O professor,
Beethoven e o Ladrão
Outro
dia,pra alegria do meu coração, encontrei com o decente Edmilson Caminha,
mestre e palestrante e, como este humilde escriba, honorário filho de um pedaço
do Brasil, na verdade dois, daqui e de
Minas Gerais. Caminha, conhecido desde lá atrás dos anos 70 do século passado,
continua sua saga de fazer a alegria de quem lê da sua lavra, como nesse texto
pelo qual roguei para mudar a regra do jogo de um 2 de novembro cheio de
lembranças doloridas. Hoje, Edmilson Caminha vira contador de causo e causo é
missão do bem para brasileiro saudoso.Ouça-o: “ Minha geração foi marcada, na
Fortaleza dos anos 1960 e 1970, pelos programas da TV Ceará canal 2, dos
Diários Associados de Assis Chateaubriand: “Encontro Semanal de Pais e
Mestres”, com o Dr. Edilson Brasil Soárez, diretor do Ginásio 7 de Setembro,
onde estudei; “Vídeo Alegre”, com Renato Aragão; “O Contador de Histórias” e
“Sete Dias em Destaque”, com João Ramos, e “Um Milhão Ironte”, com Augusto
Borges, em que, semana após semana, perguntas cada vez mais difíceis desafiavam
o conhecimento e a memória dos participantes, doutores nas matérias sobre que
respondiam. Um deles foi o professor José Lourenço Mont’Alverne, do curso de
Engenharia da Universidade Federal do Ceará, que ganhou 800 mil cruzeiros, do
milhão oferecido pelo patrocinador, ao demonstrar tudo saber não de projetos e
de cálculos, mas... da vida e da obra de Beethoven. Era impressionante: a produção punha para
rodar o LP e, no máximo em dez segundos, o candidato reconhecia:― 3° movimento
da Sinfonia n° 4 em si bemol maior, opus
60, composta no verão de 1806, dedicada ao conde Franz von Oppersdorff.
Enquanto
ouvia a gravação, José Lourenço coçava nervosamente os testículos, como se
neles estivesse a resposta que buscava. Não por outra razão, os câmeras tinham ordem
de focalizá-lo só da cintura para cima... Os alunos já esperavam: todo ano, uma
das aulas da engenharia era reservada à música erudita. Em 1968, lembra um
deles, a peça escolhida foi a “Abertura 1812”, de Tchaicovsky: antes de ligar o
toca-discos, o professor (carinhosamente apelidado de “Batatinha”, talvez pela
semelhança com o personagem da “Turma do Manda-Chuva”) distribuiu um folheto
com a minuciosa apresentação dos instrumentos da orquestra: flautim, flautas,
corne inglês, trompas em fá, jogo de timbales, violas, contrabaixos... Ao longo
do curso, os estudantes sabiam como desviá-lo do programa: era só falar em
música, sob qualquer pretexto, como no dia em que alguém lhe perguntou, a
propósito de nada: ― Professor, sem querer interrompê-lo, me tire uma dúvida:
Tchaicovsky era mesmo viado? E ele, sem poder negar a suspeição: ― Era sim, mas
com muita arte! O resto da aula, como se previa, foi uma entusiasmada
conferência sobre o compositor russo... Um dia, encontro José Lourenço
Mont’Alverne sob um guarda-sol, na praia, e não perco a ocasião de satisfazer a
curiosidade: por que um engenheiro dedicou-se a estudar Beethoven? ― Quando fui
para a Escola de Minas, em Ouro Preto, já era noivo desta aqui, Maria Alice,
que viria a ser minha mulher. Lá eu me sentia muito só, principalmente no
inverno, um frio desgraçado. Nos fins de semana era pior, sozinho no quarto,
morrendo de saudade dela, da família, dos amigos... Só tinha três opções:
abandonar o curso e voltar pra Fortaleza, ficar doido ou arranjar alguma coisa
pra ocupar o tempo. Mergulhei, então, na vida e na obra de Beethoven, um santo
remédio. Li tudo sobre ele, e, quando me dei conta, conhecia de cabo a rabo as
nove sinfonias, os cinco concertos e as 32 sonatas para piano, os 16 quartetos de
cordas... Terminei o curso em 1951, voltei pra cá e seis anos depois me casei. Aos
poucos discos que trouxera na bagagem, somaram-se centenas de outros, alguns
raros: ― São muitos, boa parte da Deutsche Gramophon, uma das mais importantes
gravadoras do mundo. Pois você acredita que o filho de uma égua de um ladrão
entrou na minha casa e achou de roubar exatamente essas preciosidades?! Dei
queixa à polícia, que se comprometeu a me chamar quando prendessem o gatuno.
Dias depois, lá estava eu, na cela que o hospedava: “Me diga uma coisa, meu
amigo: foi você que levou os meus discos?” “Eu não vou mentir pro senhor: foi,
sim.” “Pois vamos fazer um negócio: pra você não ter prejuízo, eu compro esses
discos. Quanto você me cobra por eles?” E o larápio, como se o preso fosse o
outro: “Olhe, doutor, sua situação tá difícil, porque eu repassei tudo prum
colega meu, que vende a mercadoria ali na Praça da Lagoinha. Mas eu vou ver o
que posso fazer pelo senhor...” Não foi difícil encontrar o comerciante, com os
caros discos alemães expostos sobre uma lona suja, todos eles, sem faltar
nenhum! José Lourenço Mont’Alverne comprou-os ao preço de Agnaldo Timóteo e
Waldick Soriano, voltou pra casa e comemorou o excelente negócio que fizera, ao
som do primeiro movimento – o famoso allegro
con brio – da Sinfonia n° 5 em dó menor, opus 67. De Beethoven, é claro...”. Ave
Lourenço!Ave Caminha!
A
frase: “Se você agir sempre com
dignidade, talvez não consiga mudar o mundo, mas será um canalha a menos”. Kennedy,
o John F.
Saudades
(Nota da foto)
Não
valeria, hoje, pro neto dele.
Antes
que esqueça...
Cês
devem notar que quase nunca falo na primeira pessoa. Eu, nunca é do interesse
das outras pessoas. Não sou famoso. Não quero ser famoso. Ser famoso implica em
quase ser estátua e não quero ser estátua pra pombo fazer coco na minha cabeça.
Porém...
Estávamos,
o jornalista Newton Pedrosa e eu, sentados num banco do Parque Eduardo VII,em
Lisboa, apreciando a Feira anual do livro, acho que num mÊs de junho
qualquer.Qualquer, não. Num mês de junho. Olhei de lado e cutuquei
Pedrosa...olhaí!!!
Susto
Era
Zé Saramago. Sozinho. Calça cinza, camisa branca, sem gravata, blazer azul.
Atravessava as últimas aleias que dão ao Parque,por trás do Marques de Pombal.
Foi pra tenda da editora de seus livros.
Da
memória
Compramos,
cada um, cinco livros do Mestre e fomos à fila
para os autógrafos e oferecimentos. Na nossa vez apresentei a nós dois
como jornalistas brasileiros,do Ceará. Saramago, que como nós ouvia Luiz
Gonzaga cantando nos alto-falantes da Feira,levantou, parou a fila e conversou
por 10 minutos ou mais com a gente, querendo saber do Brasil, do Ceará. O Padre
Zé tem um desses livros autografados. Detalhe: Saímos hotel sem as máquinas
fotográficas,pois ainda não havia celular com câmera.
Só
ouve o que quer
Não
deve ser coisa da cabeça do Beto Studart, mas a FIEC, pelo visto só está
ouvindo o que quer ouvir, isto é, gente falando mal do governo. Bolsonaro,
Waack, Nardes e quetais. Que tal Paulo
Henrique Amorim, Mauro Santayana, Deusmar Queiroz?
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