Uma carta grave com dizeres mais graves ainda.
Secretário do Meio Ambiente
Artur Bruno
Li
seu artigo publicado no jornal O Povo de 26.10.2015.
Tenho
68 anos, sou médico neurologista e filho de Guaramiranga. Como autônomo,
mantenho meu consultório aqui em Fortaleza, na Parquelândia, desde 1991. E pelo
menos num sábado, a cada mês, atendo no hospital daquela cidade a clientela dos
meus humildes conterrâneos.
Tenho
a grata satisfação de ainda desfrutar das maravilhas climáticas e paisagísticas
do pequenino Sítio Brejinho, herança de avós – a 2,4 quilômetros daquela
bucólica cidade -, nas proximidades da estrada que leva ao Remanso Hotel.
Causou-me alguma
impressão positiva o teor de suas considerações. Creio que suas disposições,
agora à frente da Secretaria, visam a alcançar o revigoramento das normas e
providências que, objetivamente, permitam que aquela Área de Preservação Ambiental receba os devidos e permanentes cuidados
preservacionistas.
Lamentavelmente,
temos visto, principalmente desde os primeiros anos da década de 1990,
coincidindo com a inauguração do Teatro Rachel de Queiroz, uma afrontosa,
desordenada e predatória ocupação daquele território, não só de Guaramiranga,
mas de todos os municípios vizinhos, no alto daquela serra. Creio que têm
faltado, mais responsavelmente, os rigores que se devem aplicar nas concessões
dos diversos empreendimentos, como os loteamentos patrocinados por empresários
visivelmente desinteressados do sensível tema da preservação ambiental. Os
naturais daquela região já não acreditam nos zelos e cuidados que deveriam ser
continuamente regidos pelos órgãos do meio ambiente. O poder econômico vai
celeremente dilapidando o patrimônio natural daquelas paisagens inigualáveis.
Ricos,
provenientes da capital e até de municípios sertanejos, estão a devastar
florestas até então virgens e nelas instalam mansões com luxos e gastos
surpreendentes. Algumas lá se tornam quase elefantes-brancos, ali esquecidas na
maior parte do ano. Mas sua implantação tem-se dado sob a tragédia de
desmatamentos implacáveis porque irreversíveis. O assoreamento de córregos,
pela derrubada de matas ciliares, têm sido uma realidade inexorável.
No
seu artigo foi lembrada a urgente necessidade de se recuperar as áreas das
nascentes do rio Pacoti. Que assim seja, e que uma política mais presente e
responsável faça prevalecer a manutenção de todo o verde da Serra de Baturité. Creio que uma providência efetiva e inicial
seria engajar habitantes da área rural numa ação que disseminasse o cultivo de
mudas da flora natural, que se destinaria ao reflorestamento com as espécies
autóctones.
Note-se
que há uma crescente profusão de poços profundos; já não se capta água em
lenções freáticos próximos a superfície. Os córregos estão secando. Cada mansão
que se instala providencia o seu poço profundo.
Pacoti
tem sido abastecida por carros-pipa. A exploração de água mineral, por um poderoso
grupo econômico da capital, no antigo Sítio Escondido (ultimamente chamado
Indaiá) exterminou completamente a reserva hídrica daquela área. Por muitos anos, e diariamente, saíram para
Fortaleza centenas de botijões de 20 litros até seu esgotamento completo e
irreversível.
Senhor
Secretário, vá mais vezes a Guaramiranga e a seus vizinhos. Dialogue com seus
prefeitos, vereadores e moradores mais antigos. Verifique in loco as mazelas de
um turismo de novos-ricos deslumbrados. Quase todo o território de Guaramiranga
já foi vendido a pessoas estranhas
àquele município. Cativados pelas belezas daquele oásis, até há poucos anos quase
incólume, elas estão devastando, irresponsável e egoisticamente, o seu precioso
manto verde e a particular e rica fauna.
Fortaleza, Parquelândia, 26 de
outubro de 2015