Segundo
dia do Festival de Jericoacoara Cinema Digital teve debate sobre "Terra
em Transe", Mostra Infantil e início da Mostra de Curtas
Nesta
quinta-feira, 8/6, o VI Festival de Jericoacoara chegou a seu segundo
dia, com atividades nos três turnos, movimentando a pequena - e
encantadora - vila de pescadores que se tornou um dos destinos mais
cobiçados do turismo internacional. Cineastas de 13 estados brasileiros
estão reunidos em Jeri para o festival, que segue até 13/6, com entrada
gratuita em toda a programação, incluindo debates, oficinas e exibição
de filmes. O segundo dia começou com o Seminário "Terra em Transe: 50
anos", que emocionou o público ao oferecer acesso a um material inédito
da obra do diretor do filme, o cineasta baiano Glauber Rocha, com a
presença de Paloma Rocha, também cineasta e filha de Glauber.
Na
noite desta quinta, enquanto nos céus de Jeri a lua capturava os
olhares, na tela do Polo de Atendimento à Criança e ao Adolescente,
palco do festival, foi aberta a Mostra Competitiva de Curtas-metragens,
com a presença de realizadores que destacaram a importância do espaço
aberto pelo festival e a satisfação de participar. A diversidade de
filmes e temáticas exibidos chamou atenção do público.
Foram
exibidos os filmes "Os Olhos de Arthur", de Allan Deberton (Fic, CE),
"Canta Um Ponto", de Luciano Dayrell e João Paulo Silveira (Doc, RJ),
"Rosinha", de Gui Campos (Fic, DF), "Símile", de Julio César Mahr (Exp,
GO), "Candeias", de Felipe Wenceslau e Augusto Pessoa (Doc, BA) e "Salu e
o Cavalo Marinho", de Cecilia da Fonte (Anim, PE).
Na Mostra Infantil,
realizada à tarde, a criançada de Jericoacoara teve aquela que foi para
a maioria a primeira oportunidade de conferir a emoção e o
estranhamento causados por uma exibição de cinemas 3D. Com os óculos
para acompanhar os filmes em três dimensões, a meninada não escondeu a
emoção nem conteve os risos e expressões de espanto e admiração.
Pela manhã, a mesa de debates sobre o filme "Terra em Transe" foi
composta por Paloma Rocha, pelo cineasta Sérgio Santeiro e pelo
professor Régis Frota, com um debate enriquecedor sobre o longa-metragem
que marcou a história do cinema brasileiro dos anos 60, com forte
repercussão internacional.
Paloma
abriu o debate afirmando que as pessoas só conhecem a obra de Glauber
até 1969, ano em que foi lançado o filme "O Dragão da Maldade contra o
Santo Guerreiro", mas que a partir de "O Leão de Sete Cabeças", de 1970,
"ninguém conhece, porque nunca foi lançado comercialmente". Ela
destacou que há mais de 200 trabalhos de Glauber Rocha restaurados por
ela e sua equipe, incluindo poemas, filmes, livros, documentários, um
acervo riquíssimo que ainda hoje espera na Cinemateca Brasileira para
ser disponibilizado ao público. O material é "de uma importância imensa
para a pesquisa, apreciação e imersão na obra de Glauber ", ressaltou a
cineasta.
Acompanhando
sua fala, Paloma exibiu trechos do documentário “Depois do Transe”.
Originalmente chamado de "América Nuestra" e composto por 900 páginas,
o doc reúne pessoas da época que participaram do filme, além de
comentários do próprio Glauber, que trazem uma análise e comentários
sobre "Terra em Transe".
"Terra em Transe" e o Brasil de hoje
Régis
Frota trouxe uma explicação didática: "O transe também conota,
simboliza, alegoriza um estado de letargia, uma passividade próxima da
hipnose". A mesa ainda traçou paralelos entre o longa e a realidade
política do país nos dias de hoje: "Na época, hoje, amanhã, quem dá
golpe é o imperialismo. A história de hoje é tão atual quanto na época
em que o filme foi censurado pelo Itamaraty", comentou o cineasta Sérgio
Santeiro, que deu ainda uma aula sobre o fazer cinema: "O maior barato
de um filme é dialogar, reproduzir seu ambiente, sua vida, é para você
se enxergar a si mesmo e não pra ficar explodindo bomba, indo a Marte,
porque esse tipo de cinema não me diz nada", enfatizou.
Confira a programação desta sexta, 9/6
Na sexta-feira, 9/6, o Festival de Jericoacoara Cinema Digital tem às 10h o
Seminário "Terra em Transe: 50 Anos", com palestra da filha de Glauber
Rocha, a cineasta Paloma Rocha, tendo como debatedores o cineasta Sérgio
Santeiro, o professor Régis Frota e os realizadores participantes da
Mostra Competitiva de Curtas-metragens do festival. A atividade, assim
como toda a programação do festival, tem entrada franca e acontece no Polo de Atendimento à Criança e ao Adolescente de Jericoacoara.
Às 14h a
comunidade de Jericoacoara tem a oportunidade de conferir a Mostra
Infantil, com uma grande opção de programação especial para a criançada.
Das 14h às 18h acontece Oficina de Cinema Digital,
democratizando o acesso às técnicas do audiovisual e convidando
representantes da comunidade a produzirem seus próprios pequenos filmes,
durante o festival.
A Mostra Competitiva de Curtas-metragens, na sexta-feira, tem início às 18h,
com os filmes "O Menino do Dente de Ouro", de Rodrigo Sena (Ficção,
RN), "Botes Bastardos", de Pedro Cela (Documentário, CE), "Ilha das
Crianças", de Zeca Ferreira (Ficção, RJ), "Retratos da Alma", de Leo
Belo (Documentário, DF), "A Dança de Julia", de Igor Lopes
(Experimental, PE) e "Meu Rio Vermelho", de Rafael Irineu (Documentário,
MT).
Mais sobre o festival
Além
de seguir com a proposta de revelar o melhor do novo cinema brasileiro,
abrindo espaço a cineastas independentes, a edição deste ano será
marcada por uma homenagem a um dos maiores clássicos do cinema
brasileiro em todos os tempos: o filme "Terra em Transe", de Glauber
Rocha, produção que completa 50 anos.
O
destaque a "Terra em Transe", filme que causou polêmica em todo o País,
inclusive no Ceará, quando de seu lançamento em 1967, mas que segue
sendo aclamado internacionalmente como uma das obras-primas do cinema
nos anos 60, será um dos atrativos para o público do festival, que
promove uma mostra diária de filmes em pleno cenário paradisíaco, de uma
das praias mais belas do País, comentada e desejada por turistas de
todo o mundo. A participação da comunidade de Jeri é outra
característica do festival, com entrada franca em toda a programação e
forte presença dos moradores nas noites de exibição de filmes.
"Em
Jericoacoara teremos dois dias de debate sobre o 'Terra em Transe',
reforçando nossa proposta de apontar para as novidades do audiovisual
brasileiro, com a mostra competitiva de curtas-metragens, mas também de
levar ao público mais jovem conhecimento e discussão sobre grandes obras
da história do nosso cinema", destacou Francis Vale. "'Terra em Transe'
tem metáforas, alegorias e leituras extremamente atuais, ainda mais em
tempos de crise como os que vivemos no Brasil de hoje", acrescentou.
Seis vezes Jeri
“Chegando à sexta edição, o Festival de Jericoacoara Cinema
Digital prossegue consolidando cada vez mais sua dimensão nacional,
buscando reunir os novos realizadores do cinema brasileiro, que estão em
todas as regiões, fazendo seus trabalhos, mesmo enfrentando, muitas
vezes, dificuldades para divulgação, repercussão, visibilidade”, afirmou
Francis Vale.
“Na contramão dessa realidade, o Festival de Jericoacoara Cinema
Digital existe justamente para para dar mais destaque a novos nomes do
cinema brasileiro, provando que passamos de um eixo geográfico de
produção para novos e múltiplos polos, espalhados pelo País”, acrescenta
o diretor do festival.
“O festival contribui
para mostrar o pluralismo, essa riqueza de origens, temas e formas dos
filmes, os realizadores de várias gerações que fazem o novo cinema
brasileiro acontecer de um modo muito forte, pulsante”, complementa
Francis, que também enfatiza a relação do festival com a comunidade
de Jeri como um grande diferencial.
SERVIÇO:
VI Festival de Jericoacoara – Cinema Digital. De 7 a 13 de junho de 2017, em Jericoacoara. Toda a programação tem entrada franca. Mais informações: www.jeridigital.c om.br.
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