Senado aprova PEC da Música, que isenta de impostos CDs e DVDs de brasileiros
GABRIELA GUERREIRO
DE BRASÍLIA
Sob forte pressão de músicos e artistas, o Senado aprovou nesta
terça-feira (24), em definitivo, a chamada PEC (proposta de emenda
constitucional) da Música. A proposta isenta de impostos os CDs e DVDs
produzidos no Brasil que tenham obras de autores ou intérpretes
brasileiros.
A PEC segue para promulgação, após ser aprovada em segundo turno por 61
votos favoráveis e quatro contrários. Eram necessários 59 votos a favor
para a matéria ser aprovada. O primeiro turno da votação ocorreu na
semana passada, também com a aprovação da PEC por ampla maioria de
votos.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), marcou sessão para a
próxima terça-feira (1º/10) para promulgar a emenda constitucional. "O
parlamento nacional tem priorizado a agenda da cultura", afirmou Renan.
Liderados pela ministra Marta Suplicy (Cultura), os cantores e artistas
lotaram a tribuna do Senado para acompanhar a votação --como Marisa
Monte, Ivan Lins, Sandra de Sá, Léo Jaime, Fagner, e a produtora Paula
Lavigne, entre outros.
|
Pedro Ladeira/Folhapress |
|
 |
| Artistas e políticos comemoram a aprovação da PEC da Música no plenário do Senado |
A proposta tem como objetivo reduzir o preço dos CDs e DVDs para
diminuir a pirataria no país. A imunidade tributária é a mesma que já
vale para livros, jornais e periódicos, entre outros. A emenda
constitucional também inclui os arquivos digitais, como downloads e
ringtones de telefones celulares.
O texto diz que todos devem conter "obras musicais ou literomusicais de
autores brasileiros, e/ou obras em geral interpretadas por artistas
brasileiros". Congressistas favoráveis à PEC afirmam que ela vai reduzir
em 25%, em média, os custos dos CDs e DVDs comercializados no país com
produção nacional.
Numa tentativa de preservar a Zona Franca de Manaus, onde se localizam
as empresas do setor, o benefício não alcança o processo de "replicação
industrial de mídias ópticas de leitura a laser", que continua a ser
tributado.
Apesar da exceção, os três senadores do Amazonas votaram contra a
proposta e tentaram adiar a votação. O grupo fez pressão para aprovar
três emendas à proposta, o que obrigaria o seu retorno à Câmara, mas foi
derrotado sem o apoio da maioria dos senadores. Líder do governo no
Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM) disse que o lobby dos artistas
pressionou os senadores.
"O que está se fazendo é lobby de empresários usando artistas. Estamos
dando imunidade para suporte industrial, não para conteúdo. Um Ipad, um
notebook é um arquivo digital? Isso não fortalece os artistas, que têm
como sua principal renda os shows", afirmou o senador.
Suplente de Braga, o empresário Liro Parisotto acompanhou a votação no
fundo do plenário do Senado. Parisotto é dono de quatro indústrias
petroquímicas que produzem CDs e DVDs na zona franca de Manaus.
A cantora Rosemary rebateu Braga e disse que a bancada do Amazonas
tentou "empacar" a votação, mas a classe artística acabou vitoriosa. "A
gente não vai deixar de fazer os nossos produtos nas fábricas de Manaus,
o que a gente não quer é pagar esses tributos."
Em defesa da PEC, Paula Lavigne disse que a música estrangeira pagava
menos tributos que as brasileiras produzidas no país. "Esperamos que
isso seja repassado para o preço das músicas. Que as gravadoras entendam
que isso deve ser passado ao preço final do consumidor."
Para comemorar a aprovação da PEC, o grupo MC Federado e os Leleks,
também presente em Brasília, cantou a música "Passinho do Volante"
(famosa pelo refrão "lek lek lek". Veja o vídeo abaixo:
INDÚSTRIA FONOGRÁFICA
Segundo dados da ABPD (Associação Brasileira dos Produtores de Discos), o
mercado de CDs, DVDs e Blu-Rays registrou uma queda de 10% entre 2011 e
2012 no Brasil. Em contrapartida, houve um aumento de 83% nas receitas
da área digital.
A ABPD calcula faturamento de R$ 392,8 milhões pelo mercado da indústria
fonográfica em 2012. Desse valor, R$ 280 milhões correspondem à venda
de CDs, DVDs e Blu-Rays, o que corresponde a cerca de 25 milhões de
unidades vendidas. Dessas unidades, 67% eram de repertório brasileiro.
Ainda de acordo com dados da associação, no Brasil, as vendas de música
digital representaram 28,3% do mercado total de música em 2012, enquanto
que as vendas de CDs corresponderam a 43,9%, valor pela primeira vez
menor que 50%. As vendas de DVDs e Blu-Rays, por sua vez, representaram
27,7% sobre o mercado de música no Brasil em 2012.