As Sem Razões dos Amantes


THEÓFILO SILVA
O amor romântico parece estar fora de moda. Mas só parece. As desilusões continuam fazendo parte da vida dos amantes e, por mais dolorosas que sejam, homens e mulheres, machucados e feridos, continuam insistindo em amar. Para muitos, é melhor continuar tentando encontrar “a outra metade” do que viver sozinho.
Shakespare falou sobre o amor mais do que qualquer outro autor antes ou depois dele. São muitos os amantes em suas peças, mas se eu tivesse que escolher uma personagem de Shakespeare para falar sobre as sem razões do amor, eu escolheria Rosalinda, a mulher mais brilhante criada pelo Bardo.
Rosalinda é uma jovem princesa que conhece o homem de sua vida durante uma luta. O jovem é Orlando, bonito, rústico, e sincero, que ao vencer seu oponente conquista também o coração da bela Rosalinda. A história se passa na peça “Como Gostais”.
Mas, como diz Shakespeare, “O amor nunca encontrou curso fácil... Seja por diferença social ou de idade...” Porque “As uniões podem ser fugazes como uma sombra, breves como qualquer sonho, rápidas como um relâmpago...” Mas, que “Devemos tudo suportar com paciência, porque é uma cruz habitual, tão inerente ao amor como os devaneios, as ilusões, os suspiros e as lágrimas, triste cortejo da fantasia”.
E não é mesmo fácil o curso do amor de Orlando e Rosalinda. Ambos são desterrados pelo Duque de Milão e, em momentos diferentes vão morar no interior do país. Rosalinda, acompanhada de sua prima Célia e do Bobo Touchstone, fica espantada quando chega à floresta, e lá encontra poemas apaixonados, pregados nas árvores, dedicados a ela. É Orlando que, sofrendo de paixão, declara “aos quatro ventos” o seu amor pela jovem. É aí que Rosalinda mostra toda sua inteligência, e resolve testar e educar Orlando, para ver até onde irá o seu amor por ela.
Rosalinda sabe que os homens são inconstantes e arrebatados quando apaixonados e, como primeiro teste, faz com que ele se comprometa a vir todos os dias a sua casa e cortejá-la. Passa literalmente a treinar Orlando a amá-la, o que o deixa desesperado. Para ela, ele não pode atrasar um minuto num compromisso de amor: “Suspirando de minuto em minuto e gemendo de hora em hora” os amantes devem “marcar a marcha preguiçosa do tempo, tão bem quanto um relógio...”
E mais, o verdadeiro apaixonado deve ter: “o rosto magro; olhos fundos, circundado por olheiras azuis; espírito pouco comunicativo: barba descuidada; estar desalinhado; mangas desabotoadas: sapatos desatados e tudo o mais mostrando desolação”. E que, Orlando não tente enganá-la, porque as “mulheres estão mais dispostas a deixar-se convencer do que a confessar-se convencida. É um dos pontos em que as mulheres sempre desmentem as próprias consciências”.
E que um tio dela muito experiente disse que, o enamorado, de início, deve representar um papel e que, às vezes, devem mostrar-se: “taciturno, efeminado, mutável, caprichoso e exigente, altivo, fantástico, frívolo, ligeiro, inconstante, cheio de lágrimas, cheio de sorrisos, inclinado a todas as paixões, incapaz de uma só paixão verdadeira, pois, rapazes e moças são, em sua maior parte, gado desta espécie”.
E, mente, dizendo que já maltratara um namorado, agindo assim: “que, ora gostava dele, ora o execrava: tão depressa o mimava como renegava: às vezes chorava por causa dele e outras vezes nele cuspia...”.
Depois de vários percalços, Orlando passa em todos os testes, conquista o amor de Rosalinda e casa-se com ela.

A moral da história é a seguinte: “Se não te lembras das menores tolices que o amor te levou a fazer, é que jamais amaste”.

Theófilo Silva é articulista colaborador da Rádio do Moreno.

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