Prefeito sugere "negócio" para tentar impedir veiculação de reportagem em portal do PI
Alana Rodrigues*
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15/06/2016 15:00
Na última segunda-feira (13/6), o portal 180graus, do Piauí, denunciou uma tentativa de suborno
do prefeito Carlos Gomes de Oliveira, mais conhecido como Carlão do
Feijão (PR), do município de Dirceu Arcoverde, localizado a cerca de 553
quilômetros de Teresina (PI), para tentar impedir que uma reportagem
sobre reformas pagas que não foram realizadas na cidade.
Crédito:Reproução
Prefeito teria tentando subornar jornalista para evitar denúncia em reportagem
De acordo com a matéria, assinada pelo
jornalista Rômulo Rocha, as supostas reformas seriam no prédio do
Programa de Erradicação de Trabalho Infantil (PETI) e de um prédio do
Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Os edifícios seriam
alugados e, apesar de ter ao menos uma parcela acertada, as reparações
ainda não haviam sido iniciadas.
O repórter relata que procurou Pedro
Alcântara Dias Braga, um dos proprietários da empresa FORTI Construções e
Serviços, responsável pelas reformas, que teria desconversado e
encerrado a conversa sem explicar o destino do dinheiro repassado.
Em contato com o jornalista, o
prefeito do município teria deixado no ar a suposição de uma oferta para
que a denúncia não fosse veiculada, mas voltou atrás, pedindo que a
expressão "negociar" não fosse interpretada incorretamente.
A reportagem publicou, na íntegra, a
transcrição do diálogo entre o jornalista e o empreiteiro e também a
conversa do profissional com o prefeito. Em ao menos quatro perguntas,
Carlos do Feijão não deu respostas ao jornalista. No início da
entrevista, o político diz que só trataria o assunto pessoalmente.
O repórter insiste nos
questionamentos, solicitando explicações e imagens da reforma não
constada por ele em sua visita ao município, até que Feijão diz: "Nós
podemos fazer negócio". O profissional rebate a proposta e afirma que
não negocia antes de encerrar a conversa.
"O simples ato de aceitar uma propina
para não divulgar algo na imprensa, seria o mesmo que contribuir com a
perpetuação e as práticas do gestor à frente do posto, seria o mesmo que
não dar voz àqueles marginalizados, seria o mesmo que compactuar, seria
o mesmo que concordar com o sofrimento dos sertanejos sem água,
desprovidos de bons gestores que os tirem dessa situação", afirma o
jornalista na matéria.
Procurada por IMPRENSA, a Editora Chefe do Portal 180graus, Apoliana Oliveira, enviou nota para esclarecer o caso:
Inicialmente
gostaria de ressaltar que equipes do 180graus viajam constantemente
para cidades do interior do Piauí, buscando reportar o que a imprensa da
capital nem sempre enxerga. Temos correspondentes em quase todas as 224
cidades do Estado, e contamos com a ajuda deles para identificar onde a
gestão pública está em falta com a população.
De
posse destas queixas e denúncias, que não são poucas, designamos
equipes com profissionais mais experientes para checar a situação e
oferecer à população e aos gestores a chance de se manifestar.
Foi
o que aconteceu no caso de Dirceu Arcoverde. Numa destas viagens
pudemos verificar que obras de suma importância para a população não
estavam tendo a devida atenção do poder publico. Quando nossa equipe
esteve no município, o gestor não foi encontrado, nos obrigando a uma
nova tentativa de contato, desta vez, por telefone.
A
atitude do prefeito Carlão do Feijão nada mais é do que um retrato da
cultura coronelista que ainda impera em cidades pequenas não só do
Piauí, mas de outros estados do Nordeste, onde políticos insistem em
acreditar que podem calar a imprensa com suborno. É o exemplo de
gestores que se elegem crentes de que a população humilde de seus
municípios não terá força para questioná-los, já que muitos se prestam
do assistencialismo para se manter no poder, criando uma geração de
eleitores dependentes do pouco que recebem em ato de falsa
solidariedade. Sugerir suborno a um jornalista é no mínimo uma afronta
ao bom jornalismo, que por força de seu Código de Ética deve se opor ao
autoritarismo, e acima de tudo defender o livre exercício de sua
profissão. E como pede o mesmo Código, nós continuaremos a denunciar
casos em que houver tentativa de controlar o nosso trabalho, cujo
compromisso é com os governados e não com os governantes.?
Consultado sobe o caso, o Sindicato
dos Jornalistas Profissionais do Estado do Piauí (Sindjor-PI) disse que
defende a liberdade de expressão e considera como condenável qualquer
tentativa de barrar, subornar ou cercear publicações que reportam
informações de interesse público. "O compromisso que nós, jornalistas,
temos é com a informação correta e reprovamos medidas como essa, vinda
por parte de qualquer tipo de autoridade", destaca o vice-presidente da
entidade, Luis Carlos Oliveira.
Também procurada por IMPRENSA, a
prefeitura disse, inicialmente, que só falaria sobre o caso
pessoalmente. Também questionou a credibilidade do portal 180graus e
afirmou que consultaria o prefeito para enviar seu posicionamento, mas,
até o momento, a reportagem não recebeu retorno.
* Com supervisão de Vanessa Gonçalves.
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