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Ave, Ciro. Aonde vais?


José Fonseca Filho*
Ciro Gomes é um político de temperamento forte, competente, honesto,
corajoso, um dos poucos surgidos nos últimos anos que difere da
mediocridade da classe política brasileira, enfurnada nas tumbas da
Câmara e do Senado. É tido como destemperado e é um pouco, mas nada
que o comprometa. Além de palavrões, diz umas verdades, de vez em
quando.

Para onde vai o Ciro? - perguntam os poucos brasileiros que ainda se
interessam pela política. As pesquisas de opinião pública dão-lhe boa
aceitabilidade, e cresce no grupo ligado ao presidente Lula um certo
receio. Em algumas cidades pesquisadas – Ave Maria! – o Ciro estaria
obtendo maior aceitação do que a candidata oficial, Dilma Pac.

Isso estaria causando algum desconforto aos detentores do poder e
talvez ao candidato, pressionado pelo seu partido, mas sempre lembrado
pela Dilma como pessoa integrante do governo, já foi ministro, é gente
boa, etc e tal. Outro grupo pretende que Ciro se candidate ao governo
de São Paulo, mas então, se ele se livrar da Dilma, cai no colo –
perdão – da Marta, ex-Suplicy.

A Marta quer vê-lo bem longe de São Paulo, de preferência em Mecejana,
ou Juazeiro do Norte, seguro pelo Padim Ciço para de lá não mais
voltar. Na encruzilhada, que deve fazer o avis rara da política
brasileira? Seu partido, um tal de PSB, o quer na via do Planalto,
mas resistirá aos eventuais apelos do companheiro Lula para não
prejudicar a querida Dilma?

Candidato ao governo de São Paulo, já que o PT não dispõe de ninguém
gabaritado para disputar o cargo, ou não precisaria estar pedindo
reforço ao Ceará. Mas não seria pretensioso sair do Ceará para ser
candidato a governador de São Paulo? Só porque é Corínthians?

Mais modesto, o pernambucano Roberto Freire vai disputar uma simples
cadeirinha de deputado federal por São Paulo. Sua única ligação com o
Estado, no caso, é torcer pelo Palmeiras. E, claro, sempre que chega
do exterior desembarca em Guarulhos, o que considera o torna, em
parte, cidadão paulista.

Mas para onde vai o Ciro, já se sabe? Se resolver mesmo disputar o
governo de São Paulo, grupos de pioneiros bandeirantes liderados por
Aloísio Nunes Ferreira estão tramando uma vingança. Convencerão
Geraldo Alkmin, que já foi governador paulista duas vezes, a mudar o
domicílio eleitoral para Quixeramobim e se candidatar ao governo do
Ceará.

Se ele pode vir para aqui porque eu não posso ir para lá, já deve
estar imaginando o Geraldo, cujo temperamento ameno, diverso do de
Ciro, pode encantar o eleitorado cearense. E o Geraldo ainda pode
prometer construir um rodoanel em Fortaleza, a ser inaugurado antes do
de São Paulo.

E o eleitorado de Ciro terá sido acaso consultado se prefere votar em
seu ídolo como candidato a Presidente da República ou a governador de
São Paulo? Consta que o governador de Pernambuco quer vê-lo disputando
a sucessão de Lula, assim como consta que Lula, em nenhuma hipótese,
quer vê-lo disputando sua sucessão.

Como se já não bastasse a saída da Marina Silva, que segundo os gênios
do marketing político, vai tirar votos da Dilma mesmo não sendo
candidata. O grupo radical do PT acha que Marina deveria voltar ao seu
habitat natural, e poderia ser indicada para dirigir o Jardim Botânico
do Rio, abandonado desde a saída de D. João VI.

Ainda tem quem sugira Ciro como o melhor candidato a vice-presidente
da República, na chapa da Dilma. Na verdade, é aí mesmo que o PT
gostaria de encaixar o inquieto cearense. Político bom é assim: não
lhe faltam perspectivas.

*José Fonseca Filho é jornalista político em Brasília

Postado por Wilson Ibiapina, do pessoal do blog em Brasilia(DF)

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