A eleição da vaca
Nesta eleição, uma das palavras mais repetidas foi “avacalhamento”. E seus sinônimos. Foi usada em abundância em relação ao palhaço Tiririca, por exemplo. Não por sua candidatura a deputado, em si legítima, mas por seu discurso (“vote em Tiririca, pior do que está... não fica”), que reduz ainda mais a Casa Legislativa — como se diz em Frei Paulo — a cocô do cavalo do bandido.
Mas, em defesa do palhaço, diga-se que o achincalhamento nesta eleição já começou com a Lei da Ficha Limpa. Até Paulo Maluf conseguiu registro de candidato. Convidado a tirar dúvidas sobre a aplicação da Lei, o STF deu uma de Chacrinha, como lembrou Elio Gaspari, quando dizia: “Eu vim para confundir, não $explicar.” A indefinição dos juízes põe o Congresso sub judice. Ainda em agosto do ano passado, o “sr. Ibope” Carlos Augusto Montenegro pôs em ridículo a comunidade das pesquisas ao dizer que o PT estava em decomposição e que Lula não ia conseguir transferir votos para Dilma. Já Serra esculhambou o sentido da palavra oposição (que, segundo o “Aurélio”, significa “partido(s) político(s) contrário(s) ao governo”) ao iniciar sua campanha com elogios ao... governo.
Lula avacalhou o que seu amigo Sarney chamava de “liturgia do cargo”. Presidiu sua própria sucessão no palanque. Fez mais comícios do que Dilma — e, na reta final, cego pelo sucesso, perdeu as estribeiras.
Ancelmo Góis é jornalista
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