aguenta mais aumento de imposto. Toda essa discussão sobre as contas não é sobre quem mora na cobertura ou no andar de baixo. É sobre todos nós que moramos no mesmo prédio”, escreveu o deputado.
A frase faz referência a uma declaração recente do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que havia dito que a medida de compensação fiscal atingiria principalmente “donos de cobertura”, sugerindo impacto limitado a contribuintes de alta renda. Motta, no entanto, ignorou que o próprio Congresso tem sistematicamente se esquivado de pautas mais estruturantes da reforma tributária, preferindo discursos fáceis e votações simbólicas que pouco contribuem para a saúde fiscal do país.
Aprovação apressada e discursos contraditórios
Com a aprovação do regime de urgência, o projeto contra o decreto do IOF poderá ser analisado diretamente no plenário, sem necessidade de tramitação nas comissões temáticas. Na prática, isso acelera a votação, favorecendo movimentações de ocasião e dificultando o debate técnico. Apenas o PSB e a federação composta por PT, PCdoB e PV orientaram seus parlamentares contra a urgência. As demais lideranças, inclusive do governo, liberaram suas bancadas.
A crítica de Motta, no entanto, omite que parte significativa do desequilíbrio fiscal brasileiro se deve à manutenção de benefícios tributários e emendas parlamentares bilionárias aprovadas com apoio de sua base política. A Câmara que agora se coloca contra “mais impostos” é a mesma que, meses atrás, resistiu a medidas de ajuste sobre setores privilegiados e blindou segmentos que pressionam por mais recursos públicos.
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