Venezuela ‘é uma ditadura’, diz Aloysio Nunes
Venezuela ‘é uma ditadura’ análoga ao regime militar brasileiro
Empossado
no cargo de ministro das Relações Exteriores há apenas quatro dias, o
tucano Aloysio Nunes Ferreira tornou-se a primeira autoridade brasileira
a se referir à Venezuela sem eufemismos: “É uma ditadura”, disse ele,
em entrevita ao
blog.
O
novo chanceler comparou o governo do presidente Nicolás Maduro ao
regime militar brasileiro, implantado depois do golpe de 1964: “É uma
ditadura com alguns espaços que ainda se preservam, como nós já tivemos
aqui no Brasil no tempo do autoritarismo. Você tinha espaços dos quais a
oposição se utilizou para acumular forças e pressionar o regime.”
Aloysio
afirmou que o governo de Michel Temer lançará mão de “todos os meios”
para estimular em organismos internacionais a abertura de “um diálogo
real entre governo e oposição”. Classificou de “preocupante” a situação
da Venezuela. Enxerga no país vizinho o seguinte: “escalada do
autoritarismo, presos políticos, Judiciário manietado, imprensa
manietada, violência nas ruas e a falta de uma janela eleitoral.”
Após criticar Trump, Aloysio espera para ver se ‘porre’ passou
Durante
a conversa, o ministro recorreu ao humor para comentar uma trapaça do
destino. Nas pegadas da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, sem
suspeitar que a sorte lhe reservara uma poltrona de chanceler, o então
senador Aloysio Nunes foi à canela do adversário de Hillary Clinton como
um zagueiro de time de várzea: “Trump é o Partido Republicano de porre.
É o que há de pior, de mais incontrolado, de mais exacerbado entre os
integrantes do seu partido.”
A diplomacia traz o significado no
nome. Funciona melhor quando é macia. Por isso, perguntou-se ao novo
chanceler se a canelada não dificultará os seus contatos com autoridades
norte-americanas. E ele: “…Porre a gente toma. […] Eu bebo muito pouco,
mas já me aconteceu. E eu me recuperei. Curei a ressaca.” Acha que
Trump já se recuperou do porre? Aloysio, como que trocando o figurino de
senador pelo de ministro, disse que olha para Washington com o mesmo
olhar de dúvida do papa Francisco. Prefere “esperar para ver.”
Seja
como for, Aloysio não acredita que seus comentários causem transtornos.
“Nós temos nos Estados Unidos um extraordinário diplomata, que é o
nosso embaixador Sérgio Amaral. Ele tem um roteiro, que está seguindo,
em bastante consonância com os norte-americanos, com a nova
administração… Essa declaração não cria nenhum problema.”
Aloysio chama Mercosul de ‘ficção’ e espera fortalecer o bloco
No
seu primeiro compromisso oficial como chanceler, Aloysio participou, na
última quinta-feira, em Buenos Ayres, de uma reunião com os chanceleres
dos outros países-membros do Mercosul: Argentina, Uruguai e Paraguai.
Suspensa do grupo, a Venezuela não foi convidada. A “revitalização” do
Mercosul é uma das prioridades da gestão de Michel Temer. Sem rodeios, o
sucessor de José Serra no Itamaraty chamou o Mercosul de “ficção.”
Não
seria mais negócio para o Brasil se dissociar dessa ficção?, quis saber
o repórter. E Aloysio: “Não, é transformar a ficção numa realidade.”
Como? Eliminando barreiras que impedem a conversão do Mercosul numa
efetiva área de livre comércio. De resto, o ministro diz haver “um
interesse crescente da União Europeia para ter um acordo com o
Mercosul.” O Brasil jogará suas fichas nesse acordo, sem desprezar os
entendimentos bilaterais.
“Temos interesse em fazer acordos
bilaterais com Japão, temos acordos bilaterais com a China, com a
Rússia. Com todos os países que compõem a Aliança para o Pacífico
—Chile, Peru, México e a Colômbia— nós temos acordos bilaterais,
inclusive acordos que vão fazer com que nós tenhamos um comércio
inteiramente livre entre o Brasil e esses países.”
A pedido da Argentina, Brasil limita pousos de aviões britânicos
Aloysio
informou que o Brasil deve restringir o uso do seu território para o
pouso de aviões militares do Reino Unido a caminho das Ilhas Malvinas.
Fará isso em atenção a uma reclamação do governo argentino, que
reivindica a soberania das Malvinas. Os dois países guerrearam pelo
arquipélago em 1982. Esmagados, os argentinos perderam 649 soldados. E
mandaram à cova 255 inimigos.
Entre 2015, ainda sob Dilma
Rousseff, e 2016, já sob Michel Temer, pelo menos 18 aviões militares
britânicos usaram o território brasileiro como escala de reabastecimento
de voos que tinham as Ilhas Malvinas como destino final. Em acordo
firmado com a Argentina, o Brasil comprometera-se a desautorizar esse
tipo de pouso, exceto em duas circunstâncias: emergências e missões
humanitárias.
Antecipando-se a uma averiguação que está sendo
feita pela Aeronáutica, Aloysio admitiu que é improvável que os 18
pousos sob exame tenham sido emergenciais ou humanitários. Daí a
intenção de “tornar mais rigorosos os procedimentos”, desautorizando os
pousos quando for o caso. Nas palavras do ministro, a intenção do
governo brasileiro é a de tornar os procedimentos “inquestionáveis.”
Aloysio justifica apoio do PSDB a Temer e torce para ele não cair
A
chegada de Aloysio à Esplanada dos Ministérios tem um quê de paradoxal.
Na disputa presidencial de 2014, ele foi candidato a vice na chapa
encabeçada pelo correligionário Aécio Neves. Com a derrota da dupla, o
PSDB protocolou no Tribunal Superior Eleitoral um pedido de cassação da
chapa rival: Dilma Roussef—Michel Temer. Hoje, o tucanato é o esteio do
governo Temer e Aloysio, convertido em chanceler, torce para que o TSE
não passe na lâmina o mandato do substituto constitucional de Dilma.
Reuniram-se
no processo movido pelo PSDB indícios eloquentes de que milhões em
verbas roubadas da Petrobras irrigaram a campanha vitoriosa em 2014. Mas
Aloysio endossa a tese segundo a qual a contabilidade da campanha de
Temer deve ser apartada da escrituração do comitê de Dilma. “Toda
punição, para que se efetive, exige, juridicamente, um nexo de
responsabilidade'', afirma. ''Quem faz tal coisa sofre tal consequência.
Então, é preciso que se apure efetivamente a responsabilidade do
candidato à Presidência e do candidato a vice-presidente. Não são coisas
que possam ser julgadas sem que haja uma apuração específica de
responsabilidade de cada um. Na minha opinião, são questões que podem
ser perfeitamente desmembradas –contas de Temer e contas de Dilma.”
Quanto
à presençaa do PSDB no governo, Aloysio disse: “É uma questão de
responsabilidade política para com o país nós ajudarmos o presidente
Temer a tirar o Brasil dessa crise profunda em que o governo anterior o
colocou. O governo Temer surgiu da ruína do governo Dilma. […] É uma
ponte que tem que ser construída para 2018, em grande parte com pedaços
de um naufrágio que ele encontrou na praia. Esse é o Congresso. E sem
ele não se governa, não se aprovam as reformas.”
Para Aloysio Nunes, debate sobre anistia de caixa dois é inócuo
Acusado
de receber R$ 200 mil no caixa dois da construtora UTC, Aloysio reitera
que sua inocência será demonstrada no inquérito que corre no Supremo
Tribunal Federal. “O próprio empresário, o dono da UTC [Ricardo Pessoa],
disse que eu nunca fui atrás dele, nunca pedi dinheiro para ele. Então,
tem que encerrar o inquérito.”
A despeito do drama que o assedia,
o novo chanceler considera inócuo o debate sobre anistia do caixa dois.
Por quê? “A ideia de anistiar caixa dois eu acho uma besteira, porque
só se anistia aquilo que é crime. Caixa dois hoje não é um tipo penal. É
o recebimento de dinheiro por parte de um candidato, um dinheiro que
ele não declara na sua prestação de contas. É um tipo penal de direito
eleitoral.
Aloysio prossegue: “[…] Evidentemente, quem recebe
recursos e não declara está cometendo crime eleitoral. Imagine você ter
que arranjar um projeto de lei dizendo o seguinte: não é crime eleitoral
receber dinheiro e não declarar. O Ministério Público vai continuar a
denunciando. Denuncia por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro,
por corrupção. É um falso problema.”