Opinião de Eliakin Araujo, desde Miami
Enterrando fantasmas
Pouco a pouco, a sociedade estadunidense vai enterrando um de seus
maiores fantasmas, o racismo. Aqui e ali, sobrevivem ainda focos de
setores radicais, políticos ou não, que resistem em aceitar a
convivência igualitária de negros, hispânicos, asiáticos e outras
minorias. Mas esses setores estão cada vez mais isolados e,
identificados, não encontram espaço para se expandir a nível nacional e,
se alguma força ainda têm, se limitam a apoiar as figuras mais
conservadoras do Partido Republicano.
Na semana que passou, dois pequenos eventos, não devidamente explorados pela mídia, confirmam este comentário.
O primeiro deles vem do escritório do Censo dos EUA, quando o chefe
do setor de estatísticas, Nicholas Jones, anunciou que a palavra
“negro”, usada opcionamente no formulário do recenseamento para
caracterizar/identificar o negro estadunidense, será retirada a partir
do próximo ano.
No modelo atual (veja na foto acima), a classificação “negro” aparece
ao lado das opções “black” e “african-american”. Segundo o
funcionário, no novo formulário permanecerão apenas estas duas últimas e
a classificação “negro” desaparecerá, por ser considerada ofensiva e
lembrar o triste período da segregação racial no país.
Usada pela primeira vez no censo de 1900, a expressão “negro”
tornou-se a forma mais comum de se referir aos negros durante a maior
parte do início do século 20, numa época de desigualdade racial e
segregação. Com o movimento dos direitos civis dos anos 1960, os
militantes negros passaram a rejeitar a expressão “negro”, que foi
mantida no formulário do Censo, entretanto, mesmo após a classificação
“black ou african-american”.
Parece pouco, mas este é um reflexo da mudança dos tempos, no país
que elegeu e reelegeu um presidente fora dos padrões normais de uma
sociedade extremamente conservadora. Para os mais jovens afro-americans,
o termo “negro” remonta à época em que os negros eram considerados
cidadãos de segunda classe nesse país.
Conectado ao mesmo tema, vale destacar uma frase do discurso de
Barack Obama na semana passada, quando foi inaugurada no Capitólio uma
estátua de Rosa Parks, uma heroína dos direitos civis nos Estados
Unidos: “eu jamais teria virado presidente não fosse a coragem dos ativistas pelos direitos dos negros nos anos 1950-1960”.
Para quem não se lembra, ou não conhece a história da luta dos
ativistas pelos direitos civis nos EUA, vale destacar que Rosa Parks,
em 1955, corajosamente, se negou a ceder seu lugar a um branco em um
ônibus em Montgomery (Alabama), onde as leis racistas segregavam os
negros. Rosa foi presa pela ousadia de desafiar um branco, mas sua
prisão desencadeou um boicote de mais de um ano nos transportes públicos
do município, marcando o início da luta antisegregacionista nos EUA.
Hoje os visitantes do Capitólio, em Washington, poderão reverenciar a
memória de Rosa Parks (foto abaixo), a primeira mulher negra a receber
uma homenagem dessa gradiosidade, 50 anos depois da aprovação das leis
sobre direitos cívis nos Estados Unidos e 150 anos depois da declaração
de emancipação assinada pelo presidente Abraham Lincoln.
Rosa Parks, que morreu em 2005, aos 92 anos de idade, deixou “uma lição sobre como se produz uma mudança através de incontáveis atos de coragem, muitas vezes de cidadãos anônimos", como destacou Obama.
Não adianta! Na América só a duas opções: White or No White
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