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46 anos de cadeia pro ex-capitão matador de Iguatu


O ex-capitão da Polícia Militar Daniel Bezerra foi condenado a 46 anos de prisão, em regime inicialmente fechado. Após 15 horas de cansativo julgamento, a sentença foi anunciada pela juíza Danielle Pontes de Arruda Pinheiro as 1h42min de hoje. Quatro anos, oito meses e 22 dias após o crime, o réu foi condenado por homicídio duplamente qualificado por motivo fútil. Pais, familiares e amigos das vítimas aplaudem o anúncio da juíza e se abraçam em choro coletivo. Defesa diz que vai recorrer da decisão. A sessão, que foi marcada por muita emoção da parte dos pais, familiares e amigos dos jovens assassinados, começou por volta das 10 horas de ontem, 7, e estava prevista para terminar após as 22 horas.
O júri teve início com o depoimento das quatro testemunhas indicadas pela acusação: o agricultor Janiclerton Alves de Melo, que estava próximo à churrascaria no dia do crime, o churrasqueiro José Cláudio Alves e os garçons Carly Orlland Gomes de Oliveira e Rigoberto Ferreira, que trabalhavam no estabelecimento. Foram ouvidas também cinco testemunhas de defesa: o major Saimon Queiroz Santos, o subtenente Francisco Wellington Pereira de Oliveira, o tenente-coronel Geovanni Alcoforado, o sargento Antônio Cleudo da Silva Sena e o cabo Horácio Carlos de Almeida.
O depoimento do réu começou por volta das 18h20. Depois vieram os debates orais com as manifestações da acusação, representada pelo promotor de Justiça Francisco Marques Lima e pelo advogado Paulo Quezado, e da defesa, patrocinada pelo advogado Delano Cruz. O júri foi presidido pela magistrada Danielle Pontes de Arruda Pinheiro, titular da Vara.

Durante o interrogatório, Daniel respondeu as perguntas de forma tranquila e enfatizou, por várias vezes, que os disparos efetuados por ele foram em legítima defesa, sem intenção de matar. Ao finalizar seu depoimento, o ex-capitão foi interrogado pela acusação, mas rebateu, invocando seu direito constitucional de permanecer calado e não responder as perguntas. Após permanecer calado durante 20 perguntas realizadas pela promotoria, o ex-capitão respondeu de forma indireta alguns questionamentos dos promotores e falou sobre lesões sofridas e comprovadas pelo exame de corpo delito.
Depoimento
Durante seu depoimento, o ex-capitão afirmou que tudo teve início quando ouviu gritos de sua enteada, que estava dentro do carro, e viu sua esposa sendo empurrada por uma das vítimas. O acusado destacou que entrou em luta corporal com um dos estudantes e frisa que ele lhe deu uma gravata por trás, com o intuito de lhe sufocar. Ainda de acordo com o ex-policial, após tomar a arma que estava em poder das vítimas, ele efetuou os disparos. O acusado afirma que sua arma estava dentro do carro e explica que, após se evadir do local, ligou para o 190 assim que possível.

O CASO
De acordo com a denúncia do Ministério Público estadual, as vítimas foram assassinadas na madrugada de 17 de março de 2007. Segundo testemunhas, Marcelo foi urinar próximo ao carro de Daniel Gomes. No veículo estava a enteada do policial. A acusação afirma que, ao ver a cena, o PM foi tomar satisfações e atirou no abdome do estudante. Leonardo saiu em defesa do irmão e também acabou baleado. As vítimas foram socorridas, mas não resistiram.

No mesmo dia, o acusado apresentou-se à Delegacia de Jaguaribe e confessou o duplo homicídio, alegando legítima defesa. Afirmou que a arma usada foi tomada de um dos universitários e que ele atirou apenas para se defender das agressões dos estudantes. Daniel Gomes Bezerra encontra-se preso no Batalhão de Choque da Polícia Militar, na Capital. Em maio de 2010, após procedimento administrativo, foi expulso da PM.
Manifestações agitam
Fórum Clóvis Beviláqua
Durante todo o dia de ontem, a movimentação na entrada do Fórum Clóvis Beviláqua foi muito maior do que nos outros dias. Faixas, fotos e pedaços de papel na calçada lembravam sempre, de alguma forma, o duplo homicídio ocorrido em março de 2007. Cartazes pedindo justiça e protestando contra a violência ocupavam espaços na entrada do prédio do Fórum, perto do duplo retrato, colocado em um ponto estratégico para que, quem não foi autorizado a entrar para acompanhar de perto a sessão, tivesse como sentir a situação.

Até quem não tinha contato com os dois universitários mortos falaram do assunto. “Qualquer um ficaria extremamente chocado com o que houve com os dois rapazes”, disse a estudante Elisa Vasconcelos, que mora nas proximidades do Fórum. “Acho que a violência diminuiria nas pessoas se houvesse mais espaço para educação e segurança”, afirmou um funcionário púbico. Os irmãos João Paulo e Antônio Frederico Pereira tentavam acompanhar de perto o julgamento, mas desistiram.


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