400 mil brasileiros em Nova York; alguns do Piauí


Por: Arquivo Marcus Henrique Paranaguá
Diplomata Marcus Henrique Paranaguá e sua esposa, Josi Cavalcanti Barros
(MS, 17/08/2009, às 11:21:04)

O governo dos Estados Unidos fará o censo dos estrangeiros em 2010. Segundo estimativa do Ministério das Relações Exteriores há no país entre 1,2 e 1,5 milhão de brasileiros. Dessa população verde-amarela a ser confirmada nos Estados Unidos, cerca 400 mil estão em Nova York, a “capital do mundo”. Alguns são piauienses, como o diplomata Marcus Henrique Paranaguá e sua esposa, Josi Cavalcanti Barros.

Entrevistado pelo Acessepiaui durante passagem por Brasília (a entrevista foi concluída por e-mail), o diplomata, cuja família é de Corrente, no sul do Piauí, informa sobre a prestação de serviços consulares que, além da emissão de documentos, atua na promoção dos produtos brasileiros.

Ele avalia que o Brasil tem despertado bastante interesse como destino turístico para os norte-americanos, mas problemas persistem: violência, infraestrutura precária e amadorismo: “Veja o exemplo do Piauí, que tem grande potencial turístico, mas ainda engatinha pela falta de investimentos (públicos e privados) e pelo amadorismo no trato com o assunto.”

E o que é uma cidade civilizada para Marcus Henrique Paranaguá, um piauiense que conquistou o passaporte de cidadão do mundo: “O melhor de tudo é poder sair do Carnegie Hall ou do Lincoln Center, depois de um concerto ou de uma ópera, tarde da noite, e ir caminhando para casa sem medo de ser assaltado. Isso é a verdadeira civilização.” A seguir, a íntegra da entrevista:



Marcus Paranaguá em Brasília, após voltar de Corrente,

onde prestigiou o Leilão Miridan 2009

(foto: Mauro Sampaio/Acessepiaui)

Acessepiaui – Por que aumentou a procura de brasileiros e norte-americanos ao consulado do Brasil em Nova York para uma média de 600 pessoas por dia?
Marcus Paranaguá - A procura pelos serviços consulares aumentou consideravelmente nos últimos anos como resultado do crescimento da comunidade brasileira residente no exterior. O Brasil sempre foi um país receptor de imigrantes, sobretudo com o início da imigração européia (alemães, suíços e italianos), ainda no Século XIX. Em seguida tivemos a onda japonesa, no início do século XX, e mais recentemente por outros povos. Recentemente começamos a constatar um movimento inverso, em que brasileiros começaram a deixar o país em busca de melhores condições no exterior. Esse movimento teve incremento a partir da crise inflacionária aliada à recessão econômica (crise da dívida) dos anos 80. Esse aumento da população brasileira no exterior acarretou uma pressão muito grande por serviços consulares, demanda que a nossa rede consular não estava preparada para atender. Logo ficou claro ao Itamaraty que resposta institucional precisava ser dada a essa nova realidade, resposta que daria maior ênfase aos assuntos consulares, com a abertura de novos consulados, modernização das nossas práticas, além da criação de uma Subsecretaria encarregada dos temas relacionados às Comunidades Brasileiras no exterior.

Acessepiaui - A que recorrem os brasileiros?
Marcus Paranaguá - Os brasileiros procuram os Consulados para a obtenção dos serviços consulares clássicos: emissão de documentos (passaportes, procurações, certidões de nascimento, casamento, atestado de residência e óbito), bem como exigências decorrentes da cidadania brasileira: título eleitoral e serviço militar. Além dos serviços consulares/cartoriais há também o Setor de Promoção Comercial dos Consulados (SECOM). Esse Setor é parte de uma rede de Setores de Promoção Comercial que funcionam em Embaixadas e Consulados em mais de 50 países. Como extensão do Departamento de Promoção Comercial do Ministério das Relações Exteriores, sua principal missão é promover as exportações brasileiras e o investimento direto estrangeiro no Brasil.
As principais atividades do Setor de Promoção Comercial são resumidas a seguir:
• apoio às empresas brasileiras interessadas em exportar para o mercado local;
• apoio às empresas localizadas em sua área de atuação, que estejam interessadas em importar produtos brasileiros ou em fazer investimentos diretos no Brasil;
• divulgação de informações sobre oportunidades comerciais e de investimento;
• laboração ou contratação de pesquisa de mercado;
• análise do potencial de exportação de produtos brasileiros para sua área de atuação;
apoio a entidades públicas e privadas na participação em feiras, missões empresariais e outros eventos de interesse para a promoção comercial;
divulgação de feiras comerciais e outros eventos.

Acessepiaui - Aparecem piauienses no Consulado?
Marcus Paranaguá - Alguns funcionários do Consulado-Geral em Nova York (um contratado local e dois servidores do quadro permanente do Ministério) são de origem piauiense, como eu. Pelo tamanho da comunidade brasileira na nossa jurisdição é razoável supor que existam alguns piauienses vivendo por aqui, mas a maioria é de mineiros e goianos.


Diplomata Marcus Henrique Paranaguá no Rockefeller Center com o jornalista cearense Macário Batista (foto: arquivo pessoal do diplomata)

Acessepiaui - O governo dos Estados Unidos prepara um censo sobre estrangeiros no país. Quantos brasileiros estariam morando nos Estados Unidos? É uma população que tende a aumentar ou cair?
Marcus Paranaguá - O censo ocorrerá apenas em 2010, mas a campanha de esclarecimento começou com bastante antecedência. O Consulado em Nova York está engajado na divulgação do Censo, a fim de que fique claro quantos somos. Os números sobre o tamanho da nossa comunidade variam muito: apenas na nossa jurisdição (Nova York, Nova Jersey, Pensilvânia, Delaware e Connecticut) estima-se que possa haver entre 300 e 400 mil brasileiros. O número total de brasileiros nos Estados Unidos varia entre 1,2 e 1,5 milhão.

Acessepiaui - Os norte-americanos querem descobrir o Brasil no século XXI? Já não querem apenas dizer, com sotaque carregado, "Pelé" e "Carnaval" quando perguntam sobre o nosso País?
Marcus Paranaguá - A curiosidade despertada pelo Brasil é muito grande, sobretudo pela diversidade de belezas naturais e pelo povo simpático e acolhedor. Mas o grande problema continua a ser a violência nas grandes cidades e a falta de infraestrutura adequada para a exploração eficiente do turismo. Veja o exemplo do Piauí, que tem grande potencial turístico, mas ainda engatinha pela falta de investimentos (públicos e privados) e pelo amadorismo no trato com o assunto. O Ceará, por exemplo, há muito descobriu e desenvolveu sua vocação para o turismo, setor que responde por boa parte de sua economia. E o potencial do Brasil (e do Piauí) é enorme nesse setor.

Acessepiaui - É possível um dia o Brasil dispense os norte-americanos da obrigatoriedade do visto, como medida para atrair mais turistas e dólares, ou só acontecerá se houver reciprocidade?
Marcus Paranaguá - Esse é tema de grande sensibilidade política. O segmento turístico gostaria de ver abolida a exigência do visto para os americanos, pois é certo que aumentaria o número de turistas. Sem falar na facilitação das viagens de executivos, com o fomento dos negócios. No entanto, como os americanos mantêm a exigência do visto para os brasileiros, muitos defendem que o Brasil responda com a mesma moeda. Quem vai querer se expor a defender publicamente que o Brasil deixe de exigir o visto enquanto eles mantêm a exigência em relação a nós? Por isso é tema politicamente sensível, pois toca em sentimentos de orgulho nacional e autoestima, esfera puramente emocional. Se a questão fosse tratada do ponto de vista puramente econômico, não resta dúvida de que seria uma decisão racional e inteligente.

Acessepiaui - O senhor recomenda conhecer Nova York?
Marcus Paranaguá - Claro! Nova York continua a ser a "capital do mundo". É uma cidade cosmopolita, sofisticada e extremamente receptiva. Além disso, há uma inesgotável oferta cultural, que vai da alta cultura às manifestações menos eruditas. Cinema, teatro, musicais, ópera, música erudita - nos espaços tradicionais, mas também nos parques -, shows de grandes artistas e de todos os gêneros musicais. Galerias, bares, restaurantes. Tudo do melhor está aqui, para todos os gostos e bolsos.

Acessepiaui - Mas, os brasileiros preferem mesmo Miami e Orlando?
Marcus Paranaguá - Miami tem outra proposta, outra vibração: é mais perto do Brasil e tem maior influência latina, além do clima mais quente, de praia. Nova York é muito mais cosmopolita e sofisticada.

Acessepiaui - Como já trabalhou em Lisboa, que poderia dizer, como comparação, da capital de Portugal e da "capital do mundo"?
Marcus Paranaguá - Não há como comparar cidades tão diferentes. Gostei muito de ter vivido em Lisboa, cidade que me conquistou pela beleza e pela história. A cidade tem uma luz natural muito bonita e um clima privilegiado; mas é uma cidade infinitamente menor e menos cosmopolita que Nova York. Lisboa tem seus encantos, que são de outra natureza; NY tem uma vibração bastante mais intensa, tudo em escala infinitamente maior.

Acessepiaui - Para quem viaja pelo mundo, e até mora no mundo, e não apenas na sua aldeia, é possível afirmar que há cidades melhores do que outras? Mais civilizadas, por exemplo? O que seria uma cidade civilizada para um diplomata?
Marcus Paranaguá - Essa é uma questão de gosto e do perfil de cada um. É certo que há cidades melhores que outras. Para mim, uma cidade civilizada é aquela que oferece aos seus moradores e visitantes um leque variado de opções de lazer e de manifestações culturais de qualidade, num ambiente sofisticado, criativo e seguro. É claro que a gastronomia está inserida nessas manifestações culturais de excelência, e NY é um pólo gastronômico espetacular. Mas o melhor de tudo é poder sair do Carnegie Hall ou do Lincoln Center, depois de um concerto ou de uma ópera, tarde da noite, e ir caminhando para casa sem medo de ser assaltado. Isso é a verdadeira civilização.

Acessepiaui – Por favor, poderia fornecer o endereço do Consulado do Brasil em Nova York?
Marcus Paranaguá – Sim. Fica na 1185 Avenue of the Americas, 21º andar. Essa é a Sexta Avenida, entre as ruas 46 e 47. A 46 é a Little Brazil Street, trecho de um quarteirão entre a Quinta e a Sexta Avenidas, onde há muitos restaurantes e lojas de brasileiros. O Consulado fica próximo do Rockefeller Center. A Times Square fica a um quarteirão.

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