Joaquim Barbosa, vítima da síndrome do esquecimento!
Ricardo Noblat
Flor do recesso é o não fato político tratado como se fosse fato
político. Costuma brotar durante os recessos de meio e de fim de ano do
Congresso.
É quando escasseiam as notícias. Os jornalistas ficam sem assunto e se
desesperam. E os políticos mais espertos se aproveitam do vazio para se
promover.
Com menos frequência, a flor do recesso também pode brotar em períodos
mais curtos de recesso do Congresso. Como o do carnaval. Uma vez
terminado o recesso, a flor murcha. Muda-se de assunto.
Dificilmente será diferente desta vez.
O ex-ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal (STF),
postou no twitter críticas ao ministro José Eduardo Cardoso, da Justiça,
por ele ter se reunido em seu gabinete com advogados de empreiteiros
presos pela Operação Lava-Jato, que investiga a corrupção na Petrobras.
Barbosa escreveu:
- Nós, brasileiros honestos, temos o direito e o dever de exigir que a
presidente Dilma Rousseff demita imediatamente o ministro da Justiça.
Reflita: você defende alguém num processo judicial. Ao invés de usar
argumentos e métodos jurídicos perante o juiz, você vai recorrer à
Política?
Cardoso encontrou-se no dia 5 de fevereiro com representantes da
empreiteira Odebrecht - um vice-presidente e dois advogados. O encontro
constou da agenda oficial do ministério.
Deles recebeu representações denunciando supostas irregularidades em determinados procedimentos da Lava-Jato.
O ministro alegou “sigilo” para não dar detalhes das acusações feitas pelos representantes da Odebrecht.
O leigo pode enxergar comportamento suspeito onde ele não existe. Mas Barbosa, não.
Um ministro de Estado é um servidor público. A porta do seu gabinete
deve estar sempre aberta para receber quem lhe pedir audiência. O
assunto a ser tratado poderá ser sigiloso ou não.
O encontro poderá se tornar público ou não. É simples assim. É o que
está em leis e regulamentos. É também o que dita o bom senso.
O ex-ministro Barbosa desconhece as leis? Não. Carece de bom senso? Isso fica a critério de cada um.
No STF, ele não recebia advogados das partes. Os demais ministros
recebiam e recebem. Nem por isso se tornam automaticamente suspeitos de
favorecer acusação ou defesa.
A oposição pegou carona com gosto na crítica do ex-ministro Barbosa e
promete levar o ministro da Justiça a se explicar no Congresso.
Flor do recesso! Nada mais do que isso.
Oportunismo politico da parte do ex-ministro Barbosa, empenhado em não se deixar esquecer.
Sossegue! Não será esquecido.
Joaquim Barbosa, ministro aposentado do STF (Imagem: Nelson Jr. / SCO / STF)