Presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos alega “razões pessoais” e deixa governo Temer
“Neste ano à frente da diretoria do
BNDES busquei olhar para o futuro, estabelecendo novos modelos de
negócios e estratégias para o Banco, sem descuidar do passado e do
presente, sempre tendo em mente preservar e fortalecer a instituição e
seu corpo funcional”, escreveu, em carta endereçada aos “benedenses”
EBC
Maria endereçou carta aos “benedenses” com as razões de sua saída
Maria Silvia Bastos Marques não é mais presidente do Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No posto desde 1º de
junho de 2016, a economista pediu demissão nesta sexta-feira (26) e, em
nota endereçada aos colegas de BNDES – a quem chama de “benedenses” –,
alega “razões pessoais” para deixar a instituição (veja íntegra da nota
abaixo). Ela já havia comunicado sua decisão ao presidente Michel Temer,
que enfrenta a mais grave crise de seu governo desde a posse
temporária, em 12 de maio do ano passado.
A assessoria de imprensa do BNDES informa que o diretor da Área de
Administração e Recursos Humanos, Ricardo Luiz de Souza Ramos,
engenheiro mecânico e funcionário de carreira do banco de 2003, assumirá
o comando da instituição interinamente. Temer ainda não decidiu quem
será o substituto de Maria Silvia.
Também por meio de nota (íntegra abaixo), Temer manifesta “profundo
agradecimento” à agora ex-presidente do BNDES. “Seu trabalho honrou o
governo e moralizou um setor estratégico para o país, despolitizando a
relação com o setor empresarial e elegendo critérios profissionais e
técnicos para a escolha de projetos a serem contemplados com
financiamentos oriundos de recursos públicos”, diz o presidente.
Contrariando interesses
Conhecida pela austeridade na administração de empresas ou órgãos
públicos, Maria Silvia andou desagradando corruptos nos últimos meses à
frente do BNDES. Um deles foi Joesley Batista, que pressionou o ministro
da Fazenda, Henrique Meirelles, no sentido de emplacar apaniguados em
estatais. Joesley é um dos responsáveis pela mais grave crise do governo
Temer desde sua posse na Presidência da República, em 12 de maio de
2016 – ele protagoniza ação coordenada da força-tarefa da
Operação Lava Jato
em que foram feitas gravações e vídeos que mostram o peemedebista em
conversas e situações comprometedoras. Resultado: investigação formal de
Temer no Supremo Tribunal Federal (STF), algo inédito na história do
país
.
Acusado
de pagar propina e caixa dois – além de ter feito doações legais de
campanha – para Temer e mais de 1,8 mil candidatos, Joesley ouve de
Temer que o banco sofreu um contingenciamento orçamentário de R$ 150
bilhões. Ao reclamar com o presidente Temer sobre a concessão de crédito
do BNDES na gestão de Maria Silva, segundo os áudios em poder do STF,
Joesley se queixou da economista e disse: “Está bem travado”.
Biografia
Doutora em economia, Maria Silvia foi pesquisadora do Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e professora
da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) entre
1982 a 1990. Assumiu, em janeiro de 2007, a presidência da Icatu
Hartford, grupo líder em seguros de vida, Previdência e capitalização,
no
ranking de empresas sem relação com bancos de varejo. Também presidiu o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS).
Conhecida pela atuação com base em critérios técnicos, foi
coordenadora da Secretaria de Política Econômica do Ministério da
Fazenda, assessora especial das áreas financeira e internacional e do
Departamento de Assuntos de Desestatização do BNDES.
Comandou a reestruturação da CSN, quinta maior empresa nacional, três
anos depois de sua privatização. Também esteve à frente da participação
da CSN no processo de privatização da Light, aproveitando sua
experiência em ações de desestatização acumulada nas épocas de BNDES,
antes de ser alçada ao topo do banco de fomento.
Entre 1993 e 1996, Maria Silvia comandou a secretaria de Fazenda da
Prefeitura do Rio de Janeiro, onde ganhou o apelido de “a mulher de 1
bilhão de dólares” – fortuna que conseguiu direcionar aos cofres da
capital fluminense nos últimos meses em que exerceu a função, deixando
legado de equilíbrio orçamentário para o município.
Confira a nota de Temer:
“O presidente da República, Michel Temer, manifesta seu profundo
agradecimento a Maria Silvia Bastos Marques, que presidiu o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social de forma honesta,
competente e séria por pouco mais de um ano.
Seu trabalho honrou o governo e moralizou um setor estratégico
para o país, despolitizando a relação com o setor empresarial e elegendo
critérios profissionais e técnicos para a escolha de projetos a serem
contemplados com financiamentos oriundos de recursos públicos. Deixará
como legado um modelo a ser seguido em toda máquina pública.
Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República”
Agora, leia a íntegra da nota de Maria Silvia:
“Prezados benedenses,
Nesta sexta-feira, 26 de maio, informei pessoalmente ao
presidente Michel Temer a minha decisão de deixar a presidência do
BNDES.
Todos os diretores permanecem no cargo e o diretor Ricardo Ramos,
pertencente ao quadro de carreira do BNDES, responderá interinamente
pela presidência do Banco.
Deixo a presidência do BNDES por razões pessoais, com orgulho de
ter feito parte da história dessa instituição tão importante para o
desenvolvimento do país. Nas duas passagens que tive pelo Banco, como
diretora, nos anos 90, e agora, como presidente, vivi experiências
desafiadoras e de grande importância para a minha vida profissional e
pessoal.
Neste ano à frente da diretoria do BNDES busquei olhar para o
futuro, estabelecendo novos modelos de negócios e estratégias para o
Banco, sem descuidar do passado e do presente, sempre tendo em mente
preservar e fortalecer a instituição e seu corpo funcional.
Desejo boa sorte a todos, esperando que sigam trabalhando para
que o BNDES continue sendo o Banco que há 65 anos faz diferença na vida
dos brasileiros.
Um grande abraço,
Maria Silvia”