O TRISTE FIM ...
Ninguém, em sã consciência, é totalmente incapaz de gestos de grandeza
nem tampouco é tão puro e comprometido com os valores e princípios que
o senso comum estabelece, que, por acaso, não tenha cometido algum
deslize ou que não tenha praticado possíveis contravenções, em algum
momento, as quais possam ter colocado, em questão, a sua biografia.
Também é algo de clareza meridiana, que ninguém pode se atribuir o
monopólio da verdade, da moral e nem da decência.
A mídia, que
assumiu o papel de quarto poder, na república ou da república, tem tido o
condão de assumir-se como uma espécie de última instância da verdade.
E, assim, quando decide acusar, denunciar, julgar e estabelecer
sentenças, às vezes, as mais impiedosas e as mais draconianas tanto
quanto mais rápido se tenha escolhido e definido a vítima que será
levada ao sacrifício extremo e ao cadafalso, melhor para os seus
propósitos.
Por outro lado, o gosto pela tragédia, pela paixão
novelesca, esse entusiasmo pela dramaticidade no trato com bandidos e
vítimas, tão própria das massas populares, notadamente do Brasil,
propicia situações tais em que são gerados momentos os mais apropriados a
quase linchamentos públicos, de caráter tão triste, tão deplorável e
tão vergonhoso para qualquer sociedade dita civilizada.
Se a
violência de terroristas, ou de lobos solitários, ou do crime organizado
ou ainda, fruto da brutalidade policial, já legam e levam, ao cidadão,
um noticiário repleto de crimes, tragédias e de barbáries de toda
ordem, há ainda os que, na mídia, em busca de notoriedade, de um modo ou
de outro ou de qualquer jeito, estimulam que se crie hoje, no Brasil,
um ambiente assemelhado ao Terror, da Revolução Francesa.
Jornalistas, muitas vezes sem a isenção necessária, sendo administrados
mais pela emoção das ruas, têm julgado e condenado vários homens
públicos, pelo modismo que a sociedade novelesca determina. Exige-se,
como que, "um quase gosto de sangue na boca", que se leve as últimas
consequências alēm da humilhação, da desmoralização e da execração
pública, alguém que, por acaso, a midia já julgou e condenou, mesmo
antes que instâncias judiciais legítimas terem estabelecido o trânsito
em julgado do seu processo.
Assistiu-se a quase destruição de
idoneidades, às vezes, da maneira a mais leviana possível, como foram os
casos mais recentes de Ibsen Pinhero, de Alcenir Guerra e do Ministro
de Itamar, Henrique Hargreaves, entre outros, estimulada, a midia, pelo
chamado efeito manada quando a sociedade é levada a ser conduzida pelas
emoções, estimulada, muitas vezes, pela ação da própria mídia e pelos
dramáticos apelos novelescos pelos quais são estimulados o povo e suas
emoções, para justificar a condenação sumária tais cidadãos!
O
julgamento impiedoso, rápido e definitivo de Eduardo Cunha, embora, é
bom que se diga seja, em parte, muito culpa dele que, pela sua
arrogância e presunção decidiu enfrentar o "mundo todo" ao mesmo tempo,
sentindo-se uma espécie de super herói e não fazendo uma avaliação de
suas fragilidades e da sua incapacidade de confrontar adversários tão
difíceis. Aliás adversários capazes de arregimentar a própria sociedade
civil e, com isso, transformá-lo numa espécie de inimigo número um da
sociedade como um todo!
Eduardo Cunha, tornou-se uma espécie de
Larry Flint do País -- "Todos contra Larry Flint!", quem não se lembra
do filme? -- pois que resolveu brigar com Dilma, com o PT, com o
Procurador Janot, com os procuradores como um todo e, até, com o
intocável Supremo. Não respeitou duas máximas exigidas por qualquer
embate, notadamente os da vida públca, que são quando se luta pela
sobrevivência política: nunca se briga com quem usa saias e não se briga
com adversários poderosos, sem ter parte da mídia ao seu lado. As saias
são as das mulheres, dos togados e da igreja! Ninguém aguenta uma
luta desse tamanho e com adversários tão poderosos, ao mesmo tempo sem
que conte com alguns defensores na mídia.
Pretensiosamente Cunha não
cultivou, pelo menos a necessária falsa humildade, como sempre sou ersm
fazer os mais espertos de trazer a mídia para o seu lado ou, pelo
menos, parte dela. E, mais ainda quando se sabia que ela estava ansiosa
por encontrar alguém para ser o bode expiatório de toda essa crise
existencial, moral e ética em que o Pais estava e ainda estå mergulhado.
E o pior para Cunha foi que, ninguém, particulamente, os pretensos
imparciais analistas da cena política, sequer procuraram estabelecer um
paralelo ou diferenciar a atitude dele de outros homens públicos no
proscênio atual que, embora citados, acusados, denunciados e até com
processos criminais em curso, não enfrentaram o mesmo tiroteio e o
encurralamento que sofreu e ainda sofre Eduardo Cunha! Ou seja, qual a
diferença dos crimes cometidos por Cunha e dos supostos crimes cometidos
por essas outras personalidades da cena política? É difícil avaliar e
comparar Cunha e os demais para estabelecer a dosimetria da pena a ele
imposta e as penas que advirão, em cima dele e de sua família, até o fim
do processo.
O cenarista não é daqueles como Roberto Jefferson que,
ao reconhecer que Cunha foi o "bandido predileto ou preferido" que
montou, estruturou e deu consistência a todo o processo de
desconstrução de Dilma, de Lula e do PT e que, sem o seu comando e
determinação, a Câmara nunca teria votado o processo de impeachment de
Dilma. O País, se de um lado assistiu o protagonismo de Cunha nesse
processo que era anseio da maioria do povo brasileiro, por outro lado,
assistiu a atitude passiva de Sarney, de Renan, de Eunicio e de Raupp e,
até mesmo, da própria mídia que, ora se encolhia ou esperava que alguém
assumisse todos os ônus e riscos de forçar e tornar tal processo
possível. E esse protagonismo maior, tão necessário e fundamental para
que o País estivesse a viver um novo tempo, foram as manifestações de
rua e a ação estratégica e firme de Eduardo Cunha à frente da Câmara,
quer queiram ou não a midia e os seus parceiros, foi o principal ator
dessa cena!
Este cenarista não está a fazer a defesa de Cunha nem
dizer que a Câmara deveria ser conivente ou leniente com as suas
diatribes e que ele não pagasse o preço pelos crimes e erros que
porventura tenha cometido em face da contribuição que ele deu a causa
democrática nacional. . Mas, essa crucificação pública, transformando o
ex- presidente da Câmara no pior dos meliantes, visto como alguém sem
qualquer principio, sem qualquer moral e sem qualquer ética, não lhe
reconhecendo qualquer ou algum mérito, qualquer valor e nem qualquer
contribuição para retirar o País dessa situação, tão dramaticamente
constrangedora, parece que se exacerbou na dosimetria da pena, imposta,
primeiro pela midia e, depois pelas instâncias judiciais.
Mas, o
que parece pior ē ter que assistir a essa execução sumária de um
politico e, aonda por cima,ter que ouvir as sentenças proferidas por
essas "Torquemada de saias", não com as saias da inquisição da igreja,
mas da inquisição da mídia, as jornalistas que, quase num prazer
orgástico, ao serm impiedosa na acusação. No proferir suas sentenças,
representam, com tal atitude, um espetáculo ainda mais desagradável!
Eduardo Cunha, parcece que a festa acabou, os músicos guardaram e
embalaram seus instrumentos e você ficou a curtir a solidão dos
criminosos erráticos, sem a solidariedade sequer dos carcereiros! E
você, tão esperto e tão sabido, não conhecia as dimensões da condição
humana e não conhecia o País que tem uma elite grotesca que assume o
papel de julgadora da moral e da decência de um ou de muitos! É pena!
Você perdeu! É, parece ser o triste fim de Eduardo Cunha! Ou será que
não?
Será que, segundo as más línguas, ele não cairá sozinho? Será
que levará outras figuras publicas, de roldão?. Será que viriam
políticos como ele ou, até mesmo, membros do poder judiciário,
desmoralizando a instância que mais problemas e dificuldades criou para
ele? Alguns acreditam que as retaliações virão e terão repercussão tal
que gerarão um grande imbroglio nacional. Será? É esperar para ver o que
vai acontecer!
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