Especialistas dizem que adiamento de visita aos EUA foi acertado; oposição critica
Gil Alessi, Guilherme Balza e Larissa Baroni
Do UOL, em São Paulo e em Brasília
Do UOL, em São Paulo e em Brasília
Espionagem
americana - Documentos revelados pelo ex-consultor da agência de
inteligência americana Edward Snowden indicam que os EUA espionaram
várias pessoas e países, entre eles o Brasil. Reportagem exibida pelo
"Fantástico", da TV Globo, na noite deste domingo (1º), afirma que a
petista e seus assessores foram alvos de espionagem da Agência de
Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA). O objetivo da NSA era
"entender melhor" a comunicação da presidente com sua equipe. Luiz
Alberto Figueiredo, ministro das Relações Exteriores, foi aos EUA
conversar com a secretária Susan Rice, mas não ficou convencido das
explicações dos americanos Leia mais Jody Amiet/AFP
Para ele, no entanto, a decisão do adiantamento da visita foi acertada. Avaliação também feita por Alcides Costas Vaz, professor do Instituto de Relações Internacionais da UnB (Universidade de Brasília). "Foi um tom adequado à prometida resposta norte-americana sobre as denúncias de espionagem ao governo brasileiro", apontou. Na opinião dele, se a presidente mantivesse a agenda, demostraria certa indiferença em relação ao tema. "E isso, sim, que me parece inadequado."
"Ao tornar pública essa decisão, diante da opinião pública externa e interna, a presidente evidencia a preocupação brasileira com o fato da espionagem, além de expressar melhor essa inquietação", completou Vaz, que não classifica a medida como uma "pressão", mas, sim, como uma "tomada de decisão".
Como citou Zahran, também não foi uma retaliação aos Estados Unidos. "Retaliação seria se o governo proibisse que empresas norte-americanas participassem de licitações no país ou mesmo se o Brasil se recusasse a receber autoridades dos Estados Unidos", afirma ele, que relata que a questão tem um peso maior para o Brasil do que para os Estados Unidos. "O governo brasileiro não se sentiu satisfeito e os dois presidentes decidiram tomar essa atitude para que agenda bilateral não fique refém dessa decisão."
Mas, para Cristina Pecequilo, professora de relações internacionais da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o adiamento da visita não resolve o impasse entre os dois países. "Acho que ela [Dilma] deveria manter a viagem apesar da gravidade das acusações de espionagem. A visita de Estado seria uma boa oportunidade para resolver problemas na relação bilateral cara a cara", afirmou a especialista, que apontou que a decisão não terá impacto significativo nas relações entre os dois países. "Eu acho que do ponto de vista comercial e econômico não há nenhum impacto. Não é uma quebra de relacionamento desse ponto de vista", disse.
Apesar do adiamento da visita, o professor da UnB ressaltou a decisão de Dilma e Obama de não cancelar o encontro. "Manter esse encontro em perspectiva é importante para o desenvolvimento bilateral", disse Vaz. Mas, de acordo com Zahran, dificilmente a visita seja realizada ainda esse ano. "Diante da intensa pauta internacional --com reunião da ONU, crise na Síria e a agenda doméstica dos Estados Unidos-- não imagino que a viagem aconteça tão logo. Isso vai levar um tempo."
Repercussão no Congresso
O senador tucano Aécio Neves (MG), provável candidato à Presidência em 2014, criticou a atitude de Dilma. "Era a oportunidade de a presidente ter uma agenda afirmativa em defesa dos interesses do país. Ela opta, mais uma vez por privilegiar o marketing". Para Aécio, a presidente deveria ter mantido a viagem e cobrado explicações pessoalmente a Obama.O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) afirmou que o governo brasileiro faz "política de avestruz" ao adiar a visita oficial da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos.
"Não gosto de política de avestruz, que esconde a cabeça na areia para não saber o que se passa ao redor", afirmou o tucano. Para Alvaro Dias, se houve espionagem, o Brasil deveria insistir em pedir explicações ao presidente norte-americano, Barack Obama, e não adiar a visita.
"Cabe ao governo brasileiro enfrentar o problema, não fugir dele. Esse afastamento trará prejuízos econômicos ao país", disse o senador. "A viagem permitiria fazer um questionamento pessoal, frente a frente."
O tucano associou a desistência da viagem com que ele considera visão equivocada da diplomacia brasileira. "O governo brasileiro tem cometido equívocos diplomáticos sem fim. Essa decisão mostra que o Brasil substitui, em sua política externa, países economicamente avançados por países de terceiro mundo", criticou.
Já o senado José Agripino Maia (DEM-RN), vê na decisão um ato de "marketing político-eleitoral". "Não tenho nenhuma dúvida que por trás dessa decisão está um belo aconselhamento de marketing político-eleitoral."
O parlamentar, no entanto, afirmou que a decisão "tem o viés positivo de mostrar a estatura do Brasil diante da bisbilhotice".
Questionado, Agripino evitou afirmar qual deveria ter sido a atitude do governo frente às denúncias de espionagem. "Quem tem condições de avaliar se essa decisão foi correta, é a presidente. Não tenho o mesmo volume de informações que ela tem. Não quero fazer nenhuma censura."
O senador disse que outros países que teriam sido espionados, como México e Argentina, irão manter "intactas" suas relações com os norte-americanos, e que a suspensão da viagem por causar um "descompasso" nas relações comerciais entre os países.
"A não ida é uma afirmativa do Brasil. A posição dela [Dilma] está baseada em informações que não foram prestadas por eles. Por isso, é uma postura em defesa da soberania nacional", disse o senador Walter Pinheiro (PT-BA). "Mas é importante dar outros passos, como em relação à defesa do país, já que a vulnerabilidade do Brasil está além fronteiras", completou. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) concordou com o adiamento da viagem: "era o mínimo a ser feito".
Para o líder do PSDB, senador Aloysio Nunes Ferreira (SP), a presidente deveria ir aos Estados Unidos para cobrar pessoalmente os esclarecimentos e uma retratação sobre os fatos reportados. "Ela tem toda a nossa solidariedade no repúdio à espionagem dos Estados Unidos e de qualquer outro país. Agora, acho que ela deveria ir para dizer na lata, no Salão Oval [gabinete do presidente dos EUA na Casa Branca], que o Brasil não aceita esse tipo de coisa", disse o líder tucano. Ele também acha que o Brasil "se deixou espionar".

Nenhum comentário:
Postar um comentário