Jornalista não propaga “ondas”
Demétrio Andrade - Jornalista
Nada
a ver com Física. As “ondas” de que falo têm outra raiz e magnitude.
Como em qualquer outro segmento social, jornalistas são convidados a
concordar ou discordar de fatos e eventos. Mais que isso: trabalham num
lugar, chamado “redação”, para onde confluem interesses políticos,
econômicos, culturais, religiosos e esportivos, dentre outros. Mais que
isso: ajudam a sociedade a escolher quais assuntos a serem colocados em
pauta.
Notícias
veiculadas em jornal, rádio, TV e internet viram nossos assuntos do dia
a dia: em casa, no bar, no trabalho, na escola, na igreja.
Teoricamente, são fatos recentes, de relevância social, apurados com
todo o rigor das técnicas jornalísticas, escritos e editados de forma
clara e objetiva. Evidente que jornalistas trabalham com o aqui e o
agora e são sujeitos ao erro pela imposição de pouco espaço e tempo
reduzido. Porém, os erros vêm se sucedendo de maneira cada vez mais
usual.
O
mundo cada vez menor e mais rápido das redes sociais encurtou de vez o
processo de produção jornalística. Na ânsia inócua de concorrer com
“jornalistas de ocasião” das redes sociais, alguns veículos estão
apelando. São erros grotescos de apuração e divulgação irresponsável de
denúncias que acabam comprometendo a credibilidade e, consequentemente,
até mesmo a sobrevivência destes meios no mercado.
O
pior de tudo, porém, são as “ondas”. Modismos que chegam à redação na
forma de opiniões prontas, visões de mundo predefinidas, ângulos de
enfoque viciados. O repórter não vai a campo “investigar”, mas
“confirmar” uma “verdade” já aceita no ambiente de trabalho. Isso é
péssimo. Denunciados são tratados como culpados. Opiniões baseadas em
especulações são tratadas como se fossem notícias refletindo fatos.
Como
se diz no popular, depois que o boi está morto, toda e qualquer pessoa
se acha no direito de chutar a carcaça. É fácil e não exige o menor
esforço. Pegue-se o exemplo da cobertura sobre o governo Dilma. Com
ações reconhecidamente ruins do ponto de vista administrativo, inúmeras
denúncias de corrupção e uma popularidade que não para de cair,
naturalmente o tom tenderá a ser negativo.
Mas
aí, eu pergunto: não há nada de positivo para se cobrir deste governo?
Nada está sendo feito? Todas as políticas anteriores bem-sucedidas
deixaram de existir? Quem sempre fez crítica está aproveitando o momento
para aparecer. Quem nunca fez engrossa o coro para se sentir aceito
pela maioria. Quem ainda acredita, ou se está constrangido ou apela para
a defesa inconsequente. Há ódio dos dois lados. Há pouca racionalidade.
Há pouca objetividade. Há pouco jornalismo.
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