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A TV e a nova mídia

Hildeberto Aleluia traz em seu artigo uma reflexão sobre a ampliação
da internet e os desafios dos demais veículos de comunicação, como a
televisão. Segundo ele, pesquisa do Ibope mostra que, no Brasil, o
primeiro semestre de 2009 marcou a queda de audiência das TVs abertas
com relação à mesma audiência obtida no ano de 2008. Ele também
destaca a diminuição da quantidade de aparelhos ligados.

A TV e a nova mídia
Por Hildeberto Aleluia

Henry Jenkins é professor de Ciências Humanas e coordenador do
Programa de Estudos de Mídia Comparada do prestigiado MIT -
Massachusetts Institute of Technology. Em seu livro Cultura da
Convergência, ao contrário de Bill Gates e Rudolph Murdoch, não
imagina o mundo sem televisão em seus estudos e pesquisas. Acredita
mesmo que todas as mídias permanecerão, apesar da Internet. E
profetiza a tal da convergência onde as velhas e novas mídias
sobreviverão complementando-se e a interatividade será o combustível
de todas. É difícil discordar do mestre. Mas a busca por um modelo de
comunicação, com interatividade, é frenética e alucinante na TV. O
problema é o modelo, ou os modelos. Nos EUA, as experiências vão do
Survivor ao Aprendiz. Todo dia surge uma ideia, porém insuficiente.
Todas moduladas na velha fórmula das TVs, um falando para todos. Pelo
tipo de veículo é difícil estabelecer um modelo de interação que
satisfaça ao telespectador, até mesmo por questões tecnológicas. Mas o
tempo dirá. Aqui entre nós no Brasil as experiências são primárias,
insuficientes ainda. Causa espanto aos que desejam atribuir ao
programa Big Brother a marca de interação. Sucesso de venda e
faturamento, ele nada tem de interação. É o último suspiro de sucesso
da velha fórmula. No Brasil a experiência mais realista foi o Fala Que
Eu Te Escuto, um programa evangélico, na Rede Record. No começo era
muito interessante. E a interação era via telefone. Aliás, a área
evangélica, na TV, é a que mais se permite experiência de
interatividade. Já vimos de tudo, mas nada que supere o Fala Que Eu Te
Escuto no seu início. Ali, os fiéis colocavam suas dúvidas, sugestões
e críticas, sem edição. A experiência deu tão certo que rendeu até um
senador para a igreja universal, no Rio de Janeiro. Daqui para frente
veremos cada vez mais a TV buscando a participação do telespectador.

No jornal, bem, o jornal parece era mais dificuldades para sobreviver.
Assim sinaliza o mercado. Mais a frente veremos o porquê.



Segundo o professor Jenkins “a nova mídia opera sob princípios
diferentes daqueles que regiam a mídia de radiodifusão que dominou a
política americana por tanto tempo: acesso, participação,
reciprocidade e comunicação ponto a ponto, em vez do velho modelo de
um para muitos", e esse aspecto caracteriza uma nova modelagem na
cultura de massa e uma alteração significativa na cultura e
comportamento da gente. Observa ele que a mídia digital provoca um
“senso de comunidade diferente, uma sensação maior de participação,
menos dependência de expertise oficial e maior confiança na solução
coletiva de problemas". A TV e o jornal não conseguiram isso. Segundo
Jenkins, “se a informação é poder, a nova tecnologia é a primeira a
distribuir informação de forma justa". Ele complementa com uma
sentença:



- O poder está se deslocando das instituições que sempre governaram de
cima para baixo, sonegando informações, dizendo como devemos cuidar de
nossas vidas, para um novo paradigma de poder, distribuído
democraticamente e compartilhado por todos nós.



E é em busca disso que as velhas mídias perdem o sono, particularmente
a TV. Com muita sutileza e sem resultados elas navegam por esse mar.
Como exemplo, nos últimos sessenta dias a rede Record de TV alterou a
sua grade de programação, em São Paulo, vinte e quatro vezes. O SBT é
o campeão de surpresas em alterações de horários e programação e a
Rede Globo vem alterando o conteúdo de sua programação em
profundidade. Os mais atentos podem perceber as mudanças de foco no
programa Fantástico, com o conteúdo destinado às classes C,D e E.
Nunca os negros e pardos apareceram tanto na TV. O programa do Luciano
Hulk mais parece um supermercado. Sob a égide do sorteio, se vende de
tudo, do computador a móveis e utensílios domésticos. Até quando o
telespectador vai aceitar esse merchandising disfarçado, com sua
audiência e esperança, será a prova da mudança.



O Centro de Pesquisas de Notícias, dos Estados Unidos computou em 2007
e 2008 a queda de um por cento na circulação dos jornais e quatro por
cento na audiência das TVs, enquanto a Internet como fonte de
informação crescia dezesseis por cento. Aqui no Brasil, o primeiro
semestre de 2009 marcou a queda de audiência das TVs abertas com
relação à mesma audiência obtida no ano de 2008, registradas em
pesquisa do IBOPE. Não só perdem audiência como diminuem a quantidade
de aparelhos ligados.



Hildeberto Aleluia - é jornalista.
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