
FIM da era Tasso Agora é cuidar dos netos
O senador, no dia seguinte ao pleito que sacramentou a sua derrota, anuncia que não voltará a disputar eleições, depois de 24 anos de mando e desmandos no Ceará.
No dia seguinte ao pleito que determinou o fim de sua carreira política, o ainda senador Tasso Jereissati (PSDB) convocou a imprensa e anunciou que não voltará a disputar eleições. “Essa é uma decisão que foi dada primeiro pela população e, em seguida, por mim”, disse ele em entrevista coletiva concedida, ontem, no seu escritório em Fortaleza, na Aldeota.
O tucano obteve o terceiro lugar na disputa pelas duas vagas no Senado, com 23,7% dos votos válidos, ficando atrás de Eunício Oliveira (PMDB), que obteve 36,3% dos votos, e José Pimentel (PT), com 32,3%. “Não me arrependo nem um minuto das decisões que tomei. Sabíamos que seria uma campanha muito difícil. Resolvemos assumir os riscos e acho que fizemos muito bem”, avaliou Tasso, ao lado de Marcos Cals, candidato tucano ao governo, e o vice Pedro Fiúza. “Como diria São Paulo, combati o bom combate”.
Ele recordou a frase dita durante a convenção estadual do PSDB, realizada em junho último. “Perco a eleição, mas não perco minha história. Essa é a frase que resume minha campanha”. Doravante, Tasso pretende estimular o surgimento de uma nova geração de políticos capazes de fazer frente ao que classifica como “retrocesso político” no Ceará. “Hoje, o poder de cooptação pela máquina está sem igual”. Para o tucano, esse estado de coisas se sobressai quando se observa a bancada eleita para a Câmara dos Deputados. “É uma das piores bancadas federais da história do Ceará. Dificilmente vocês vão encontrar uma bancada de tão baixa qualidade, tão sem história, sem compromisso e sem biografia”.
CIRO MUDOU
Já sobre o governador reeleito, Cid Gomes e seu irmão Ciro, ambos do PSB, Tasso disse que é “totalmente oposição ao tipo de política que a família Ferreira Gomes está fazendo no Ceará. Eles estão levando o Estado a um retrocesso político inimaginável”. Indagado se estaria decepcionado com Ciro, Tasso desabafou. “As pessoas mudam com o tempo. O poder é encantador. Ele [Ciro] não é nem sombra daquele jovem idealista de 25 anos atrás”.
Sobre a situação político-partidária cearense, Tasso disse que “este governo precisa de oposição. Este governo perdeu os limites do poder público, do que é publico e o que é privado”. O senador também desferiu críticas à gestão governista. “O povo do Ceará está sendo enganado. Não existe refinaria, não existe sequer projeto de refinaria. A siderúrgica está parada desde a pedra inaugural. O metrô de fortaleza está parado, e toda informação que gira é como se isso tudo estivesse acontecendo”.
ENGAJAMENTO POR SERRA
Na entrevista, Tasso anunciou uma meta urgente e de curto prazo: contribuir para a vitória de José Serra (PSDB) no segundo turno presidencial. “Ainda tenho forças para lutar pela eleição do Serra. A política no Brasil acanalhou-se completamente, e não tenho dúvida de que o presidente Lula é um dos responsáveis por isso. A corrupção banalizou-se. Se continuarmos nessa progressão, teremos problemas muito sérios”, analisou.
Para Tasso, a ida de Serra ao segundo turno mostra um despertar da população para o rompante autoritário do governo Lula. “Essa campanha parecia resolvida e não estava. Uma série de fatores aconteceu. Acho que o Brasil ficou com medo, principalmente as pessoas que acompanham a política mais de perto”. Entre esses temores, o tucano citou “uma sensação de chavismo”, em referência ao governo de Hugo Chávez na Venezuela, o vislumbre de um “poder autoritário e intolerante” e o enfraquecimento das instituições republicanas.
O tucano disse ainda que a “fraqueza” de Dilma Rousseff (PT) foi se revelando ao longo da campanha, sobretudo quando ela se apresentava desacompanhada de seu célebre cabo eleitoral. “Quando ela se descola do Lula, ela aparece como é. A meu ver, Dilma não tem a menor condição de ser presidente da República. Nem condição psicológica”.
Esperança em Serra
Tasso pretende usar o segundo turno para mostrar aos cearenses os feitos de Serra em benefício do Estado, quando de sua gestão como ministro do presidente Fernando Henrique Cardoso. “Não me lembro de um ministro que tenha prestado mais serviços ao Ceará, nos últimos 10 anos, do que o presidente Serra. Vamos levar isso à população”.
O senador disse ter esperança de que Serra ganhe o apoio expresso da candidata do PV, Marina Silva, terceira colocada na eleição presidencial e dona de cerca de 20 milhões de votos. No entender de Tasso, ela partilha com o PSDB a aversão ao sistema de cooptação que teria sido impulsionado no governo Lula. “A Marina tem muito a ver conosco nesse sentido. Eu a conheço bem, foi minha colega no Senado. Ela tem horror a esse sistema que está aí. Por essa afinidade, tenho uma expectativa muito grande de que ela venha nos apoiar”.
Tão firme é o compromisso com o presidenciável que Marcos Cals anunciou uma sugestão drástica a ser em breve apresentada à executiva estadual do PSDB: a expulsão de quem não se juntar à missão. “Quem não estiver integrado à campanha do Serra será convidado a se retirar do partido”, antecipou.
Orgulho dos netos
Ao fim da entrevista, Tasso foi instado a definir seu legado político. “Olha, eu não morri não, hein?”, brincou o senador, terminando o pensamento numa nota séria. “Tenho certeza de que meus netos, quando lerem a história do Ceará, vão se orgulhar de mim. Vão se orgulhar inclusive desta campanha. São 25 anos dedicados ao Ceará”.
Agora o Serra ganha.Com o apoio que o Tasso promete, vai virar o jogo aqui no Ceará e no resto do País.
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