A arquitetura do Jornal Nacional para eleger Aécio
Coincidentemente, as gravações vazaram para o Jornal Nacional
de quinta-feira, data do início da propaganda eleitoral do segundo turno
na TV.
Luiz Carlos Azenha - Vi o Mundo
(*) Publicado originalmente no Vi o Mundo.
E
a tão falada “vantagem numérica” de Aécio Neves sobre Dilma Rousseff,
segundo o Jornal Nacional — que trombeteou assim o resultado — se resume
a dois míseros pontos percentuais, dentro da margem de erro.
No Datafolha, em votos válidos, 51% a 49%. No Ibope, 51% a 49%.
Já a soma dos que consideram o governo Dilma ótimo, bom ou regular, é de 72% no Ibope e de 77% no Datafolha.
Jamais
se esqueçam: o Ibope foi aquele que, no dia do primeiro turno de 2014,
em pesquisa de boca-de-urna no Rio Grande do Sul, disse que Tarso Genro
(PT) teria 35% a 29% dos votos válidos contra Ivo Sartori (PMDB);
Sartori teve 40%, Genro 33%.
Datafolha é aquele que, em pesquisa
de boca-de-urna, disse que Fernando Henrique Cardoso seria eleito
prefeito de São Paulo, derrotando Jânio Quadros… que venceu (clique aqui
para ler).
Agora temos explicação para as duas pesquisas
divulgadas anteriormente às do Ibope e do Datafolha, do Instituto Paraná
e do Instituto Véritas, trombeteadas pelo site 247.
Na pesquisa
do Instituto Paraná, dirigido por uma pessoa que está na lista de
possíveis nomeados para compor o futuro secretariado do governador Beto
Richa, do PSDB, Aécio tinha 54% a 46%. A pesquisa foi divulgada com
grande alarde pelo site da revista Época… adivinharam, das Organizações
Globo!
Já a “pesquisa” do Instituto Véritas, alardeada pelo site 247, dava Aécio com 54,8% contra 45,2% de Dilma.
Pesquisas
encomendadas para dar a impressão de que Aécio tinha uma vantagem
insuperável? Quem sabe? Quem pagou para fazê-las? Quem pagou para
disseminá-las? Só o tempo dirá.
Chamou a atenção, quinta-feira, a paginação do Jornal Nacional, ou seja, a sequência das notícias determinadas pelos editores.
Para quem não tem intimidade com televisão, os telejornais seguem o que é chamado, no jargão dos telejornalistas, de “espelho”.
O
espelho, ou seja, a sequência de notícias, é determinada pelos chefes.
Por gente graúda. Eles é que escolhem a notícia supostamente “mais
importante” do dia.
Eles é que determinam o que virá primeiro, no momento de maior audiência do telejornal.
Eles
é que determinam o que será falado com destaque, naquele pingue-pongue
entre os apresentadores, na abertura do telejornal: as manchetes ditas
com grande ênfase pelo William Bonner e a Patrícia Poeta.
Pois bem, como começou o Jornal Nacional de quinta?
Abertura
acusando sem provas três partidos de terem recebido propina em esquema
montado na Petrobras: PT, PP e PMDB, com direito a sílabas vagarosamente
pronunciadas por William Bonner.
Em seguida, as pesquisas registrando “vantagem numérica” de Aécio Neves.
Depois, 10 minutos e 8 segundos dedicados à denúncia de véspera de eleição.
Independentemente
das denúncias serem verdadeiras ou falsas — qualquer pessoa pode dizer o
que bem entender ao Ministério Público Federal –, os depoimentos
“coincidentemente” foram marcados para esta quarta-feira e as gravações
vazaram… para o Jornal Nacional de quinta, data do início da propaganda
eleitoral do segundo turno na TV.
Como me disse um advogado esta tarde, é a desmoralização da “delação premiada”, usada para fins eleitorais.
Coincidência destas a gente só viu… em 2006.
Então,
as fotos do dinheiro supostamente usado pelo PT para comprar um dossiê
contra o candidato José Serra, do PSDB — fotos feitas dias antes —
“coincidentemente” vazaram para os jornais e as emissoras de TV na
antevéspera do primeiro turno.
Naquela ocasião, ajudaram a levar a eleição para o segundo turno.
Naquela ocasião, o delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno assumiu o
vazamento das fotos para os repórteres.
Sem saber, ele foi gravado por um dos repórteres no momento em que fazia o vazamento.
Nunca ficou esclarecido porque, a certa altura da gravação, o delegado disse: “Esta aqui é a foto da Globo”.
Ele
fez uma foto para sair na Globo? Uma foto especial para o Jornal
Nacional? Uma foto impressionante, com uma parede de dinheiro?
Tipo a que aparece abaixo?
As fotos, diga-se, foram feitas durante uma perícia oficial!
Será
que o delegado Bruno montou uma parede cenográfica de dinheiro para
sair na Globo? Ou foram os peritos e ele apenas tirou proveito da
ocasião?
Desta vez, curiosamente, o resultado das pesquisas e a
longa reportagem sobre as denúncias do ex-diretor da Petrobras Paulo
Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef foram seguidas… pela
propaganda eleitoral do PT.
O Jornal Nacional sabia, com certeza, que logo depois da longa denúncia, viria a propaganda de Dilma.
Sabe o que separou a denúncia da Petrobras da propaganda eleitoral do PT?
Uma notícia sobre um campeonato de vôlei e um anúncio do programa global The Voice.
Como se vê, foi tudo muito bem arquitetado no Jardim Botânico.
Ah,
sim, a pesquisa propagandeada pelo 247 (Aécio 54% x Dilma 46%), que
saiu primeiro no site da revista Época, das Organizações Globo, foi
reproduzida no programa eleitoral de Aécio Neves.
Outra coincidência.
Entenderam?
PS
do Viomundo: No ótimo programa de Dilma Rousseff, Fernando Henrique
Cardoso foi justamente detonado por dizer que os 40 e tantos milhões de
eleitores da petista são ignorantes!
Luiz Carlos Azenha é jornalista e trabalhou também na Rede Globo.