Ceará concentra maior capacidade do País
O mercado de energias renováveis, atualmente, representa 47,3% da
matriz energética brasileira. De acordo com a engenheira de energias,
Ana Paula Silva, combinado o potencial ao uso racional e eficiente de
energia, metade da demanda energética mundial poderá ser suprida em
2050, além da redução dos emissores globais de gases de efeito estufa do
setor energético em até 50%. Em termos de recurso de energia eólica, o
Ceará é um dos melhores do País, concentrando maior capacidade de
geração na serra e litoral. O assunto foi discutido na última reunião do
Pacto de Cooperação da Agropecuária Cearense (Agropacto).
Como exemplo de aproveitamento do potencial energético no Estado, Ana
Paula citou, como exemplo, a instalação de uma bateria de energia solar
numa fazenda de porte médio, onde a tarifa rural de energia elétrica é
de R$ 0,35 por quilowatt-hora (kWh), sendo que, quando se investe em
energia solar, a média é de R$ 0,13/kWh. “Normalmente o agricultor tem
duas contas de energia: o do irrigante e o de energia fotovoltaica. A
taxa de retorno para investidores na área rural é de oito anos, e para a
área urbana e de cerca de quatro anos. A vantagem real maior é para
quem utiliza a energia para irrigação, em torno de 99% de economia”,
explica a especialista.
Segundo Ana Paula, a maioria dos empreendimentos agrícolas de pequeno
porte fica na microgeração, podendo assim ser feito um investimento de
forma mais simplificada através da energia solar financiado por
programas como o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar) e FNE (Fundo Constitucional de Financiamento do
Nordeste).
Potencial
O potencial eólico do Brasil, destaca a especialista, é superior a 500
GW e, atualmente, existem 12 GW instalados. Ela apontou que a energia
renovável pode ser utilizada em diversos ciclos, a depender da
necessidade e do nível de atividade do produtor. No caso da eólica, na
visão da especialista, “apesar de ser ofertada em abundância no Ceará,
ainda é uma opção que não oferece muita vantagem ao produtor rural,
porque ele não se encaixa na classificação de mini e micro geração de
energia pela Agência Reguladora de Energia (Aneel) – e, por isso, deve
levar em consideração diversas formas de geração de energia acompanhado
de um estudo de viabilidade econômica”.
Outras formas de geração de energia renovável foram mencionadas, como
a solar, térmica e fotovoltaica e a energia de biomassa – que são mais
atrativas para o agronegócio. Destas, a solar fotovoltaica é a mais
viável para micro geração (até 75 kW) e mini geração (de 75 kW até 5
MW), a partir desse limite a energia só pode ser negociada nos leilões.
Incentivos
A gestora de agronegócio do Banco do Nordeste (BNB), Geânia Gomes –
presente à reunião – disse que o FNE Sol e o FNE Verde, financiam até
100% do investimento em energia solar. Além disso, ela destacou que as
taxas de juros para investimento pelo FNE, “são bastante convidativas”.
Por sua vez, o gestor de Agronegócio Banco do Brasil, Antônio Gomes,
informou, também, que a energia eólica é, hoje, uma política de
desenvolvimento de Governo, e que o banco tem linhas de crédito
especiais para os produtores rurais.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec),
Flávio Saboya, destacou que a entidade – em parceria com o Sindicato dos
Produtores de Ibaretama e o BNB – instalou uma unidade demonstrativa
com captação de água à base de energia solar, utilizando água de um poço
profundo na Fazenda Triunfo, onde a CNA e a Embrapa estão desenvolvendo
duas frentes de pesquisa: o Projeto Biomas Caatinga e o Projeto de
Forrageiras do Semiárido. Ele anunciou que, em breve, a Faec promoverá
um dia de campo para mostrar essa tecnologia e os dois projetos em
execução.
Recursos naturais são abundantes, mas pouco usados no Estado
O italiano Daniel Gallarati, da empresa Sunpa.Sa, que trabalha com
energia renovável há oito anos no Ceará, disse que o Brasil tem biomassa
de sobra mas utiliza muito pouco, “porque falta projeto de
concretização entre agricultor, engenharia e o Governo do Estado,
aplicando uma legislação ambiental adequada, abrindo, dessa forma, o
mercado e atraindo novos projetos de energias sustentáveis”. No caso da
energia eólica, o grande problema, segundo ele, é o custo de importação,
ou seja, o imposto em cima dos produtos, já que são fabricados hoje
somente na Europa. “Uma solução seria baixar os custos e os bancos
agilizarem a aprovação dos projetos, com juros adequados, disse o
empresário italiano”, pondera Gallarati.
“Na Itália já instalamos 340 MW. Aqui no Brasil, instalamos 23 MW de
energia solar somente para o Grupo Pague Menos; a Jandaia/Sucos do
Brasil já utiliza 750 MW. A cidade de Martinópole capta energia solar
para um clube social, e, em Sobral, uma fábrica de gelo”, informa
Daniel. Segundo ele, o Brasil tem um grande potencial de resíduos
sólidos com fins energéticos, que ainda não estão sendo explorados,
principalmente na parte orgânica para produção de energia ou
fertilizante para a agricultura. “O grande gargalo é a educação do
cidadão que precisa ser informado e as cidades que precisam se preparar
para receber o produto reciclado”, asseverou.
Para o presidente do Sindicato Rural de Moraújo, Elder Aguiar, as
tecnologias que o homem do campo desenvolve, hoje, ainda são muito
atrasadas. “Essa palestra sobre energias renováveis representa uma
tecnologia que alavancaria, bastante, nossa atividade. Pensando nisso,
idealizamos o programa “Doutores do Sertão”, que visa exatamente levar
novas tecnologias ao campo através dos estudantes dos Institutos
Federais de Educação”, observou Aguiar. Ele sugeriu que os bancos
fizessem a renúncia fiscal, apoiando essa proposta, alavancando essas
tecnologias no meio rural. “Essas tecnologias também poderiam ser
difundidas pelo Senar, que tem uma missão de ensinar fazendo, e os
bancos teriam mais condições – inclusive de fiscalizar a atuação”,
finalizou o dirigente.