Donald Trump pintou um quadro sombrio dos EUA ao ser oficializado
candidato à Casa Branca pelo Partido Republicano. Após quase oito anos
de Barack Obama, a adversária democrata do empresário, Hillary Clinton
tem o desafio de mostrar que o país está no rumo certo e convencer o
eleitor que pode promover as mudanças esperadas.
O equilíbrio é delicado, como ficou claro nesta segunda (25), primeiro
dos quatro dias da convenção que irá oficializar Hillary como a
candidata. Se por um lado Obama continua popular no partido, há ações de
seu governo que causam desconforto, como a
Parceria Transpacífico (TPP), acordo comercial assinado pelos EUA e outros 11 países.
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Joe Raedle/Getty Images/AFP |
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Delegados levantam cartazes a favor de Hillary Clinton e Bernie Sanders na Convenção do Partido Democrata |
Dentro e fora da convenção, na Filadélfia, ativistas deixavam claro sua
insatisfação com essa e outras políticas do governo. Hillary, que já foi
a favor do acordo quando era secretária de Estado (2009-2013), hoje é
contra.
"Hillary irá defender o legado de Obama, mas deixando claro que há mais a
fazer, sobretudo pela classe média", diz o cientista político Michael
Kazin, da Universidade Georgetown (Washington). "Ela parece inclinada a
rebater a raiva do eleitorado mostrando que pode unir os americanos em
torno de metas como a tolerância étnica."
Com a economia em recuperação e sua popularidade em alta, Obama é
considerado um trunfo
de Hillary contra Trump, sobretudo entre jovens e minorias, um
certificado de abono a seu governo, que pela primeira vez desde 2013 tem
mais de 50% de aprovação nas pesquisas.
2004
A participação do presidente, nesta quarta (26), é uma das mais
esperados da convenção. Ninguém esquece que há 12 anos, o então senador
em primeiro mandato fez um discurso tão marcante na convenção que o
catapultou à vitoriosa candidatura democrata em 2008.
Desde então ele liderou uma reconfiguração do partido, tornando mais
progressista e multicultural. Mas também viu, impotente, o país
tornar-se ainda mais dividido racial e politicamente.
No primeiro dia da convenção, muitos dos discursos rebateram a visão de que o país está à beira do abismo, como prega Trump.
O empresário diz que uma vitória de Hillary será um terceiro mandato
para Obama, tentando atrair os votos insatisfeitos. Mas se a ideia é
transformar a eleição de novembro em um referendo sobre Obama, não está
claro de que lado ficarão os eleitores indecisos, diz o analista
político Ken Goldstein, da Universidade de São Francisco.
"Não acho que a narrativa sombria de Trump esteja ganhando tantos
adeptos entre os indecisos", afirma Goldstein. "Mas esta campanha é
marcada pela raiva dos americanos com a política, e isso exigirá de
Hillary habilidade para propor alternativa sem falar mal de Obama."
Nesse sentido, será importante que ela conquiste o apoio dos eleitores do senador Bernie Sanders, que
perdeu a candidatura democrata
numa disputa acirrada e, que confrontou o sistema político. Na plateia
da convenção, os frequentes gritos de "Bernie!" lembravam que ainda há
espaço para conquistar o voto "sanderista".
Em encontro com simpatizantes nesta segunda, antes de discursar na convenção, o senador
chegou a ser vaiado ao pedir apoio a Hillary.
Muitos, porém, apelam ao pragmatismo em defesa de Hillary.
"Estamos entre uma candidata que não é perfeita, mas vai defender a
plataforma democrata, e Donald Trump, que coloca em risco muitas das
políticas de Obama", disse Shaun Brown, delegada representante da
Virgínia, usando um chapéu com o nome de Sanders.