Honduras

A ginástica do Itamaraty para a comunicação com o governo de facto
Funcionários da embaixada não podem nem sequer assinar o "ciente" em papeis que tenham timbre que lembre o regime de Micheletti

Mesmo sem reconhecer o governo de facto de Honduras instalado desde o golpe de 28 de junho, quando militares prenderam o presidente Manuel Zelaya de pijama, ainda na madrugada, e o largaram na Costa Rica, o Brasil manteve canais de conversações com o regime de Roberto Micheletti, que assumiu o lugar do mandatário deposto. Como o Brasil retirou seu embaixador de Tegucigalpa, os contatos passaram à condição de informais e foram assumidos por funcionários do segundo escalão.

Nesse período de três meses, sempre que foi necessário algo maior do que o segundo escalão poderia resolver, o Brasil passou a recorrer à embaixada dos Estados Unidos, que decidiram manter lá o embaixador. E o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, começou a só se reportar à Organização dos Estados Americanos (OEA), sempre que precisou falar alguma coisa a respeito de Honduras.


A ordem para que o governo de facto não seja reconhecido é tão severa que os funcionários da embaixada brasileira não podem nem sequer assinar o "ciente" em papeis que tenham timbre que lembre o regime comandado por Roberto Micheletti. Uma assinatura poderia ser interpretada, de alguma forma, como o reconhecimento das decisões do governo de facto.

De acordo com informações do governo brasileiro, nos três meses da deposição de Zelaya para cá coube ao encarregado de negócios da embaixada do Brasil, Francisco Catunda Rezende, manter os contatos informais. Sempre que precisou de alguma coisa do governo de facto, Catunda recorreu a uma servidora do segundo escalão da diplomacia hondurenha que já mantinha vínculos com a embaixada brasileira em tempos de outros governos.

Essa prática nunca mudou. Catunda seguiu sua rotina de guardião da embaixada por quase três meses, com quatro funcionários brasileiros e oito hondurenhos. Mas, na segunda-feira, dia 21, eis que aparece na embaixada o presidente deposto Manuel Zelaya, familiares e seguidores. Logo o prédio foi tomado por mais de 300 pessoas. Com a chegada delas, o conforto foi embora e a tranquila vida de Catunda mudou radicalmente.

Do Brasil, o chanceler Celso Amorim concluiu que um funcionário apenas não suportaria tanta carga. Ele, então, designou o ministro-conselheiro Lineu Pupo de Paula, que serve na OEA, para dividir com Catunda a tarefa de cuidar da embaixada. Mas logo surgiu um problema: como o Brasil não reconhece o governo de Roberto Micheletti, e com ele não mantém relações diplomáticas, como pedir autorização para Lineu entrar em Honduras?

Catunda resolveu a questão. Foi atrás da velha amiga do segundo escalão da chancelaria hondurenha. Logo veio a autorização para que Lineu entrasse sem problemas em Honduras. Hoje, Catunda e Lineu revezam-se na guarda da embaixada que abriga Manuel Zelaya Têm autorização para sair e para entrar. Eles mesmos cuidam de levar comida e outros gêneros para as cerca de 50 pessoas que ainda estão na embaixada.

Embaixador

O Brasil vai trocar o embaixador em Honduras quando a crise for resolvida. Mario Roiter, que estava no Kuwait, ocupará o posto que era do embaixador Brian Michael Fraser Neele Este, que estava em férias quando houve o golpe, e nunca mais voltou a Honduras, terminou o tempo de serviço em Tegucigalpa. Brian irá para a representação diplomática de Antígua e Barbuda, no Caribe.

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