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Wendell Lira vence prêmio Puskás e vive sonho

O ilustre desconhecido Wendell Lira, brasileiro de 27 anos, superou Lionel Messi e o italiano Alessandro Florenzi, da Roma, e venceu o prêmio Puskás, de gol mais bonito da temporada, ontem, na cerimônia da Bola de Ouro da Fifa. O nome do troféu homenageia o lendário jogador húngaro Ferenc Puskás, morto em 2009 aos 79 anos. O brasileiro, longe do estereótipo multimilionário dos astros do primeiro escalão, subiu ao palco chorando e disse que se sentia honrado de estar na companhia de seus ídolos no futebol. Ele ainda se comparou a Davi contra Golias.
Wendell Lira vence prêmio Puskás e vive sonho
“Quando olhou para Golias, Davi disse: ‘ele é muito grande, não tem como errar’”, disse, agradecendo ainda à sua esposa, que estava presente, e à sua filha, que está no Brasil. Marcado em março de 2015, o tento vencedor aconteceu em partida entre Goianésia e Atlético-GO, pelo Campeonato Goiano. Em ação pelo primeiro clube, Lira recebeu um passe alto na entrada da área e, de costas para o gol, fez um giro completo e emendou uma meia bicicleta para fazer o golaço.
A indicação já havia mudado a vida de Lira. Desempregado quando os nomes indicados ao gol mais bonito foram anunciados, em novembro, ele chegou a receber pelo menos oito propostas de emprego. Fechou com o Vila Nova, que disputa a Série B do Brasileiro, pela infraestrutura e projeto apresentados. Hoje, tem o humilde sonho de firmar carreira no futebol profissional, dar segurança financeira à família e jogar no exterior, mas sabe que a exposição aumentará a pressão por um bom desempenho.

Wendell Lira representa o futebol brasileiro que é ignorado pela CBF

A escolha de Wendell Lira como autor do gol mais bonito do mundo em 2015 (prêmio Puskas) serve para nos lembrar como é mal tratada a maioria dos jogadores brasileiros. Para além da imagem de carrões e propostas milionárias da China, o atleta nacional sofre com salários baixos, péssimas condições de treinamento e falta de competições para disputar. É solenemente ignorado pela CBF que só pensa na seleção brasileira e na elite.
Dados da própria confederação e do Bom Senso indicam que 82% dos jogadores nacionais ganham até dois salários mínimos, e outros 15% estão desempregados. Apenas 3% têm vencimentos acima dos dois salários. Isso em um universo de 20 mil atletas.  Esses números foram divulgados recentemente por reportagem da “Placar''. Representam uma realidade conhecida e imutável há anos.
“Eu sou como 90% dos jogadores de futebol do país que treinam em campo ruim, sofrem para achar time, têm dificuldade para pagar as contas'', disse Wendell Lira ao site “Fato online'', antes de ganhar o prêmio. Seu salário no Goianésia quando marcou o gol premiado era de R$ 3 mil, enfrentou desemprego, trabalhou até como caixa de supermercado.
Há três fatos que multiplicam casos como o de Lira pelo país, ambos são responsabilidade da CBF. 1) O calendário do futebol ignora a maior parte das 600 equipes do país ao não organizar ou incentivar campeonatos o ano inteiro para times pequenos 2) Não há regulação eficiente para garantir que os direitos dos atletas sejam respeitados, sem atrasos de salários 3) A entidade investe apenas uma pequena parcela dos seus ganhos milionários com as competições do país.
Basta dizer que, em 2014, a confederação ganhou R$ 519 milhões. Desse total, apenas R$ 58,7 milhões fora investidos em competições. A CBF costuma alardear que dá R$ 100 milhões para o futebol do país, citando passagens e agrados para Série C e D. Há ainda mesadas para federações de parcos recursos que quase não investem nesta base. É pouco, pouquíssimo.
Os contratos milionários da CBF só são possíveis porque há essa base gigantesca de jogadores, maior do que a de qualquer lugar do mundo, para lapidar os maiores talentos para sua seleção brilhar no mundo. Quem ultrapassa todas as barreiras é recompensado com grandes salários. Aos outros, é destinado o esquecimento da confederação como ocorre com Lira, lembrado só agora no site pelo seu gol.
Não se defende aqui que todos os jogadores sejam milionários. É normal os melhores se destacarem e terem melhores salários. Mas é inadmissível que a confederação não tenha sequer um plano para desenvolver a grande base do futebol do país.
By Rodrigo Matos

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