As próximas pesquisas de intenção de voto
No balanço do ano, quem deve ficar melhor é Dilma, pois será a última a aparecer na televisão. O normal é que suba algo em torno de 5%. Talvez mais. Ninguém sabe que efeito isso teria no lado tucano. Pode ser a gota d’água que vai definir quem fica e quem sai da disputa particular que Serra e Aécio travam
De Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi:
Do jeito como estamos indo para as eleições presidenciais de 2010, não causa mais espanto a divulgação simultânea de cinco ou seis pesquisas a cada mês. São tantas e tão frequentes que, volta e meia, o noticiário é inundado por elas. Mesmo quando nada ou quase nada trazem de novidade.
Daqui a pouco, teremos outra fornada e tudo indica que vão mostrar que o quadro sucessório permanece inalterado. Nas últimas semanas, nada parece ter acontecido com as intenções de voto. Ninguém subiu, ninguém caiu.
Olhando bem as pesquisas, faz tempo que é isso que dizem. A vantagem de Serra, o segundo lugar disputado por Ciro e Dilma, a boa performance de Heloísa Helena, Marina com seus 5% a 6 %, o desempenho de Aécio variando em função dos adversários… O quadro é sempre esse.
Quando muda, é por razões perfeitamente previsíveis. Desde o começo do ano, todas as alterações mais relevantes decorreram de algo com que já devíamos estar acostumados, as ondas de propaganda partidária que atingem o eleitorado uma vez por semestre. Elas decorrem da legislação relativa aos partidos políticos e existem desde os anos 1970, mas passaram a ter sua importância exponenciada a partir da segunda metade dos anos 1990.
Foi quando uma inovação jurídica mudou a comunicação política no Brasil, criando as “inserções”, mais conhecidas, na linguagem publicitária, por comerciais. Disseminadas pela programação das emissoras de televisão e rádio, essas inserções de 1 minuto ou 30 segundos atingem o universo dos eleitores, mesmo aqueles que pouco ou nenhum interesse têm por questões políticas e que, por isso, são pouco afetados pelas outras mídias.
Em todas as eleições presidenciais subsequentes, elas provocaram efeitos notáveis, especialmente no primeiro semestre de 2002. Sem reeleição e com a aproximação do processo eleitoral, as pessoas prestaram mais atenção nelas que de costume. Isso não havia acontecido em 1998 e não se repetiria em 2006.
Este ano, temos uma coisa parecida, que é a ausência de reeleição, mas com uma diferença: as eleições ainda estão longe. Apesar disso, é tão forte o impacto dessas ondas (sem esquecer que delas fazem parte os programas partidários semestrais), que foram a causa do que de mais importante aconteceu com as intenções de voto desde janeiro.
Os dois fenômenos de crescimento que tivemos até setembro se explicam assim: primeiro Dilma, depois Ciro, turbinados pelas inserções e o programa de seus partidos, subiram, para voltar a seu patamar anterior quando elas deixaram de fazer efeito. Nenhum dos dois se sustentou.
Não deixa de ser engraçado constatar que a movimentação frenética dos candidatos e seus mentores país afora, voando milhares de quilômetros, comparecendo a centenas de inaugurações, participando de incontáveis reuniões, gastando tanto esforço e tanto dinheiro, redundam em quase nada em termos de intenção de voto. Enquanto isso, uns minutinhos de televisão fazem toda a diferença.
De setembro para cá, não houve janela parecida para qualquer candidato. Assim, devemos ter poucas mudanças na próxima leva de pesquisas. Em compensação, muita coisa vai acontecer com as intenções de voto de novembro a dezembro. PT e PSDB voltam às telas já em clima inteiramente eleitoral, com suas estrelas principais querendo encantar os telespectadores e angariar votos por meio de inserções e programas. Dilma, Serra e Aécio vêm dispostos a crescer.
No balanço do ano, quem deve ficar melhor é Dilma, pois será a última a aparecer na televisão. O normal é que suba algo em torno de 5%. Talvez mais. Ninguém sabe que efeito isso teria no lado tucano. Pode ser a gota d’água que vai definir quem fica e quem sai da disputa particular que Serra e Aécio travam.
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