Contato

Senado carnavaliza decisão do STF, descumprindo-a

Num Brasil remoto, as mães costumavam ministrar aos filhos algumas lições básicas.

O menino aprendia que não devia engolir chiclete. Colava nas tripas.

Banho depois de comer, jamais. Dava em congestão ou paralisia facial.

Pés descalços em chão de ladrilho? Pneumonia. Manga com leite? Morte.

Sobrevivendo às armadilhas da infância, o brasileiro aprendia outra básica lição:

Decisão judicial não se discute, cumpre-se. Do contrário, dá cadeia.

A modernidade encarregou-se de desmoralizar a sabedoria transmitida pelas mães. Chiclete, banho pós-almoço, pé no ladrilho e batida de manga já não espantam.

O Senado se encarrega de corromper a cara feia do Judiciário. Nesta terça (3), a Mesa diretora do Senado mandou às favas uma decisão do STF.

O Supremo determinara ao Senado que acomodasse, sem mais delongas, o suplente Acir Gurgacz (PDT-RO) na cadeira do titular Expedito Jr. (PSDB-RO).

Acusado de compra de votos e abuso do poder econômico, Expedito tivera o mandato passado na lâmina pelo TSE. O Senado dera de ombros.

Acionado, o STF informou o óbvio: a sentença do TSE não comporta discussões. O ministro Celso de Mello queixou-se do Legislativo.

Expedito recorreu, veja você, à direção do Senado. Pediu que lhe fosse autorizado recorrer à Comissão de Justiça do Senado.

Sapateando sobre o STF, os senadores deferiram o pedido do senador cassado. E a posse do suplente, que ocorreria nesta terça, foi às calendas.

O PDT, partido do novo dono da vaga, ameaça recorrer à Justiça. Cogita pedir a prisão dos membros da Mesa do Senado.

Inquirido a respeito, Sarney disse que foi voto vencido. E fez piada. Disse que, preso, não pediria cigarros, porque não fuma.

Vem aí o Natal. Depois, o Carnaval. Ou o STF toma uma providência ou suas decisões, por carnavalizadas, terão o peso de uma sentença de Papai Noel.

Para os senadores, decisão do Supremo, como o Carnaval da Bahia, pode ser esticada.

Em Salvador, como se sabe, o folião se despede da festa da carne, se despede, se despede e a carne nunca vai embora.

Entre os baianos, o simbolismo da Quarta-Feira de Cinzas, dia em que a purgação acaba e começa a contrição, não vale.

No Senado, a simbologia da palavra final do STF, que marca o fim da festa e o início do acerto de contas, também não vale.

Escrito por Josias de Souza às 19h37

Nenhum comentário:

Postar um comentário