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Resgate de um Padre cearense

Padre Correia, um sábio cearense
Wilson Ibiapina

Antigamente, uma coisa difícil no Ceará era estudar. As escolas de
nível eram para poucos. Cursos superiores só para os filhos das
famílias abastadas. A classe média descobriu que o caminho para
educar seus herdeiros passava pelos seminários e pelas escolas

militares. Toda família importante do estado tinha filhos militares ou
padres. Algumas chegavam ao privilegio de ter um filho militar e outro

padre. Muitos cearenses se destacaram como oficiais do Exército, da
Marinha e da Aeronáutica. Três foram marechais famosos: Juarez Távora,
Humberto de Alencar Castelo Branco, que foi presidente do Brasil e o
Marechal-do-Ar Casimiro Montenegro Filho – idealizador e fundador do
Centro Técnico Aeroespacial (CTA) e do ITA , Instituto Tecnológico de
Aeronáutica.
Mas o mais famoso militar cearense foi mesmo o general Sampaio. Filho
de Tamboril, Antônio Sampaio participou da batalha de Tuiuti, a maior
e mais sangrenta da história da América do Sul. À frente da Divisão
Encouraçada, se destacou na guerra do Paraguai, de onde voltou como
Herói Nacional..A sua atuação em campanhas de manutenção da
integridade do território nacional deu-lhe destaque e foi reconhecida
pelo então presidente Getúlio Vargas que, em 1940 o consagrou Patrono
da Arma de Infantaria do Exército Brasileiro.
Os que seguiram o caminho da Igreja Católica Apostólica Romana
também se destacaram. Não dá para contar o número de seminaristas As
escolas apostólicas de Tianguá, Baturité, Canindé e de outras cidades
preparavam os jovens para os seminários menores de Crato e Sobral e os
maiores de Fortaleza e Olinda.. Até hoje muitos padres cearenses
estudam em Roma, bem pertinho do Papa. O padre Januário foi meu
professor de latim. Padre João José Cavalcante, que detestava o 'bom
dia' de um aluno, ensinava história no Liceu e no Municipal. Frei
Tito Alencar, padre, intelectual, nascido no dia 14 de setembro de
1945, em Fortaleza, foi uma das mais importantes lideranças da luta

democrática que emergiu no Brasil contra o Golpe Militar de 1964.

Preso em 1969, por integrar uma rede de frades dominicanos que davam
apoio à resistência popular, Frei Tito foi brutamente torturado.

Séculos atrás, Padre José Antônio Maria Ibiapina andava pelo Nordeste
criando casas de caridades, igrejas, cemitérios e cacimbas dágua para
o povo matar a sede. Padre Bruno, em 1897 fundou o Instituto Cearense
de Humanidades para alunos de primeiras letras. Padre Cícero Romão,
fundou Juazeiro e ensinou o Nordeste a rezar. Padre Antônio Tomás, que

foi o Princípe dos Poetas cearenses. Dom Helder Câmara foi um dos

fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e defensor dos

direitos humanos durante a ditadura militar. Mas muitos dos padres


cearenses, cultos, empreendedores, não conseguiram o reconhecimento
público Agora mesmo, o jornalista Sebastião Nery, no seu livro de
memórias, que abrange 50 anos de história do Brasil, resgata um sábio
cearense, que poucos conhecem. É o padre José Francisco Correia. Nery
afirma que ele era um google: “jamais conheci outra pessoa que
soubesse tanto de tudo”, diz Sebastião Nery que foi aluno dele no
seminário de Amargosa, na Bahia: “Além do que ensinava, - diz o
jornalista em sua biografia- padre Correia sabia filosofia, teologia,
ciências, matemática, geometria, música”. Nery revela que em três anos
nunca lhe perguntou uma coisa sem a resposta. Esse homem, que Nery
apresenta em seu livro A Nuvem, nasceu em março de 1880,
em.Ibicuitinga, pequeno município que quando pertencia a Morada Nova
se chamava Areia Branca.. Ibicuitinga, na língua tupi também quer
dizer Areia Branca Estudou no seminário de Santa Teresa, em
Salvador, no Colégio Pio Latino-americano, em Roma. Doutorou-se em
filosofia na Universidade Gregoriana. Doutorou-se em teologia, estudou
música em Roma. Foi capelão do hospital baiano de Nazaré e vigário em
vários municípios baianos. Quando voltou para o Ceará nos anos 40 foi
saudado em Sobral por seus colegas e discípulos como “o mestre dos
mestres” José Francisco Correia, conta Nery, de 1945 a 1965, quando já
cego, voltou para Fortaleza, onde continou formando gerações que
jamais o esqueceram. Morreu no dia 25 de maio de 1966, aos 86 anos.. É
o jornalista Sebastião Nery com sua formação de seminarista que diz:
“Se o Ceará tivesse dado apenas padre Cícero e padre Correia, já
estava de bom tamanho.”

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