O deputado-pastor Marco Feliciano (PSC-SP) arrastou 2014 para o miolo
da encrenca que o engolfa desde que assumiu, em 7 de março, a
presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Insinuou que a
resistência do PT ao seu nome afugenta o eleitor evangélico da
candidatura reeleitoral de Dilma Rousseff. Fez isso numa entrevista ao
homorista Danilo Gentili (assista
aqui).
Gentili perguntou a Feliciano se o PT não estaria fazendo dele um
“bode expiatório” para evitar que os holofotes se voltem para José
Genoino e João Paulo Cunha, os dois condenados do mensalão que integram a
Comissão de Constituição e Justiça. “Isso é um jogo político”,
aquiesceu o polêmico mandachuva da Comissão de Direitos Humanos.
Em timbre ameaçador, Feliciano prosseguiu: “Eu penso que, nesse
momento, o PT começa a repensar. Afinal de contas, se isso estiver
acontecendo de fato, a presidenta Dilma e o governo devem estar jogando
fora o apoio dos evangélicos, que não é pequeno, para uma eleição do ano
que vem. São quase 70 milhões de evangélicos.”
Levada ao ar na noite passada, a entrevista fora gravada na
quarta-feira (27) –mesmo dia em o líder do PSC, deputado André Moura
(SE), inaugurara o esforço para arrastar o petismo à fogueira:
“Por que não pegar um
espelho
e olhar para si mesmo e perguntar: por que o PT indica para a Comissão
de Constituição e Justiça dois mensaleiros condenados pela mais alta
Corte deste país, o STF? Será que julgar a indicação do Feliciano, pelo
PSC, é correto para um partido como o PT, que, volto a repetir, indicou
dois mensaleiros condenados?”.
Como que decidido a potencializar a contradição de seus antagonistas,
Feliciano disse que o PSC não escolheu a Comissão de Direitos Humanos.
Ficou com ela porque foi “a comissão que sobrou”. Criado há 18 anos a
partir de uma proposta do PT, o colegiado sempre foi presidido por
petistas ou aliados ditos de esquerda.
Agora, ironizou Feliciano, “o partido que cuida dessa comissão desde
que ela foi fundada parece ter aberto mão dela porque nesse momento não é
prioridade.” Por isso, “caiu no colo do meu partido.” A alturas tantas,
o deputado-pastor afirmou que a comissão é “secundária e quase
inexpressiva”.
Feliciano exagerou: “Ninguem nunca ouviu falar dessa comissão.” Mais
um pouco e jactou-se: “Era secundária até a minha chegada.” Dando corda
ao próprio lero-lero, acabou soando anedótico: “Acho que eu coloquei a
Comissão de Direitos Humanos no lugar devido dela.”
Considerando-se o pano de fundo, a declaração não orna com o teatro
em chamas. Dos 19 servidores que trabalhavam na comissão que “caiu no
colo” de Feliciano,
sobraram 17. Foi à mesa, de resto, uma proposta de
renúncia coletiva dos membros da comissão. E Feliciano dá de ombros. Conforme já foi comentado
aqui, a confusão interessa a Feliciano. O pastor fala para suas ovelhas.
Qual é o problema de dois homens se beijarem em público?, indagou
Gentili. E Feliciano: “É constrangedor. Para um pai, que tem suas
crianças, é constrangedor. A sociedade brasileira, por mais que se diga
progressista, não está preparada para isso.” O apresentador
manifestou-se contra a interferência do Estado na vida das pessoas.
Feliciano, então, explicitou seus objetivos.
“Isso não é o Estado, é o posicionamento de um parlamentar que
representa um segmento: 211.855 pessoas votaram em mim com esse
pensamento. Nós temos essa cultura. Não critico quem faz. Faça! Mas faça
de uma maneira que não choque os demais.” Antes, no início da conversa,
Feliciano relatara uma cena que diz ter presenciado ao desembarcar em
São Paulo.
“Eu estava agora no aeroporto, descendo, vindo pra cá. Dois moços se
posicionaram de uma maneira que eu pudesse ver. Ficaram se beijando de
língua e tocando suas partes íntimas. Pra que isso?” Gentili não pedeu o
chiste: “E não te deu tesão? Feliciano manteve o rebolado: “Você
ficaria com tesão?” E o entrevistador, para gáudio da plateia: “Se fosse
limpinho…”
Antes de exibir-se no ‘Agora é Tarde’ de Gentili, Feliciano
conversara com Sabrina Sato, do ‘Pânico na TV’, a quem dissera que só
deixaria a Comissão de Direitos Humanos se morresse. “As entrevistas
mais sérias eu tenho dado em programas de humor como o seu”, afirmou ele
a Gentili.
De fato, as entrevistas com Feliciano tiveram um quê de humorística
seriedade. Na anterior, ele reconhecera que faz chapinha no cabelo, mas
negara que seja gay. Nesta última, teve a oportunidade de declarar-se
contra as pesquisas com células tronco e o sexo antes do casamento. Mas
viu-se constrangido a responder a indagações que só não foram mais
hilárias porque as respostas tiveram um grau de comicidade ainda maior.
É a favor ou contra ‘transar na bunda?’, eis um exemplo de pergunta.
Minucioso, Gentili explicou que se referia a uma transa de homem com
mulher, “sem viadagem”. E Feliciano: “Amigo, esse lugar que você chamou
aí de bunda, isso é um esgoto. Não foi feito pra isso. É anti-higiênico.
E tem outras coisas mais que não vale a pena falar.” O deputado-pastor
gostou do resultado da prosa. A julgar pelas mensagens que reproduziu no
Twitter, seu rebanho também apreciou.