
Do UOL Notícias*
De São Paulo
Se não fosse pelo presidente deposto estar refugiado na embaixada brasileira, a vida teria voltado quase que completamente ao normal em Honduras nesta quinta-feira (24). Depois de dias sob a vigência de toque de recolher, as crianças retornaram às escolas, aviões voltaram a pousar no aeroporto, as fronteiras foram abertas e as ruas estão novamente cheias de táxis, ônibus e vendedores de chiclete, jornal e lanches.
Na manhã desta quinta-feira, apenas uma parte da capital continua tensa. Centenas de tropas do Exército e de policiais continuam cercando a embaixada brasileira em Tegucigalpa, onde o presidente deposto Manuel Zelaya e cerca de 70 apoiadores estão instalados desde que ele retornou ao país na segunda-feira.
Apoiadores de Zelaya enfrentam dificuldades na embaixada brasileira em Honduras
As autoridades do governo de fato de Honduras autorizaram a abertura dos aeroportos, que voltaram a funcionar na manhã desta quinta-feira (24). Porém, ainda há restrição aos voos internacionais. Os aeroportos estavam fechados desde segunda-feira, quando o presidente deposto Manuel Zelaya entrou no país. A medida entra em vigor junto com o fim do toque de recolher, que vigorava desde segunda-feira e que foi encerrado hoje, às 6h, horário local (9h, horário de Brasília).
Ainda não está claro quantos manifestantes foram mortos durante recentes protestos violentos. Zelaya disse à imprensa que 10 manifestantes foram mortos pela policia, mas não deu detalhes e a polícia nega. Hospitais locais dizem que várias pessoas foram tratadas com ferimentos de tiros. A policia hondurenha confirma a morte de dois homens durante os distúrbios.Raio-X de Honduras
A Anistia Internacional denunciou um aumento das agressões policiais, as prisões em massa de manifestantes contrários ao governo interino de Honduras e a intimidação de ativistas dos direitos humanos no país. "A situação em Honduras só pode ser descrita como alarmante", disse Susan Lee, diretora da Anistia para as Américas, em comunicado emitido pela organização.
Depois do retorno de Zelaya a Tegucigalpa, a Anistia Internacional afirma que "numerosos manifestantes" foram agredidos na terça-feira pelas forças policiais e que "centenas" foram presos na capital. Segundo Lee, "os ataques contra os defensores dos direitos humanos, a suspensão dos meios de comunicação, as agressões da polícia e as informações de prisões massivas indicam que os direitos humanos e a vigência da lei correm sérios riscos em Honduras".
Manuel Zelaya foi deposto em 28 de junho por militares hondurenhos sob a alegação de que ele infringia a Constituição ao tentar realizar uma consulta popular sobre mudanças constitucionais. Zelaya pretendia modificar a legislação para permitir a reeleição, o que é proibida pela Constituição de Honduras. O presidente deposto, cujo mandato termina no início do próximo ano, nega que pretendesse continuar no poder.
O presidente deposto, que retornou na segunda-feira (21) a Tegucigalpa em um movimento surpresa, recebeu autorização da chancelaria do Brasil para se abrigar na embaixada brasileira em Honduras. Toda embaixada possui status de território estrangeiro, e por isso a polícia e o exército hondurenhos não podem entrar no local sem autorização.
A inesperada chegada de Zelaya há quatro dias na delegação diplomática do Brasil causou um conflito inédito e difícil de ser resolvido, pois não há uma situação técnica de asilo nem de refúgio, e a embaixada ficou no centro do conflito.
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