Uso da biomassa pode salvar o cultivo caju do no Ceará
Contudo uma nova proposta pode reverter a dificuldade que assola os produtores. Na última sexta-feira, o Sindicato dos Produtores de Caju do Ceará (Sincaju) promoveu uma reunião com produtores e lideranças do setor - dos municípios de Ocara, Barreira, Chorozinho, Aracoiaba e Pacajus – no campo experimental da Embrapa em Pacajus. Na oportunidade, estavam presentes, ainda, representantes do Instituto Centec e Agropolos, além supervisor do campo experimental, Raimundo Nonato Martins de Sousa e do ex-deputado Antônio Jacó.
O diretor comercial da empresa Sucos do Brasil S/A, Luís Eduardo Figueiredo, que também esteve presente, observou que a iniciativa privada, bem como todos os demais envolvidos no setor de caju, no Ceará, estão muito preocupado com o descaso e a falta de ação, nos últimos 30 anos, na cajucultura.
PROJETO
A utilização da biomassa, até então sem destinação adequada após as podagens, foi o centro da reunião. Luís Eduardo apresentou aos presentes o interesse de dois investidores nacionais nessa matéria-prima, obtida dos cajueiros gigantes. O objetivo é a implantação de usinas térmicas, além do aproveitamento da madeira dos cajueiros gigantes, por meio da substituição paulatina e sistemática das atuais árvores por cajueiros de menor porte (anão). “Com isso, a área geográfica, antes tomada pelo cajueiro gigante, produzirá mais, de quatro a cinco vezes, com o cajueiro anão. Isso já está discutido e é viável. Todos sabemos que esse cajueiro anão produz uma quantidade maior e o produtor vai colher mais”, evidencia o Figueiredo.
Segundo ele, quando se faz o processo de poda, há um universo novo de produção de biomassa. À medida que se vai plantando o cajueiro anão, o produtor vai ter uma grande quantidade de poda que garante a continuidade de usinas. A priori, essa biomassa seria utilizada na produção de pallets e, a partir daí seria levado ao mercado de consumo, como setores industriais. A segunda opção, seria a utilização na produção de energia elétrica, através das usinas térmicas, tratada na reunião.
Em ambos os casos, essa madeira existente seria comprada pelos investidores. “O que a gente precisa, nesse momento, é fazer com que o plantio e que os produtores não desistam de vez e não se acabe até tirar o produto do conhecimento internacional. O nosso propósito é transformar o problema em solução, da baixa produtividade e baixo retorno econômico e financeiro do atual plantio do caju em biomassa e energia que, por sua vez, vai gerar emprego e renda no campo”, garante o diretor.
O diretor industrial da Sucos do Brasil S.A., Eugênio Figueiredo, por sua vez, apresentou os detalhes técnicos do projeto. Segundo ele, as empresas interessadas na biomassa dos cajueiros pretendem gerar, no mínimo, 10 MWh - equivalente à produção de 20 torres eólicas. “A intenção é de termos diversos pontos transformadores dessa biomassa, dando oportunidade a todos os produtores, tanto pequenos como grandes”, diz Eugênio, que prevê a instalação de cinco a sete usinas térmicas, em regiões produtoras, abrangendo os cajueiros localizados em um raio de 60 km. Segundo ele, é interessante, para a indústria, que todos estejam participando, já que há cerca de 90 produtores no Estado. “A produção de energia é o único calcanhar de Aquiles do Governo. A gente vê o interesse dele em novas fontes energéticas e é interessante ter essa opção”, observou Eugênio.
PRÓXIMOS PASSOS
A apresentação do projeto foi registrada em ata, que será apresentada aos investidores, constando a receptividade dos produtores e lideranças presentes à reunião. Em seguida, novas reuniões deverão acontecer juntamente com esses investidores, que discutirão uma pauta mais técnica, como a realização de estudos técnicos para a implantação do projeto no Estado.
Uma demanda levantada pelos produtores presentes, quando da realização do estudo técnico, foi o detalhamento do projeto quanto à viabilidade de transportes, valores a serem pagos pela biomassa aos cajucultores e garantias como a continuidade da compra e a substituição dos cajueiros. A previsão é que essa alternativa comece a ser implantada, no Estado, ainda no primeiro semestre de 2014.
LiderançaS destacaM o
fortalecimento do setor produtivo
Conforme o técnico do Instituto Agropolos, Gilber Washington, o instituto é um dos braços técnicos do Governo do Estado, que trabalha em conjunto dentro da estrutura Secretaria de Agricultura, desde a assistência técnica à formulação de políticas de incentivo ao produtor. Ele adianta que a manutenção do homem no campo é um objetivo que não se cessa e passa por projetos como esse e faz com que o homem veja que é viável morar no campo, produzir e ter uma economia e uma qualidade de vida sustentável. “O Governo tem todo o interesse de participar disso [projeto]”, ressaltou.
Ainda conforme o técnico, o início do projeto apresentado pode contribuir diretamente para o aumento da arrecadação do Estado. “De um lado tem-se uma empresa com recursos próprios, que já adentra recursos na economia cearense. Com esses recursos – mediante a compra dessa biomassa dos produtores, existindo essa comercialização – vai haver uma cadeia de transporte, produção e transformação da biomassa e geração de emprego. Com tudo isso vai haver um aumento substancial na arrecadação”, ponderou.
Para a técnica do instituto Centec e coordenadora do Comitê Gestor da Cajucultura do município de Barreira, Maria Luciene da Silva, como foi apresentado, o projeto vai trabalhar não só o fornecimento de biomassa, mas o fortalecimento do beneficiamento da castanha, do pedúnculo, do acesso ao crédito e mudas de melhor qualidade. “Quando trabalha-se todas essas atividades de forma conjunta, com certeza vai haver um impacto muito grande e positivo na atividade do produtor. Acredito que essa atividade, em si, vai, também, alavancar outros setores dentro da cajucultura”, ressaltou.
Contudo, ela reforça que é necessário o envolvimento de todos os produtores no processo. “Caso contrário, dificilmente, o projeto terá viabilidade, porque eles detêm a biomassa do caju e, por sua vez, as empresas detêm a tecnologia”, ponderou Luciene.
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