PRESSÕES DE TODA ORDEM

Carlos Chagas
Enquanto presidiu os Estados Unidos, John Kennedy costumava comentar a impossibilidade de governar sem pressões. Contestava políticos, sociólogos e filósofos que sustentavam dever os governantes agir à margem dos múltiplos e conflitantes interesses de grupos sociais dispostos ao seu redor. Governar é administrar pressões, dizia, com a ressalva de que as decisões deveriam estar voltadas para o bem-comum.

O presidente Lula deveria estar bem consciente dessa lição, depois de oito anos de governo. Ainda agora, descasca um pepino de vastas proporções. Em agosto aposenta-se por limite de idade o ministro Eros Grau, do Supremo Tribunal Federal. Será preciso nomear o seu sucessor, de preferência o melhor jurista de reputação ilibada e alto saber. O diabo é que as pressões sucedem-se sobre o Lula como as ondas do mar batendo na praia, mesmo sem conotações mal-sãs.

O ex-ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, é hábil conselheiro presidencial e tem um candidato. O atual ministro da Justiça, outro. O ministro das Defesa e ex-presidente do Supremo, Nelson Jobim, um terceiro. O ex-presidente José Sarney, um quarto. Sem esquecer o Superior Tribunal de Justiça e a maioria dos atuais integrantes do Supremo Tribunal Federal, com mais dois. O PT também dispõe de uma preferência.

Qualquer solução que o presidente Lula escolher determinará amuos e ressentimentos, mas fazer o quê? Impor imperialmente o novo ministro, sem ouvir ninguém, será um risco. Esperar consenso ao seu redor, um sonho. Imaginar eleição pára a mais alta corte nacional de justiça, um pesadelo.John Kennedy tinha razão.

Carlos Chagas é jornalista e meu amigo

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