Novamente quero lhes lembrar desta colação de grau dos professores
indígenas Tremembé, no próximo dia 6, 4a. feira, às 19h00, na Concha
Acústica da UFC, em Fortaleza. Este dia se reveste de alguns
significados bem especiais, entre os quais, o retorno do Povo Tremembé
de Almofala a este lugar que foi palco de importância simbólica: a
conquista da premiação em primeiro lugar em um festival nacional de
foclore, em agosto de 1965. O folcorista Silva Novo, em livro intitulado
"Almofala dos Tremembé", descreve em detalhes esse acontecimento.
Assim, quase meio século depois, o Povo Tremembé se faz presente
novamente à UFC, desta vez para receberem diplomas e títulos de
professores indígenas graduados em nível superior, em curso especifico
de formação para o magistério indígena deste Povo, construído
coletivamente por eles mesmos com o apoio de alguns parceiros, sendo o
único no país a ter tido suas atividades realizadas integralmente no
cenário da aldeia. Além disso, o MITS integrou plenamento em sua matriz
curricular saberes específicos dos Tremembé, tendo entre os docentes que
ministraram disciplinas algumas de suas sábias lideranças, como o
cacique João Venâncio, o pajé Luis Caboco, o artesão Zé Biinha, o tuxaua
Agustinho Tucum, entre outros homens e mulheres que tanto contribuiram
com a formação dos cursistas-professores indígenas.
Vale ressaltar que o curso teve como motivação - e eixo
didático-pedaógico - a luta pelo Território Tremembé, a qual, além da
luta pela demarcação física e jurídica, inclui o conhecimento, a
elaboração e a gestão de um projeto sócio-político-econômico amplo, que
favoreça a continuidade da existência deste Povo.
Isso e muito mais é o que será celebrado nesta solenidade de colação de grau.
É
celebração da história e da memória de um povo que continua vivo, que
enfrentou e continua enfrentando desafios. Que sobreviveu aos massacres e
as doenças trazidas pelos colonizadores e missionários; às intempéries
naturais, como o soterramento de Almofala durante 40 anos, por um duna
gigantesca; à invasão sistemática de suas terras, por comerciantes,
posseiros, fazendeiros, empresários e políticos. Contudo, em meio às
perdas, também obteve vitórias, e vem se fortalecendo em meio às suas
lutas, como eles mesmos dizem: "Nós brandeia, mas não arreia".
Esse é o grau deste Povo, revelado também nestes diplomas e títulos que
receberão no próximo dia 6: sua sabedoria, resistência, força política e
criatividade para seguir adiante, concretizando em suas vidas a máxima
do filósofo Nietzsche: "O que não me mata, me fortalece".
Com alegria, celebremos este momento.
Vida longa ao Povo Tremembé de Almofala!
Paula Guerreiro