Há quem use pesquisa pra se dar bem na eleição, porém...


“Pesquisa não projeta resultados futuros”, diz CEO do Ibope

No comando do instituto há 32 anos, Márcia está acostumada com questionamentos sobre o desempenho de pesquisas no pós eleição. Por isso, gosta sempre de lembrar que o Ibope, com seus números, conta histórias sobre as candidaturas
Marcia Cavallari defende que as pesquisas não são um oráculo
Desde que as pesquisas de boca de urna entraram em campo, no final da tarde do domingo, 5 de outubro, foi acionado o alerta: os institutos de pesquisas, supervalorizados nesta eleição, não tinham conseguido se aproximar da realidade apresentada depois de que cada brasileiro apertou a tecla CONFIRMA.
Sob questionamento, institutos defendem pesquisas
CEO de um dos principais institutos de pesquisa do Brasil, o Ibope, Márcia Cavallari sai em defesa dos resultados apresentados durante a eleição. “O objetivo da pesquisa não é projetar resultados futuros. Portanto, não há que se falar em disparidades”, afirma categoricamente.
No comando do instituto há 32 anos, Márcia está acostumada com questionamentos sobre o desempenho de pesquisas no pós eleição. Por isso, gosta sempre de lembrar que o Ibope, com seus números, conta histórias sobre as candidaturas, acompanha o comportamento do eleitorado, detecta tendências como mais uma vez aconteceu neste ano, após a entrada de Marina Silva na campanha.
“A pesquisa não é um oráculo, não dita a última palavra, não substitui a eleição. Ao longo das campanhas do primeiro turno, as pesquisas contaram a história de cada uma das campanhas, mostrando o crescimento, queda e viradas das candidaturas”, ressalva.
Veja abaixo a entrevista que ela concedeu ao site.
Congresso em Foco – O chamado “nível de confiança” induz a uma ideia de extrema eficiência, legitimidade. Mas, fixado em 95%, esse percentual não está muito alto, considerados os erros recorrentes?

Márcia Cavallari – O coeficiente de confiança é a probabilidade de que um intervalo, referente a uma amostra, inclua o parâmetro da população. O intervalo de confiança é construído a partir do erro amostral e do coeficiente de confiança. Toda pesquisa realizada através de amostragem faz estimativas dos resultados e o  nível de confiança é a probabilidade de que o parâmetro esteja dentro do intervalo de confiança. Sempre há uma probabilidade de que o intervalo de confiança não contenha o verdadeiro parâmetro da população. Esta é uma matéria técnica. O usual é trabalhar com nível de confiança de 95%.

As disparidades entre projeções e resultados abalam a credibilidade do instituto junto ao eleitorado?

O objetivo da pesquisa não é projetar resultados futuros. Portanto, não há que se falar em disparidades. A pesquisa mostra as curvas de tendências das candidaturas. A pesquisa não é um oráculo, não dita a última palavra, não substitui a eleição. Ao longo das campanhas do primeiro turno, as pesquisas contaram a história de cada uma das campanhas, mostrando o crescimento, queda e viradas das candidaturas. Se não fossem as pesquisas, ninguém saberia o que aconteceu ao longo do processo eleitoral.
Há hipótese de adoção de nova metodologia de pesquisas, ou algum trabalho em curso para aperfeiçoar a atual?

Toda eleição é um novo aprendizado e aprimoramentos metodológicos são feitos.
O Ibope considera que, com a quantidade e a frequência na divulgação das pesquisas, pode influenciar o resultado dos pleitos?

Não existem estudos conclusivos sobre a influência das pesquisas na decisão do eleitor, mas se sabe que elas são mais uma fonte de informação para o eleitor decidir seu voto. Fica muito difícil saber qual o efeito isolado que as pesquisas têm na decisão de voto do eleitor, uma vez que estão expostos a muitas outras fontes de informação: horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão, campanha de rua, matérias que a imprensa faz sobre os candidatos, debates, conversas com familiares, amigos, colegas de trabalho, etc. Além disso, o eleitor pode tomar várias atitudes com base na informação da pesquisa: pode votar em quem está na frente, pode votar em quem está em segundo colocado porque não gosta do primeiro colocado, pode votar branco/nulo, pode escolher aquele que, entre os que estão na frente, mais defende as idéias que o eleitor acredita etc. Não se pode dizer que o efeito, se existir, seja apenas em uma única direção, caso contrário, não aconteceriam as viradas que frequentemente ocorrem nas eleições.

Como o Ibope responde às insinuações de que manipula percentuais, a exemplo de outros institutos?

Todas as pesquisas realizadas pelo Ibope em mais de 72 anos de existência são pautadas em critérios técnicos da ciência estatística. Elas representam a população em estudo, pois todos os grupos sociais e as várias regiões geográficas aparecem na amostra em proporção muito próxima à da população pesquisada. Os resultados das nossas pesquisas refletem fielmente o que encontramos na interlocução com as pessoas que entrevistamos e independem totalmente dos interesses de quem nos contrata. Além do rigor estatístico, a empresa segue as normas ABNT NBR ISO 9001 e ABNT NBR ISO 20252 (esta última é específica para serviços de pesquisas de mercado, opinião e social), tem seus processos certificados pela ABNT e cumpre rigorosamente os códigos de autorregulação e ética da Esomar (associação mundial de profissionais de pesquisa).
Márcia Cavallari: Pesquisa não é infalível

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