Presidente da Comissão Vida e Família comenta declaração do papa sobre paternidade responsável
Durante voo de retorno ao Vaticano, após
visita pastoral à Ásia, o papa Francisco atendeu aos jornalistas em
coletiva. Entre os assuntos abordados, o pontífice foi questionado sobre
o que diria às famílias que tinham mais filhos do que podiam criar e
sobre as proibições da Igreja Católica referente ao controle artificial
de natalidade.
"Algumas pessoas pensam - e desculpem minha expressão aqui - que,
para ser um bom católico, eles precisam ser como coelhos. Não.
Paternidade tem a ver com responsabilidade. Isto é claro", respondeu o
papa. Durante a conversa, Francisco se manteve firme contra o controle
de natalidade artificial e disse que uma nova vida é "parte do
sacramento do matrimônio".
O bispo de Camaçari (BA) e presidente da Comissão Episcopal para a
Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
comenta a declaração do papa que "católicos não devem se reproduzir
feito coelhos".
"O papa Francisco não deixa de surpreender aos observadores com seu
estilo, que quebra protocolos, e fala dirigindo-se principalmente às
pessoas simples, e não aos teólogos e intelectuais em geral. Na
entrevista dada durante a viagem de retorno das Filipinas, o tom era
evidentemente coloquial. E nesse tom, fala de realidades
importantíssimas. Em primeiro lugar, alude a uma mentalidade que,
especialmente a partir dos anos 60 fala em tons alarmistas da ‘explosão
demográfica', alegando que a pobreza de muitos povos se deve a uma
espécie de ânsia reprodutiva dos mais pobres. Por esse caminho, muitos
países alcançaram taxas negativas de natalidade, com graves problemas
sociais, tais como o envelhecimento da população, isto é, presença de um
contingente de idosos muito mais numeroso que de jovens. Isto gera
graves desequilíbrios na sociedade, podendo levar à falência as caixas
de governos que não têm como pagar os benefícios previdenciários dos
idosos e seus cuidados médicos", explica dom Petrini.
Dignidade humana
Sobre o conceito de "paternidade responsável" expressado pelo papa
durante a coletiva, dom Petrini diz que o pontífice referiu-se ao
conceito usado pela Igreja há muito tempo e incorporado pelo Beato papa
Paulo VI na Encíclica Humanae Vitae, de 1968. O conceito foi se
popularizando e está presente no Catecismo da Igreja Católica, de 1992. O
número 2368 deste documento afirma: 'Um aspecto particular desta
responsabilidade diz respeito à regulação dos nascimentos. Por razões
justas, os esposos podem querer espaçar os nascimentos de seus filhos'.
Paternidade responsável é, então, a atitude dos esposos que, avaliando
suas condições (econômicas, de saúde, etc.) decidem quando ter um filho e
quando esperar. O mesmo número acima recordado acrescenta: 'Cabe-lhes
verificar que seu desejo não provém do egoísmo, mas está de acordo com a
justa generosidade de uma paternidade responsável'. O papa recorda o
que a Igreja sempre disse: que não corresponde à dignidade humana agir
por puro instinto, pois atitudes dominadas pelo instinto são próprias
dos animais", comenta o bispo.
Métodos contraceptivos
A questão dos métodos contraceptivos foi outro questionamento
apresentado pelos jornalistas ao papa. Dom Petrini recorda que Francisco
disse conhecer muitos métodos que são eficazes para regular a
fecundidade e que não são artificiais. "De fato, nos últimos anos, a
ciência médica tem avançado muito no aprimoramento de métodos naturais
que dão o casal a possibilidade de regular o número de filhos. Trata-se
de métodos que exigem e promovem um entrosamento entre os esposos, um
permanente diálogo, uma sintonia fina, isto é, atitudes que constituem
uma extraordinária riqueza em suas relações íntimas. Os interesses
dominantes são mais favoráveis a outros métodos que necessitam de
artefatos produzidos por indústrias e que, portanto, rendem lucros
ingentes. Essa é a razão principal pela qual estes métodos veiculam
intensa propaganda e recebem o consenso de todas as formas de poder".
Ainda, sobre os métodos contraceptivos, o presidente da Comissão Vida
e Família da CNBB, dom João Carlos Petrini destaca que a Igreja sempre
esteve preocupada em zelar para que nada de externo ou artificial se
interponha na expressão da intimidade, na vivência do amor humano.
"Este cuidado visa não tirar a responsabilidade de uma das partes,
quase sempre o homem, nos cuidados com os efeitos das relações sexuais,
porque isto poderia transformar a sexualidade num lazer e a mulher num
brinquedo. Nesses casos, poderiam faltar a consideração e o respeito
necessários para que o relacionamento entre homem e mulher se desenvolva
na plenitude da dignidade e seja fonte de satisfação e verdadeira
realização humana".
Fonte: www.cnbb.org.br com informações da Comissão Vida e Família