Opinião

Blanchard e a conversa fiada do FMI
Mauro Santayana

Na falta do que fazer com relação a certos países, o pessoal do FMI tergiversa como é o caso do economista-chefe da instituição, Olivier Blanchard. Blanchard anunciou, em palestra proferida na semana passada, em Nova Iorque, que os “investidores” estão preocupados com o Brasil, e os países emergentes irão “crescer menos” nos próximos anos, enquanto as “nações desenvolvidas” farão exatamente o contrário.

Por essa lógica peculiar, que costuma ser repetida à exaustão por certos meios de comunicação e revistas internacionais, projetam - em previsões que quase nunca coincidem depois, com os números reais - que os EUA vão crescer 2.9% este ano, e a China, 7.5%, ou seja, quase o triplo dos norte-americanos - e são os emergentes que estão deixando de crescer e os “desenvolvidos” que os estão ultrapassando.

Quanto ao Brasil, o economista afirma que os investidores estão “preocupados com o país”, citando problemas como a inflação – que está dentro da meta; as contas externas e as contas fiscais; e o superávit primário, que continua sendo cumprido. E não dá a mesma atenção ao fato de que importantes recursos, vindos de fora, voltaram ao Brasil, atraídos pelo aumento dos juros e pela Bolsa.

A mesma lógica diz que o México vai bem, e o Brasil vai mal, quando tivemos superávit no comércio com a China, no ano passado. Os mexicanos amargaram um déficit de 51 bilhões de dólares com os chineses. Nós crescemos 2.3% e o México, 1.2%.

É certo que temos tido problemas, principalmente em relação ao comércio exterior.

Mas Olivier Blanchard se esquece de que o FMI é mais relevante para os países que lhe devem dinheiro, do que para os que lhe emprestam, como é o caso do Brasil, credor da instituição desde a crise da Grécia em 2008; detentor da sexta maior reserva monetária do mundo; e quarto maior credor individual externo do Tesouro dos Estados Unidos.

O FMI já foi importante para o Brasil quando, na condição de credores - e de sétima maior economia do mundo - ainda tínhamos paciência e esperança nas reformas destinadas a dar maior peso aos países emergentes na organização.

Com o provável anúncio da constituição do banco dos BRICS, na cúpula presidencial que reunirá os presidentes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, em Fortaleza, em julho, o Fundo vai ficar, para o Brasil, ainda menos relevante.


Mauro Santayana é jornalista e meu amigo

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