A denúncia de que o presidente interino, Michel Temer, teria pedido doação de recursos ilícitos
para a campanha a prefeito de São Paulo de Gabriel Chalita em 2012 foi
classificada pelo Palácio do Planalto como "muito ruim para a
governabilidade", principalmente para um governo interino.
O receio é que novas denúncias causem impacto negativo na imagem da nova
gestão e acabem com a "lua de mel" da administração peemedebista no
Congresso Nacional. A informação do pedido consta da delação do
ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
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Lalo de Almeida/Folhapress |
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| Gabriel Chalita e Temer durante campanha em 2012 |
A divulgação do conteúdo da delação de Machado atrapalhou os planos do
Palácio do Planalto, que esperava ter um dia de notícias positivas com o
anúncio da proposta de criar um teto para os gastos públicos da União.
Lançada pela manhã pelo próprio Temer em reunião com líderes, a proposta
do teto foi bem recebida pelo mercado, mas foi ofuscada no início da
tarde quando começaram a ser publicados trechos da delação premiada de
Sérgio Machado citando o nome do presidente interino.
Com receio de que a informação estimule panelaços, o peemedebista foi
aconselhada a excluir de vez a possibilidade de convocar na sexta-feira
(17) cadeia de televisão e rádio para pronunciamento à nação, o que era
avaliado até então.
A nota oficial da Secretaria de Comunicação Social da Presidência foi
distribuída no final da tarde desta quarta-feira (15), dizendo ser
"absolutamente inverídica a versão de que [Temer] teria solicitado
recursos ilícitos ao ex-presidente da Transpetro".
Acrescenta que "Sérgio Machado" é "pessoa com que [o presidente]
mantinha relacionamento apenas formal e sem nenhuma proximidade.
O texto afirma ainda que, "em toda sua vida pública, o presidente sempre
respeitou estritamente os limites legais para buscar recursos para
campanhas eleitorais" e "jamais permitiu arrecadação fora dos ditames da
lei, seja para si, para o partido e, muito menos, para outros
candidatos que, eventualmente, apoiou em disputas".
Em sua delação, Sérgio Machado, indicado para presidência da Transpetro
por peemedebistas do Senado, diz que conversou com Temer na Base Aérea
de Brasil, provavelmente em setembro de 2012, para acertar uma doação de
R$ 1,5 milhão.
Machado diz que "o contexto da conversa deixava claro que o que Michel
Temer estava ajustando com o depoente era que este solicitasse recursos
ilícitos das empresas que tinham contratos com a Transpetro na forma de
doação oficial.
REGISTROS
Segundo assessores, Temer não se recorda ter tido algum encontro com
Machado na Base Aérea de Brasília, mas lembra de tê-lo recebido no
Palácio do Jaburu e no gabinete da Vice-Presidência.
Para dirimir a dúvida, o Palácio do Planalto chegou a até mesmo pedir
para a Força Aérea Brasileira registros de entrada e saída na Base Aérea
em 2012.
Em conversa com sua equipe, Temer afirmou ainda que não fez nenhum
pedido de doação diretamente a Machado, lembrando que ele era ligado ao
PMDB do Senado.
Auxiliares afirmam não descartar a possibilidade de algum líder do PMDB
ter feito o pedido ao então presidente da Transpetro, mas dizem que não
foi Temer.
Um amigo do presidente afirmou à Folha que o presidente, em suas
campanhas, não costuma fazer pedidos diretos de doação de campanha e
prefere que isto seja feito por sua equipe.
Apesar de reafirmarem que Temer não fez nenhum pedido de doação ilícita,
auxiliares estavam preocupados com a informação porque, segundo eles,
ela já seria ruim num período de normalidade, mas ganha maior impacto
negativo para um governo interino que precisa se firmar.
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