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Quem foi o Marques de Paranaguá

Meu querido amigo Marcos Paranaguá, Consul Geral Adjunto do Brasil em NY, é bloguista da melhor qualidade. Sempre participa da vida blogueira dos amigos que, como eu, sorvem de sua sabedoria e criatividade privilegiadas. Monarquista, participou ativamente do movimento pela volta do Reino ao Brasil desde os tempos que que cursou Direito em Fortaleza, acompanha em NY os movimentos dos barcos, como esta interessante entrevista com CHico CAstro sobre o livro que escreveu resgatando para o Piauí a memória de um nome ilustre no Brasil. Veja aí:


O Piauí ignora os seus filhos ilustres

Por: Mauro Sampaio/Acessepiaui

Escritor Chico Castro lançou o perfil parlamentar do Marquês de Paranaguá
(MS, 07/11/2009, às 09:51:49)

João Lustosa da Cunha (1821-1912) nasceu no sul do Piauí, pelas bandas de Sebastião Barros, e se tornou o Marquês de Paranaguá. Mais do que um título concedido por D. Pedro II, ele teve participação decisiva na vida do País durante o segundo império. Deputado, Ministro da Guerra e primeiro-ministro, o Marquês de Paranaguá acaba de ser biografado pelo escritor Chico Castro para a coleção Perfis Parlamentares da Câmara dos Deputados.

Um livro recomendado para quem tanto se orgulha de ser piauiense, mas desconhece os filhos ilustres, do Império e da República. Para Chico Castro, há tanta ignorância em relação ao Marquês de Paranaguá que a única homenagem feita a ele é o nome de uma praça em Teresina. “No Piauí, tem uma praça que as pessoas não conseguem chamá-la pela denominação completa. É uma ingratidão terrível para quem levou a navegação a vapor à capital”, protesta o escritor, um monarquista convicto.

Confira a entrevista de Chico Castro, autor também de A Coluna Prestes no Piauí:

Acessepiaui - Marquês de Paranaguá foi um piauiense ilustre?
Chico Castro - Foi um brasileiro ilustre. Um dos políticos mais importantes no Brasil do século XIX. Dizer isso parece uma altercância, porque o Congresso brasileiro nos nossos dias tem sido objeto de notícias não muito lisonjeiras. No século XIX não era assim. Ele se destacou naquela época num Congresso Nacional que tinha Rui Barbosa, Joaquim Nabuco e Zacarias de Góes e Vasconcellos.

Acessepiaui - Como um piauiense conseguiu brilhar no cenário político nacional do século XIX? Qual a trajetória do Marquês de Paranaguá?
Chico Castro - Ele saiu do Piauí com sete anos de idade. Ele nasceu onde hoje é o município de Sebastião Barros. Foi para Salvador após a morte do pai e morou na casa da enfermeira Ana Nery. É um detalhe importante. Ana Nery é a maior enfermeira do Brasil. Em Salvador, o Marquês de Paranaguá conheceu o irmão da futura mulher dele, que era Amanda Pinheiro de Vasconcelos, que vinha a ser a filha do Visconde de Monserrate. No século XIX, na Bahia, o Visconde de Monserrate seria, para nós, hoje, o ACM (Antonio Carlos Magalhães). Era o homem mais importante da Bahia. O irmão da futura mulher foi quem fez a aproximação, que fez tudo para ver o piauiense casado com ela. Portanto, começou a carreira pela mão do sogro.

Acessepiaui - Mesmo com essa relação de parentesco, o marquês poderia ter sido um político medíocre. Mas, ele não se resumiu a apenas um genro qualquer, é o que o senhor procura demonstrar na obra.
Chico Castro - Claro que não. Não foi por causa do Visconde de Monserrate que o Marquês de Paranaguá se tornou um político famoso. Mas, a origem do casamento dele, lógico, favoreceu-lhe. Após o casamento com Amanda de Vasconcelos, o marquês foi estudar no Rio de Janeiro. Por coincidência, ele foi morar perto do Paço da Boa Vista, que era a residência de D. Pedro II. A filha dele ficou amiga da princesa Isabel. Elas brincavam muito nos jardins do paço. Essa aproximação geográfica da casa do marquês com o paço e a amizade da sua filha com a filha de D. Pedro II, juntou as duas famílias. O marquês se tornou um palaciano e passou a exercer os mais altos cargos da hierarquia monárquica.

Acessepiaui - Quando ele se torna um marquês?
Chico Castro - Primeiro se tornou um visconde. Foi deputado federal, que era à época deputado geral, de 1849 a 1865. Daí em diante foi senador, até a queda da monarquia. Teve quase 40 anos de vida pública sem nenhuma mácula na sua trajetória política. Então, foi deputado federal, Ministro da Justiça, Ministro da Guerra, Ministro da Fazenda, Ministro dos Negócios Estrangeiros e chegou ao cargo mais alto do governo brasileiro, o de primeiro-ministro. Nós tínhamos uma monarquia parlamentarista. O Marquês de Paranaguá chegou a ser primeiro-ministro no segundo império. Então, ele adquiriu primeiro o título de visconde; o de marquês foi concedido em 1872.

Acessepiaui - O que significava ser um marquês?
Chico Castro - O Brasil não tinha uma monarquia familiar como na Inglaterra. A nossa monarquia foi muito formada a partir de titulação. O império brasileiro foi muito profícuo em nomear barões, condes, viscondes e marqueses. Era uma forma utilizada de mostrar para o mundo nossa monarquia. Na realidade, não era uma monarquia de sangue azul. O Marquês de Paranaguá não tinha uma linhagem monárquica. Ele era um interiorano.

Acessepiaui - O Marquês de Paranaguá não era um sangue azul, então, era simplesmente um piauiense?
Chico Castro - Eu falei sangue azul porque não é o nosso caso. A família Windsor, a família real inglesa, tem 700 anos de existência. Mas não é o nosso caso. A Coroa brasileira dava tais títulos para passar uma ideia ao mundo de que éramos um império. Duque de Caxias, por exemplo, não era de uma linhagem nobre. Era filho de um general do Exército brasileiro. Era uma forma que encontrou D. Pedro II de mostrar para o mundo que o Brasil era uma monarquia constitucional.

Acessepiaui - Paranaguá mereceu o título de marquês?
Chico Castro - Um dos poucos que mereceu o título. Quem conduziu a Guerra do Paraguai, como Ministro da Guerra, foi o Marquês de Paranaguá, que era superior ao Duque de Caxias. Se Caxias merece todos os louros pela vitória, há de se lembrar que o chefe dele era o Marquês de Paranaguá.

Acessepiaui - E como se chamava mesmo o marquês?
Chico Castro - João Lustosa da Cunha.

Acessepiaui - Com sete anos deixou o Piauí. Ele voltou algum dia ao Piauí?
Chico Castro - Ele voltou para combater a Balaiada, ficando ao lado dos coronéis piauienses. Se aliou ao Visconde da Parnaíba contra os insurgentes balaios.

Acessepiaui - A que o senhor atribui o total desconhecimento do piauiense de uma figura histórica tão importante? Os estudantes do Piauí não têm noção de quem foi o Marquês de Paranaguá.
Chico Castro - Em primeiro lugar, eu sou um monarquista. Não sou um republicano. Eu sou um monarquista constitucional, e não um absolutista. A república é farta de gente mal-educada. A república menospreza o império. Então, figuras importantíssimas foram confundidas pela república, fazendo-nos observá-las com desconfiança. “Ah, o imperador.” “Ah, a corte.” Não havia escândalos financeiros e políticos no segundo império (o segundo império, ou segundo reinado, iniciou em 1840 e foi até 1889, com a proclamação da República Federativa do Brasil)

Acessepiaui - Se o senhor é monarquista, quem deveria ser o rei hoje?
Chico Castro - Alguém da família Bragança. Os republicanos são tão carentes que nomeiam o rei Pelé, a rainha Xuxa, o Palácio do Planalto, o Palácio de Karnak. E não querem um rei para o País, ora. Os republicanos são mal-educados e mal informados.

Acessepiaui - O senhor gostaria de ser um súdito?
Chico Castro - Eu teria o maior prazer de ser súdito de um Bragança (há descendentes da família imperial no Brasil e na Europa. No acidente com o avião da Air France este ano, morreu Pedro Luiz de Orleans e Bragança, descendente de D. Pedro II) Ao contrário do que dizem as pessoas mal informadas, Portugal é o um país culto. D. Pedro II era um intelectual.

Acessepiaui – E D. Pedro I?
Chico Castro – Esse foi um canalha. Era totalmente absolutista. Com esse tipo de monarquia eu não concordo. Eu defendo a monarquia constitucional. Por isso, no plebiscito de 1992, votei pelo resgate da monarquia no Brasil. (D. Pedro I foi o imperador de 1822 a 1831)

Acessepiaui – O senhor concorda com o Estado sustentar uma família real?
Chico Castro – Sim. Nós sustentamos os republicanos com muito mais pompa do que uma família real. Hoje, um parlamentar entra pobre e sai rico quatro, oito anos depois.

Acessepiaui – Mas em que o rei contribuiria?
Chico Castro – Na monarquia constitucional, o rei é apenas um símbolo. Quem manda é o primeiro-ministro.

Acessepiaui – Então para que serve um rei?
Chico Castro – Ele é uma referência moral, de ética.

Acessepiaui – Voltando ao Marquês de Paranaguá, por que incomoda ao senhor que ele não seja lembrado pelos piauienses?
Chico Castro – O piauiense é ingrato com os seus filhos ilustres. E lisonjeia os picaretas.

Acessepiaui – O Piauí é ingrato com o Marquês de Paranaguá?
Chico Castro – É.

Acessepiaui – Mas há em Teresina a Praça do Marquês.
Chico Castro – Em Ilhéus, na Bahia, há o Museu Marquês de Paranaguá. Ele transformou Ilhéus de vila a cidade. No Piauí, tem uma praça que as pessoas não conseguem chamá-la pela denominação completa. É uma ingratidão terrível para quem levou a navegação a vapor à capital.

Acessepiaui – O piauiense se chateia quando sua capital é considerada maranhense por um meio de comunicação, então por que ignora os seus filhos ilustres?
Chico Castro – O piauiense é carente. Nós somos marcados por piadas nacionais. Já li na revista Veja várias confusões geográficas com a capital do Piauí. Isso não me incomoda. Problema deles.

Acessepiaui – Mas o gaúcho também é motivo de piadas.
Chico Castro – Mas não é pobre. Piada sobre pobre incomoda mais do que piada sobre gay. O Piauí continua banguela, infelizmente. O Piauí estaria melhor se o Brasil fosse uma monarquia.

Acessepiaui – O senhor foi convidado para fazer o perfil parlamentar de Alberto Silva. Fará?
Chico Castro – Já fui convidado para fazer o perfil de Coelho Rodrigues, outro piauiense ilustre. Ele foi um dos autores do Código Civil. Também surgiu a proposta de fazer o perfil do deputado Alberto Silva, um dos mais importantes governadores do Piauí. Ele transformou Teresina, que era uma capoeira, no seu primeiro governo. Ele criou a Universidade Federal do Piauí, colocou asfalto de Corrente a Parnaíba, melhorou a rede hospitalar de Teresina, valorizou os intelectuais, que tiveram participação no primeiro governo. Agora, como parlamentar, eu não sei se ele teve a mesma importância. Como governador, foi extraordinário, um visionário, um homem de ideias. Cometeu erros, mas quem não comete? Eu estou à disposição.

Para adquirir o livro: (61) 3326-3047, 3202-4538, 9261-4901.

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