Como vazou "o paciente atendido no chão" do IJF?


Roberto Cláudio considera “desumana” situação do IJF
CAMILA VASCONCELOS
Da Redação

O prefeito Roberto Cláudio visitou, na manhã de ontem, o Instituto Doutor José Frota (IJF), no Centro de Fortaleza. A visita aconteceu após denúncias publicadas nas redes sociais e divulgadas na imprensa, mostrando pessoas internadas nos corredores dos hospitais da cidade devido à falta de leitos, além de um paciente sendo atendido no chão da sala de reanimação do IJF.
 Em reunião com o superintendente da unidade, Walter Frota, e com a secretária Municipal da Saúde, Socorro Martins, o prefeito taxou a situação mostrada como “desumana, degradante, inapropriada e totalmente fora dos padrões de atendimento do hospital”, além de anunciar medidas para que o fato não volte a ocorrer. “Estive hoje no hospital para apurar, de perto, o acontecido e tomar as medidas necessárias. Para evitar que, em momentos de pico e urgência extrema, fatos como esse se repitam, o hospital já adquiriu 48 macas para reserva técnica; vai garantir a disponibilidade 24 horas de macas no pátio e vai também aprimorar o serviço de triagem de pacientes que acessam o hospital, caminhando ou não”, disse.

Falha no acesso
O prefeito não credita a situação no IJF à falta de macas e sim a uma falha no fluxo de processos, mas confirma o fato de que “as macas não estavam em local de fácil acesso na hora do ocorrido. A falha aconteceu no acesso à maca”. Segundo Roberto Cláudio, o IJF “tem mais de 200 macas”. Ele ressaltou, ainda, que “o caso representou uma exceção dentro do histórico de excelência no salvamento de vidas do IJF, que é referência para o Brasil em atendimento de urgência e emergência, politraumas, queimados e intoxicados”, disse, salientando que o caso foi pontual e único. “Apenas um paciente foi atendido de uma maneira desumana”.
Durante a visita, o prefeito, que também é médico, aproveitou para fazer uma visita ao paciente das fotos que foi atendido no chão da sala de reanimação do IJF no último domingo. “Visitei o paciente no seu leito. Ele continua internado, com quadro de saúde estável e evoluindo bem”, falou, acrescentando que foi identificado que o que houve foi “um erro no processo de acolhimento do paciente, que chegou à Sala de Reanimação sem estar numa maca. Houve, também, uma falha do processo de seleção, já que ele chegou à sala sem sequer passar pela triagem”.
No entanto, aproveitou o momento para exaltar melhorias no IJF. “Reduzimos, em dois anos, pela metade o número de pacientes sendo assistidos na sala de observação e corredores do IJF, que atende pacientes da Capital, do Interior e até mesmo de outros estados. Tivemos conquistas, mas temos muito que avançar e estamos trabalhando diariamente para isso”, concluiu.

HGF
Na edição de ontem, o jornal O Estado também noticiou sobre a falta de insumos obrigatórios para a realização de cirurgias, além do empréstimo destes materiais que o Hospital Geral de Fortaleza (HGF) fez ao Hospital Geral do Exército para não precisar adiar cirurgias eletivas e emergenciais demandadas na última sexta-feira (8).
“Para honrar o mapa cirúrgico, foi preciso pedir os insumos de outros hospitais de forma emergencial. A falta de materiais é um fato grave que veio acontecendo e culminou na semana passada. Pedimos para suspender as cirurgias eletivas até a normalização do abastecimento dos insumos, mas a Secretaria não aceitou. Na sexta as cirurgias voltaram ao fluxo normal porque parte do material foi reestabelecido e o resto foi prometido”. Segundo o presidente da Associação dos Médicos do HGF (Ame/HGF), Jaime Benevides, a Secretaria prometeu normalizar o fluxo ainda nesta semana. Ele disse, ainda, que a falta de insumos podem comprometer o resultado das cirurgias e, por isso, vários procedimentos cirúrgicos tiveram de ser suspensos.
Em nota, a Assessoria de Imprensa do HGF informou que “as cirurgias eletivas estão regulares na unidade. Informamos ainda que a Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa) está tomando todas as providências para garantir o pleno funcionamento do HGF”.
O jornal O Estado entrou em contato com a Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, mas até o fechamento desta matéria, não houve retorno.

Ainda nos corredores
O cálculo do Sindicato dos Médicos do Ceará (Sime) contabilizou que 397 pessoas estiveram “acomodadas” nos corredores dos hospitais de emergência de Fortaleza, no dia de ontem. Desses, 116 no Instituto Doutor José Frota (IJF), 60 no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), 55 no Hospital de Messejana (HM), 57 no Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) e 10 no Hospital São José (HSJ). Sendo que 99 aguardando transferência, dos quais sete estão entubados. Se comparado ao número registrado na segunda-feira, houve uma redução de 32 pessoas.
O cálculo é realizado através da campanha “Corredômetro”, onde o Simec divulga, diariamente, o número de pacientes ‘internados’ nos corredores de hospitais da cidade. Na segunda-feira, a campanha registrou recorde desde que foi criada, no dia 21 de abril. Foram contabilizadas 429 pessoas nos corredores.
Para Jaime Benevides, o atendimento e a internação nos corredores dos hospitais comprometem o tratamento e a recuperação dos pacientes. “Primeiramente porque fere a dignidade humana, outra porque não ficam adequadamente instalados, e o doente fica exposto numa área onde há intendo trânsito de pessoas. É inaceitável nos dias de hoje a situação onde um doente não tem condições suficientes de fazer suas necessidades diárias, pois não tem privacidade”, alertou.  
 

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