PMDB foge ao controle de Temer e inaugura um movimento de questionamento à aliança com PT



O grupo político de Michel Temer difunde há dois dias a seguinte informação: o vice-presidente da República teve ciência prévia do manifesto de autoafirmação que o PMDB planeja divulgar na próxima terça-feira. É falso.
Trombeteia-se também a versão segundo a qual Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB na Câmara e principal aliado de Temer, autorizou os deputados da legenda a acomodarem seus jamegões no abaixo-assinado que acompanha o documento. É lorota.
O texto foi urdido à revelia do vice-presidente e do líder. A dupla não dispõe nem de cópia do manifesto. Deve-se a indelicadeza a uma razão simples: Temer e Henrique Alves não mexem o caldeirão em que ferve a revolta do PMDB. Eles são parte do caldo.
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Nada menos que 59,3% dos deputados federais do PMDB –45 dos 76 membros da bancada— firmaram o manifesto. Para aguçar o interesse e aumentar o suspense, cuidaram de vazar apenas trechos da peça.
Os signatários reclamam “da relação desigual e injusta” que se estabeleceu no governo de Dilma Rousseff entre o dois sócios majoritários da coligação governista. Ao PT, os bônus do poder. Ao PMDB, os ônus.
Anota-se que “é visível o esforço do governo para fortalecer o PT”. Realça-se que o PMDB é empurrado nas eleições de 2012 para uma “encruzilhada”. Vê-se ameaçado numa de suas mais vistosas trincheiras: a máquina municipal.
Os sublevados escrevem a alturas tantas: “[…] O PT se prepara com ampla estrutura governamental para tirar do PMDB o protagonismo municipalista e assumir seu lugar como o maior partido com base municipal no país.”
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A banda dos descontentes atribui a voracidade do petismo à inapetência de Temer e Henrique Alves. O primeiro evitaria reagir para não prejudicar o projeto pessoal de manter-se na vice em 2014. O segundo aceitaria desaforos para não comprometer o plano de virar presidente da Câmara em 2013.
Para o pedaço do PMDB que risca o fósforo, a sobrevivência política da legenda e de seus filiados está acima das ambições pessoais de Temer e Henrique Alves, eis o recado que se esconde nas entrelinhas do manifesto.
Cobra-se uma reação da caciquia da legenda contra o que a tribo considera ser a principal ameaça de 2012: o avanço do projeto do PT de tornar-se uma legenda hegemônica, convertendo o PMDB de elefante adormecido em cordeiro irrefletido.
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Tomado pelo texto de seu manifesto, o PMDB de pavio aceso ataca mais o PT do que o governo. Considerando-se o subtexto, o documento representa uma trinca na unidade que levou Temer à chapa de Dilma Rousseff na sucessão de 2010.
O PMDB imaginava que a presença de Temer no Planalto o levaria da segunda para a primeira classe do governo. Hoje, disseminou-se na legenda a percepção de que ocorreu o oposto. O PMDB enxerga-se no porão.
Sob Lula, o partido não tinha o vice e controlava pastas com orçamentos polpudos –Integração Nacional e Comunicações, por exemplo. Sob Dilma, ganhou a vice e perdeu as principais caixas que geria na Esplanada.
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Vai a 2012 sem as verbas. E o PT tenta retriar-lhe também o verbo. Um dos operadores da rebeldia menciona o caso de São Paulo. Ali, Michel Temer empina a candidatura do deputado Gabriel Chalita. Lula tramou retirá-lo da raia.
Chegou aos ouvidos da direção do partido a reprodução de um diálogo privado no qual Lula disse algo assim: ou o PMDB apoia Fernando Haddad (PT) em São Paulo ou pode não haver Michel Temer na chapa de 2014.
O caso de São Paulo é citado pelos insurretos por ser o mais eloquente. Está longe de ser o único, contudo. O cerco do PT ao PMDB repete-se em várias outras praças. A matéria prima de que é feita a reação é o instinto de sobrevivência.
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Um dos integrantes da tropa rebelde resume a encrenca: “Se o PMDB tivesse um nome em condições de disputar a presidência da República, a coisa estourava. Como não tem, o partido está mandando um aviso: a situação não está tranquila.”
No manifesto, o grupo pede a convocação de um encontro partidário para 25 de abril. Deseja-se reorientar a atuação do PMDB, devolvendo-o ao primeiro plano da coligação no curto prazo ou aproximando-o da porta de saída no longo prazo.
Simpático ao movimento, Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Lula e atualmente vice-presidente da Caixa Econômica Federal, soltou fogos no twitter: “Tô feliz de ver o meu PMDB se movimentando. Gosto de fazer política e o manifesto da bancada nos põe a fazer política.”
Adversário do PT na Bahia, Geddel como que alfineta Henrique Eduardo Alves numa segundanota: “Um partido como o PMDB não pode ter como projeto eleger o presidente da Câmara…”
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A distância entre as eleições de 2012 e a sucessão de 2014 impõe à situação criada pelo manifesto do PMDB uma certa ponderabilidade cômica. O partido fica na condição do sujeito que diz que vai quebrar a cara do outro, mas demora tanto a levantar os punhos que compromete a seriedade da cena.
Antes do derramamento de sangue, Michel Temer terá tempo para buscar uma solução diplomática. Seja qual for o resultado, a trinca permanecerá aberta. A rachadura não afeta apenas o PMDB. Alcança praticamente toda a coligação –do PCdoB ao PR.
Se Dilma chegar a 2014 com os atuais 70% de popularidade, o pragmatismo fisiológico tende a disfarçar as rachaduras. Do contrário…
Isto aí está no blog do josias.

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