Após o Estatuto do Desarmamento, homicídios por arma de fogo são os que mais crescem
* Fabricio Rebelo
Os
indicadores nacionais de violência vêm sendo sistematicamente
utilizados para fundamentar as opiniões a respeito da revogação do
Estatuto do Desarmamento, proposta que avança no Congresso, ainda que
sob forte resistência do Governo Federal. Em uma série de audiências
públicas realizadas antes da votação do projeto na Comissão Especial que
o analisou, os números do Mapa da Violência -
únicos tidos por oficiais no país - foram detalhadamente explorados,
especialmente para refutar a ideia de que, com o estatuto, houve melhora
do quadro geral de criminalidade.
Durante
as discussões, mostrou-se que o comparativo direto entre os períodos
anterior e posterior à lei vigente revela crescimento da taxa média de
homicídios no país (1,36%) e elevação no uso de armas de fogo na prática
destes crimes (9%). Os indicadores, contudo, vão além e também
comprovam que, desde o estatuto, os crimes letais com arma de fogo
seguem aumentando em ritmo superior ao dos cometidos com outros meios,
ultrapassando, inclusive, a taxa de crescimento registrada no total de
assassinatos.
O
primeiro ano de vigência do Estatuto do Desarmamento foi 2004. Nele,
foram registrados no país 48.374 homicídios, sendo 34.187 com uso de
arma de fogo. Nove anos depois, em 2012 – o mais recente integrado ao Mapa -, o Brasil registrou o recorde da série histórica, com 56.337 assassinatos, dos quais 40.077 com emprego de arma de fogo.
O
número total de homicídios no país, assim, aumentou 16,46% entre 2004 e
2012 (de 48.374 para 56.337) – período integralmente sob vigência do
estatuto. Já o número de assassinatos especificamente cometidos com arma
de fogo registrou um incremento de 17,23% no mesmo período (de 34.187
para 40.077), acima, portanto, do aumento geral dos crimes de morte. Os
homicídios cometidos com outros meios foram os que cresceram menos,
saindo de 14.187 para 16.260 casos - aumento de 14,61%.
Não
é, portanto, apenas no comparativo com o período a ele anterior que o
Estatuto do Desarmamento se mostra ineficaz para conter a criminalidade
nacional. Os registros limitados ao período de sua vigência também são
claros ao evidenciar que, com ele, não houve a mais ínfima contenção na
evolução do uso de armas de fogo para a prática de crimes letais. A
drástica restrição legal à circulação de armas não conseguiu nem mesmo
estabilizar estatisticamente seu uso criminal, o que, caso ocorresse,
resultaria num crescimento das mortes com arma de fogo no mesmo ritmo do
total de homicídios.
Sem
sequer atingir aquele que seria seu objetivo primário – conter o uso
criminoso de armas de fogo -, ao estatuto, por óbvio, não pode ser
atribuído qualquer impacto numa eventual redução global do quantitativo
de homicídios (que sequer existiu), especialmente porque a maior
retração nos meios letais vem ocorrendo, exatamente, naqueles sobre os
quais essa lei não exerce qualquer influência.
Sob
o prisma ideológico, é legítimo que as opiniões sobre um assunto se
ponham em diametral divergência. Entretanto, números são indicadores
objetivos, e quando por eles é demonstrada uma realidade feia, não
adianta filosofar sobre a beleza para mudá-la. Nosso quadro criminal é
crítico e o Estatuto do Desarmamento não vem contribuindo para
melhorá-lo.
*
Fabricio Rebelo é pesquisador em segurança pública, bacharel em direito
e coordenador do Centro de Pesquisa em Direito e Segurança – Cepedes.

Fonte: CEPEDES

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