Conseguiram: O Brasil está em liquidação. Avisei que a "crise" não existia.
Com Brasil barato, estrangeiros avançam sobre empresas nacionais
Naiana Oscar e Mônica Scaramuzzo - O Estado de S.Paulo
Fusões e aquisições
envolvendo investidores internacionais devem ultrapassar as de grupo
nacionais neste ano; a mexicana Femsa fez acordo de R$ 1,1 bilhão para
comprar a Atlas Logística e a americana Devry negocia a escola de
negócios Ibmec
Ao
declarar, em Nova York, na semana passada, que “o Brasil está em
liquidação”, o empresário Abilio Diniz tornou pública uma afirmação que,
há meses, ronda os escritórios de bancos, fundos de investimento e
empresas brasileiras. Na descrição de alguns executivos do mercado
financeiro, é como se o País tivesse se tornado, com a desvalorização do
real, um imenso outlet: com negócios atrativos, que ficam ainda mais
interessantes, para os gringos, ao converterem as moedas.
A pesquisa mensal da consultoria PwC sobre
fusões e aquisições no País dá uma ideia desse movimento. Entre janeiro e
setembro deste ano, embora o número de transações tenha caído 12% em
relação ao mesmo período do ano passado, a participação de estrangeiros
aumentou e, até o fim do ano, deve ultrapassar a de brasileiros em
número de negócios. A diferença entre eles foi diminuindo ao longo do
ano, até chegar, em setembro, a 50% de participação cada um. É a
primeira vez que isso acontece desde que a consultoria começou a
acompanhar as fusões e aquisições no Brasil, em 2002.
“É uma nova onda de investimento estrangeiro chegando ao
País”, diz Rogério Gollo, sócio da PwC. “O último grande movimento desse
tipo aconteceu entre 2008 e 2010, com a perspectiva de crescimento da
economia brasileira. Agora, os investidores se aproveitam do que alguns empresários
nacionais têm chamado de “tempestade perfeita”, do lado de cá: ao mesmo
tempo em que a alta dos juros fez crescer a dívida das empresas, o
desaquecimento da economia derrubou a demanda, fragilizando a operação
de muitas companhias. Um recorte feito pelo banco de investimentos
Greenhill faz esse retrato. Em 2010, num grupo de 35 transações, 26%
delas envolviam a venda de empresas com índice de alavancagem superior a
três vezes o Ebtida (indicador que mostra o potencial de geração de
caixa). Neste ano, em um total de 54 transações analisadas, 55% estavam
nessas condições. “Esse não é um nível de endividamento considerado
saudável no mercado”, diz Daniel Wainstein, presidente do Greenhill no
Brasil. “O aumento desses níveis reduz o poder de negociação dos
vendedores.”Na semana passada, a venda da divisão de cosméticos da
Hypermarcas para a multinacional Coty, por R$ 3,8 bilhões, foi
emblemática. A empresa brasileira queria se desfazer do negócio para
zerar seu endividamento bilionário e recuperar o fôlego para investir na
venda de medicamentos. Fontes do setor ponderam, no entanto, que o
preço de fechamento do negócio não foi uma barbada, já que a Coty pagou
cerca de 20 vezes o Ebtida da divisão de consumo da Hypermarcas. “A
entrada deles era considerada estratégica no País, que é um dos maiores
consumidores de produtos de beleza do mundo, por isso pagaram um prêmio
pelo negócio”, disse uma fonte próxima à transação.
A Coty é apenas uma de várias multinacionais que voltaram a
olhar com lupa o mercado brasileiro nos últimos meses. A mexicana Femsa,
por exemplo, aproveitou o momento para fazer mais uma aquisição no
País. A divisão de logística do grupo, que também é distribuidor da
Coca-Cola, acabou de anunciar acordo para a compra da paranaense Atlas
Transportes. O valor não foi divulgado, mas o Estado apurou que o
negócio ficou em R$ 1,1 bilhão. Ao mesmo tempo, o grupo americano de
educação Devry, que já tem universidades no Nordeste, é um dos favoritas
para comprar uma fatia da escola de negócios Ibmec, em São Paulo. As
empresas não comentam o assunto.
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