A violência ganhou nome em ingles:Bullying. Até no Henrique Jorge


BULLYING - Brincadeira na escola acaba em espancamento
Uma fotografia e declarações maliciosas motivaram o espacamento de dois alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professor Paulo Freire, no Henrique Jorge

SARA OLIVEIRA
saraoliveira@oestadoce.com.br

“Se me xingar eu dou um murro, se falar da minha mãe eu dou um murro. É só assim que resolve”. A declaração é de um garoto de 13 anos, que acabava de sair da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (E.E.F.M) Professor Paulo Freire, no bairro Henrique Jorge. Na quarta-feira (30), dois alunos foram gravemente agredidos por outros estudantes daquela instituição.
O motivo seriam declarações maliciosas sobre uma fotografia, ação que teria contado com a participação do professor de Educação Física.
Os insultos foram proferidos dentro da escola e acabaram em espancamento a alguns quarteirões do local. “Alguns alunos estavam fotografando e fazendo brincadeiras com outro aluno [um adolescente de 14 anos] e, pelo que senti, o professor pode ter feito insinuações maliciosas”, contou o coordenador da Superintendência das Escolas Estaduais de Fortaleza, ligada à Secretaria de Educação do Ceará (Seduc), José Célio Pinheiro. Conforme ele, dois jovens de aproximadamente 17 anos foram os autores da agressão contra o estudante insultado e um colega que tentou o defender.

Durante a tarde de ontem, enquanto representantes da Seduc estavam em reunião dentro da escola, alguns alunos perambulavam pelas ruas do entorno. As declarações dos jovens, que tinham entre 13 e 15 anos, ajudam a entender como uma brincadeira acabou levando um garoto a ser internado no Instituto Dr. José Frota (IJF) e outro, encaminhado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA). “Se fosse comigo, faria do mesmo jeito”, disse Carlos, 12. Outro adolescente acrescentou: “Tem que ter muito cuidado quando for tirar brincadeira, porque às vezes é muito pesado e acaba em pancada mesmo”.
A motivação para o espancamento partiu de uma simples fotografia e da ameaça de publicá-la no facebook. A mídia social, segundo os jovens, é um instrumento para a efetivação e propagação de insultos. “Tem gente que cria perfil falso, de um ator famoso, e adiciona o pessoal do colégio. Depois, começa a fazer xingamentos de tudo quanto é jeito”, explicou uma garota que não quis se identificar e afirmou ter sido alertada para não dar entrevistas à imprensa.
PROFESSOR ENVOLVIDO
O professor que teria incentivado o bullying (termo para agressões verbais e físicas) é concursado do Governo do Estado e cumpre estágio probatório de três anos. De acordo com Célio Pinheiro, a acusação ao docente partiu da família do aluno agredido e, a partir de hoje, outros professores e os pais dos alunos envolvidos começarão a ser ouvidos pela Seduc. “Estamos levantando informações, porque ainda há muita controvérsia sobre a origem do problema. Caso seja confirmada a participação do professor, vamos abrir processo administrativo”, contou o coordenador.

A escola que leva o nome de um dos mais importantes educadores brasileiros – Paulo Freire - oferece vagas do 7º ao 3º ano e é espaço educacional para aproximadamente 680 alunos e 50 professores. Célio destacou a existência de programas que incentivam a cultura de paz entre os alunos e o acompanhamento periódico dos estudantes pelos professores. “São dois projetos que dão resultados, apesar da interferência do entorno. A violência vem de fora para dentro”, avaliou Célio.
O aluno que sofreu o bullying ainda está em observação no IJF e, por ter sofrido várias escoriações na cabeça, precisou fazer uma tomografia computadorizada e aguarda orientações de um neurologista. O amigo que também foi agredido e esteve na UPA voltou para casa no mesmo dia.
A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA
“Bullying é a falta de respeito em decorrência da negação da formação. A escola não é um local apenas para o repasse didático, é para o aprendizado de vida com a sociedade”, afirmou o doutor em Educação e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jacques Thërrien. Ele explica que o aprendizado acontece não apenas através dos livros, mas também na relação com pessoas, nos debates, discussões e compartilhamento de ideias. “É isso que deve acontecer dentro da escola. A partir do momento que casos como esse acontecem, vê-se que este real aprendizado não existe”, analisou.

Para o professor, o bullying acontece quando as pessoas se conhecem como objetos que incomodam e, portanto, são difamados. O envolvimento de um educador em um caso como o da E.E.F.M Professor Paulo Freire demonstra a desestrutura da Educação. “Sendo um professor de Educação Física é ainda mais sério, já que a disciplina tende, muitas vezes, a despertar o acirramento da competição entre os alunos”, destacou Jacques Thërrien.

Nenhum comentário:

Postar um comentário