Aécio em ritmo presidencial





“Isso não tem nada de seminário. É o primeiro grande comício da vitória do PSDB no retorno ao Governo Federal”. O tom do discurso feito por Aécio Neves (PSDB) ontem, no município de Horizonte, escancarou o quanto o governador mineiro já adotou postura de candidato a presidente da República um ano e dois meses antes das eleições.

Ele esteve na cidade a convite do senador Tasso Jereissati (PSDB). Antes, porém, visitou o Palácio Iracema, de onde partiu com o governador Cid Gomes (PSB) para o distrito de Pajaruru (Beberibe). Na agenda, a inauguração de uma usina eólica orçada em R$ 200 milhões. “Não haveria outro lugar onde pudesse iniciar minha caminhada. Que ela comece aqui, nesse solo fértil. PSDB 2010. Para vencer, governar e honrar cada brasileiro”, acrescentou.
Tudo em Aécio “cheirava” a sucessão. A postura era de candidato; o contato com o possível eleitorado idem; e os acenos e poses para fotos também. Até jingle de campanha em forma de “repente” foi cantado por Luizinho de Irauçuba. No gogó, sobraram críticas ao Governo Lula, a quem acusou de não ter um plano desenvolvimentista para o Nordeste e de estimular a pobreza quando comemora o aumento de beneficiados pelo Programa Bolsa Família.

O pronunciamento durou quase cerca de 20 minutos. Tempo suficiente para ele adiantar a tônica tucana na disputa pelo Palácio do Planalto no próximo ano. No que depender de Aécio, a pauta será marcada pela defesa das reformas. Em todos os sentidos. E com a crise vivida hoje pelo PT como destaque. Na última quarta-feira, após a cúpula petista apoiar o engavetamento das denúncias contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), membros do partido disseram-se envergonhados de integrarem os quadros da legenda e até ameaçaram deixá-la.

Para Neves, um momento delicado e merecedor de reflexão. “Temos que pensar na agenda da reforma política para que não vejamos mais as negociações espúrias que vemos na política brasileira. Defendo a refundação da Federação, dando mais poderes a municípios e estados, porque o Brasil caminha para ser um estado unitário”, afirmou.

Se oficializado candidato após prévias internas ainda sem data para serem realizadas, Aécio prometeu a manutenção do Bolsa Família e a formulação de planos específicos para cada região do País. A ideia é copiar algumas iniciativas implantadas por ele no Governo de Minas. Como exemplo, levantou a bandeira do fim da guerra fiscal que impede o desenvolvimento de algumas áreas. “Tudo isso tem que incorporar as propostas do PSDB, porque ninguém sabe hoje com clareza qual o projeto que o PT inspira”, comentou.
Nesse sentido, Aécio assegurou atenção especial para o Ceará, com a formulação de projetos específicos, caso seja eleito. Ele chegou a classificar o Estado como “inspiração” para o trabalho que realiza em Minas Gerais. O “muso”, conforme revelou, é Tasso, figura que seria responsável por conduzir os debates em todo o Nordeste, “se couber a mim presidir o Brasil”.

O ainda governador admitiu de que o desafio das eleições será grande para o PSDB, principalmente pelo fato do PT ter nas mãos a máquina administrativa e o presidente Lula estar com a popularidade em alta – 82% de aprovação, segundo a última pesquisa. Contudo, Neves qualificou o Executivo como “frágil” e, por conta disso, assinalou que os tucanos devem enfrentar quem quer que seja “de forma altiva”, pois nunca tiveram uma oportunidade tão grande de retomar o poder como em 2010.

Para isso, Aécio adiantou que o ninho conversará com todos os partidos que puder e ouvirá, em especial, suas bases. Nas últimas eleições presidenciais, as principais decisões partiram da linha de frente do partido e culminaram em duas derrotas seguidas para o PT: uma com Geraldo Alckmin; outra com José Serra. As duas para Lula. “Mais do que ficar brigando pela paternidade de projetos, vamos dizer que o Brasil avançou nos últimos 16 anos, que parte desse avanço se deve ao governo FHC e que, mesmo com os avanços do Lula, ainda temos uma agenda enorme por fazer. E é essa agenda que procuro levar para o Brasil inteiro”, vaticinou.

Dobradinha com Ciro
Apesar de já mostrar-se como cabeça-de-chapa, ele não descartou a possibilidade de ser vice do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE). De acordo com Aécio, essa perspectiva foi discutida no encontro da manhã com Cid. Ciro e Tasso também estavam presentes no Palácio.
Aécio admitiu que as conversas com o PSB estão adiantadas e disse que se sentiria confortável em participar da aliança. Essa semana, o mineiro conversou com o presidente nacional do partido, Eduardo Campos. “Nós temos conversado muito, mas ele ainda não tomou uma decisão e todos nós, de alguma forma, somos reféns das nossas situações partidárias. Mas espero que isso possa ser possível”, avaliou.

Independente de estar ao lado de Ciro ou em coligação oposta, Neves assegurou que, futuramente, não há porque os dois não oficializarem uma aliança política. “O jogo está só se iniciando. Alguns achavam que o jogo das candidaturas já estaria completa. Não está. Nós vamos ver muita água rolar ainda debaixo dessa ponte. E quem sabe possamos ter uma nova convergência. Não vejo porque nós não possamos estar juntos no futuro construindo nossas reformas e esse projeto”, ventilou.

Desistir por Serra?
Aécio disse nem pensar nesse cenário, mesmo com o governador de São Paulo alcançando um desempenho melhor nas pesquisas de intenção de voto. Sobre o assunto, o mineiro previu que, independente do resultado das prévias, aceitará a deliberação das bases. “Se o indicado for o Serra, eu serei o primeiro a levantar o seu braço e me colocar à sua disposição para andarmos juntos pelo País”, encerrou.

Do Jornal O Estado

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