Os carrascos de Dilma vão tombando um a um

Dilma está suspensa por seis meses
| EPA/PAULO FONSECA
Presidente
assiste à queda dos que contribuíram para a destituição. Delcídio, o
delator, Jucá, o operacional, e Cunha, o estratega
No dia em que for escrita a história do segundo impeachment da
jovem democracia brasileira, o de Dilma Rousseff (PT), três políticos
vão surgir como pivôs da destituição da primeira presidente mulher do
gigante sul-americano: Eduardo Cunha (PMDB), o motor do processo, Romero
Jucá (PMDB), o articulador político, e Delcídio do Amaral (PT), o
homem-bomba. Talvez também os de Michel Temer (PMDB), beneficiário da
queda de Dilma, e Aécio Neves (PSDB), que depois de derrotado nas
eleições de 2014 trabalhou pelo fim do governo da rival. Os três
primeiros já caíram. Os dois últimos têm passado um mau bocado. A meses
da votação definitiva do impeachment no Senado, acende-se o sinal amarelo no governo.
"Só
um acidente de percurso poderia levar Dilma novamente à presidência",
reagiu nesta semana Eliseu Padilha (PMDB), ministro-chefe da Casa Civil
do governo interino de Temer. Mas acidentes de percurso não têm faltado:
Eduardo Cunha, aliado do presidente em exercício, caiu, Romero Jucá, o
seu braço direito, também, e o homem-bomba do momento já não é Delcídio,
explosivo para o PT, mas Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro
que vem causando sismos e réplicas no PMDB.
Machado,
que negoceia acordo de delação premiada com a polícia no âmbito da
Lava-Jato, além de ter incluído Jucá e mais dois barões do partido de
Temer em gravações, o líder do Senado Renan Calheiros e o antigo
presidente José Sarney, chamuscou Aécio. "Todos sabemos os esquemas dele
(...) é o primeiro a ser comido", diz, perante a concordância dos
interlocutores.
Ironicamente, Dilma
capitaliza mais forças enquanto está calada no seu canto no Palácio da
Alvorada do que quando discursava diariamente na agonizante ponta final
do seu afastamento no Palácio do Planalto. O PT vai agora juntar à sua
defesa no Senado aquelas delações, sobretudo a de Jucá, que disse, ainda
em março, que só um novo governo poderia "estancar a sangria" da
Lava-Jato.
Por isso o governo está
alerta: de um dia para o outro, pressionou os senadores aliados a
antecipar o calendário da votação final na casa de setembro para o
início de agosto, não vão os tais "acidentes de percurso" prosseguir.
Como basta um terço dos membros votar contra o impeachment para Dilma reassumir, Temer teme surpresas. Um terço são 54, a 12 de maio, 55 escolheram a destituição - a diferença é mínima.
Além
do escândalo da demissão de Jucá, o presidente teve de lidar com casos,
uns grandes, outros pequenos. Foi obrigado a desautorizar Alexandre de
Moraes, ministro da Justiça e advogado pessoal de Eduardo Cunha, quando
este quis estabelecer novas regras para a eleição do procurador-geral da
República - um indício de interferência no poder judicial em momento
delicado. Também corrigiu Ricardo Barros, titular da Saúde, depois de
este afirmar que nem todos os direitos constitucionais da sua área estão
garantidos - numa altura em que o governo é acusado de insensibilidade
social.
Lidou com os incómodos da
ausência de mulheres e de pasta da Cultura no executivo com erros uns
sobre os outros: para matar dois coelhos de uma só cajadada convidou a
apresentadora Marília Gabriela, a atriz Bruna Lombardi e a cantora
Daniela Mercury para a secretaria nacional do setor e ouviu três
negativas. Acabou por escolher um homem e elevar a secretaria a
ministério.
Elegeu como símbolo, por
iniciativa, afirmou, do seu filho Michelzinho, de 8 anos, uma bandeira
do Brasil do tempo da ditadura - faltam estrelas representativas de
cinco estados mais recentes. Como slogan, optou por "trabalhe, não fale
em crise", que lera num posto de gasolina entretanto fechado pela
polícia por vender produto adulterado. E ainda viu o seu ministro da
Educação receber no gabinete o ator pornográfico Alexandre Frota com
propostas para o ensino brasileiro.
Nesta conjuntura, as notícias sobre a morte política de Dilma podem ter sido exageradas.
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