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Reportagem especial


Tradicionais cidades produtoras de café no Sul mineiro, Carmo de Minas e Cristina, mostram aos apreciadores da bebida os roteiros centenários e a cultura típica da região

TEXTO Erik Bernardes FOTOGRAFIA Ivan Padovani

A arte de cultivar café ganhou um aliado importante na porção mineira conhecida como Vale do Rio Verde, no Sul de Minas. O turismo rural é a mais nova iniciativa dos produtores das cidades de Carmo de Minas e Cristina, que apostam em roteiros turísticos por fazendas centenárias para demonstrar, na prática, por que os cafés especiais têm tanto valor.

A relação das duas cidades com o grão é histórica. As famílias tradicionais contam ao menos quatro gerações envolvidas no negócio e os investimentos demonstram que não pretendem parar por aqui. A Unique Cafés, com sede na pequena Carmo de Minas, cidade com pouco mais de 13 mil habitantes, opera desde fevereiro deste ano a Rota dos Cafés Especiais.




Em Cristina, com mais de 10 mil pessoas, situada a 22 quilômetros da primeira, a Pousada dos Noronha, tradicional família de cafeicultores da cidade, também faz seu papel na divulgação dos cafés especiais e organiza um roteiro semelhante, iniciado em 2008.

Os roteiros das duas cidades têm pontos similares, incluem desde a apresentação do visitante à lavoura de café, passam pela demonstração do beneficiamento e modos de preparo e terminam na degustação. Na prática, o turista entra em contato com todo o processo que origina o café, da planta à xícara. "É importante que o consumidor entenda que todas as etapas do processo são feitas com muito cuidado, inclusive o preparo da bebida", incentiva Francisco Lemos, gerente do roteiro cristinense.

A iniciativa dos produtores é válida e contribui para a educação do consumidor de café, além de guardar grande potencial turístico que pode colaborar para o desenvolvimento das comunidades que vivem da cafeicultura nas duas localidades. "Desde o começo da operação recebemos cerca de 350 pessoas", conta Marcio Meneses de Oliveira, profissional do turismo contratado para gerenciar a Rota dos Cafés Especiais de Carmo de Minas.


Almoço típico servido durante o passeio na Fazenda Santo Antônio.
A mineira Cidinha mostra seus deliciosos quitutes, para o deleite dos visitantes de Carmo de Minas.

CAUSOS, SABORES E PRÊMIOS

O objetivo dos dois roteiros é semelhante: difundir os cafés especiais e formar um mercado consumidor consciente dos processos de produção da qualidade. Na Rota dos Cafés Especiais, da Unique, o passeio começa por volta de 8h30, partindo de um dos hotéis da cidade. Guias uniformizados e treinados conduzem os visitantes para a Fazenda Sertão.

O primeiro ponto de parada é o Mirante Canaã, com vista para um grande cafezal e uma bela cachoeira. "Esse é um ponto de inserção do turista ao mundo do café. Aproveitamos a beleza natural do lugar para explicar também como o café especial se relaciona com o meio ambiente e o respeita", explica Marcio.

O caminho segue entre os cafezais, onde não raro é possível ver os trabalhadores na lida. Entre eles, no último mês de julho, estava Vitor, gerente da Fazenda Sertão. Uma parada para ouvir os "causos" desse trabalhador, com 65 anos de experiência na fazenda, é essencial. Entre os meses de junho e outubro, época de colheita, o visitante pode também provar os frutos maduros do café. Do Mirante Central, ponto de parada a 1.145 metros de altitude, os guias explicam sobre a rastreabilidade do produto. Desse ponto podem-se observar as divisões da lavoura, que possibilitam saber exatamente em qual área da fazenda foi cultivado o café que ele bebe.



Já o Mirante Casa da Árvore tem vista para uma lavoura com 90 anos de atividade. Do alto dessa estrutura de madeira, Hélcio Junior, diretor comercial da Unique, conta com prazer sobre a nota 95,85, conferida em 2005 ao lote de bourbon amarelo. "Esse cafezal tem quase cem anos e conseguimos um preço recorde, US$ 6.500,00. Tem gente que quer inclusive estudar isso; as lavouras mais antigas parecem dar os melhores cafés", orgulha-se.

Na parada seguinte, o terreiro de secagem, as diferentes maneiras de beneficiar o café podem ser acompanhadas de perto. Quando malfeita, essa etapa pode estragar grande parte da qualidade do grão, devido à fermentação.

A etapa seguinte promete conquistar o turista para o consumo dos cafés especiais. Na sede colonial, construída em 1891 por ancestrais de Hélcio Junior e transformada em um museu sobre a história da família, é feita a comparação entre as bebidas tradicionais e gourmet. O turista poderá sentir as características sensoriais de cada uma delas e tirar a própria conclusão. Na sala de jantar da fazenda, que mantém decoração colonial, um bom dedo de prosa - acompanhada de pães de queijo, queijo fresco, bolos e cafés preparados por talentosas cozinheiras, Cida e Cidinha - finaliza a conquista.

TARDE E JÁ DE MANHÃ CEDINHO

Na tranquila cidade de Cristina a experiência também é bastante completa. O ponto de partida é a aconchegante Pousada dos Noronha e o passeio dura cerca de oito horas. Tem início após o café da manhã e segue para um encontro com o espirituoso José Clenio Pereira, na sede da Fazenda da Pedra.

Mantida em estado impecável, a casa abriga cenário perfeito para as histórias da família contadas por Clenio. A visita à Fazenda da Pedra segue pela produção de cafés orgânicos e especiais, produzidos desde 2000. "Começamos com os cafés especiais quando vi um programa rural que falava sobre o assunto. Nem a Cocarive [Cooperativa dos Cafeicultores do Vale do Rio Verde] acreditava nisso, mas agora todo mundo quer", conta.

A parte seguinte do roteiro é o beneficiamento dos grãos e a torrefação do Café Cristina, na Fazenda Santo Antônio. Nesse ponto do passeio há também uma recepção que inclui um generoso almoço mineiro, preparado em fogão a lenha.

Um belo descanso em ambiente decorado com muito bom gosto é o preparo para conhecer a cidade de Cristina, onde o turista pode apropriar-se da história local. No final do passeio, ao entardecer, Francisco Lemos, que também é barista, faz uma apresentação de diversos drinques à base de café, inclusive dos tradicionais espresso, cappuccino e mocha.˙

DE CARMO DE MINAS percorre aproximadamente 7 quilômetros, dura 3 horas e meia e custa R$ 30,00 por pessoa se o turista for em carro próprio. No caso das vans, para grupos de 6 a 20 pessoas, cada um desembolsa R$ 40,00. Água para o trajeto, os cafés e o lanche estão inclusos na tarifa. Mais informações (35) 3334-1661. www.rotadocafeespecial.com.br



DE CRISTINA percorre um total de 22 quilômetros em cerca de 8 horas e meia. O custo do passeio é de R$ 60,00 por pessoa em carro próprio. Para aluguel de veículos o interessado deve entrar em contato com a Pousada dos Noronha. Estão inclusos na tarifa o almoço e a apresentação do barista ao final do dia. mais informações (35) 3281-1205 www.casaraodosnoronha.com.br

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