No Rio rouba-se tudo. Até os trilhos do trem

A prática da mais deslavada roubalheira está tão entranhada na paisagem do Rio de Janeiro que se poderia cunhar uma fase tipo Tudo se rouba nesta cidade (preferencialmente com a cobertura da polícia). Nesta segunda-feira a polícia botou as mãos numa quadrilha que se especializou em roubar nada menos do que trilhos de ferrovia.

Não é pouca coisa, mas ainda não é o pior: a bandidagem descobriu mercado promissor no tráfico de drogas (para fincar barreiras nas ruas das favelas e impedir a entrada da polícia), nos ferros-velhos de favelas e entre algumas construtoras (que, com grande vantagem de preço e qualidade do material, utiliza os trilhos nas fundações de prédios).

A investigação durou pelo menos seis meses até palmilhar todo o caminho do roubo entre a linha férrea e o destino final. No caminho havia um depósito, nas franjas da favela Fazendinha, onde os policiais encontraram mais de dois mil pedaços de trilho.

Ontem, quando deitou as garras na quadrilha, a polícia aprendeu uma carga avaliada em 500 mil reais em trilhos (seis quilômetros) arrancados do trecho São Gonçalo-Guaxindiba-Porto das Caixas, ramal até há pouco usado por composições de carga. Quatro gatunos foram levados para o xadrez.

A investigação continua para juntar algumas pontas. A primeira é que, ontem, o caminhão flagrado com a roubalheira tinha a escolta de um carro da Polinter com dois agentes. Levados para a delegacia disseram que estavam no curso de uma investigação paralela e secreta. Estranho. Quem faz investigação sigilosa com carro caracterizado como da polícia?

A segunda é descobrir se a quadrilha contava com funcionários da Cedae em seus, digamos, quadros. Os policiais descobriram que os trilhos eram serrados com uma ferramenta que pertence à Cedae e é usada para serrar tubulações de aço.

Penso eu: Tudo no sul maravilha é atrasado em relação ao Ceará. Aimprensa dá o maior destaque num boubinho besta de trilhos, seis quilometros, no interior do Rio de Janeiro. Eles não sabem que faz coisa de 25 anos, mais ou menos, roubaram um ramal inteiro de trilhos no interior do Ceará. Quando os milicos, irresponsavelmente, desativaram o Ramal da RFFSA de Sobral a Camocim, da noite pro dia sumiram quase cem quilometros de trilhos e invadiram o leito da velha verrovia com casas e pedaços de fazendas. Só não levaram as estações porque eram pesadas, mas foram ocupadas e até hoje muitas estão abandonadas. Vejam se arrumam novidades, gente.

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