VENCER O INIMIGO INVENCÍVEL
COLUNA CARLOS BRICKMANN
- EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 12 DE NOVEMBRO DE 2017 -
Um
Governo grande, caro, metido na vida de todo mundo; ou, depois de mais
de 500 anos, um Governo enxuto, leve, que libere a criatividade dos
brasileiros e se preocupe em exercer as funções típicas de Governo, sem a
tentação de regulamentar até os quadros que cada museu pode exibir.
Um
balanço dos candidatos e seus assessores econômicos parece indicar que o
Governo, enfim, deixará de sufocar o país. Alckmin deve ter a seu lado
um dos pais do Plano Real, Pérsio Arida. Aécio, antes da queda, pensava
em Armínio Fraga (também companheirão de Luciano Huck e de João Amoêdo,
fundador do Partido Novo, ligado ainda a Gustavo Franco). Amoêdo é sócio
da Casa das Garças, centro liberal de estudos político-econômicos. O
Pastor Everaldo, do PSC, tem Paulo Rabello de Castro, presidente do
BNDES (fala-se até na candidatura de Rabello, no lugar do Pastor
Everaldo). Bolsonaro, conservador linha-dura na área de costumes,
reserva a Adolpho Sachsida, do Instituto Liberal, seu programa
econômico. Henrique Meirelles, ex-tucano, ex-Lula, hoje Temer e Kassab,
pode ser ele mesmo o candidato. E Lula? Não se sabe – mas já usou
Palocci.
Terá
chegado a hora de desmontar os empregões estatais? Talvez – mas Roberto
Campos, Delfim e Simonsen, defensores da iniciativa privada, tentaram
controlar até o preço do cafezinho. Falharam; é fantástico o poder da
maquina estatal de gerar nomeações. Mas nunca desistiram do cargo.
Irmãos Bobagem
Aécio
Neves, mesmo com o prestígio abaixo dos rastros da cascavel que destrói
candidatos, continua ostentando o título de presidente do PSDB. Era só
para constar, para não parecer que o próprio partido o tinha abandonado.
Mas a falta de poder subiu-lhe à cabeça: afastou o dirigente interino,
Tasso Jereissati, colocou Alberto Goldman no lugar e implodiu o partido
que já tinha explodido. Goldman detesta Dória, que pode ser candidato a
alguma coisa, embora não a presidente – e que lhe retribui a ojeriza; e é
ligado a José Serra, que candidato à Presidência também não será. E
abriu mais uma divergência: quem vai controlar o PSDB e tentar uni-lo de
agora em diante, Fernando Henrique, Alckmin ou o senador Antonio
Anastasia? Aécio, sem dúvida, só herdou do avô Tancredo, um sábio, o
sobrenome Neves.
Parente é serpente
Muitos
colunistas disseram que o PSDB vive uma luta fratricida, e foram
criticados: luta, sim, mas não fratricida, já que todos ali se odeiam.
Mas é fratricida, sim: afinal de contas, Caim e Abel eram irmãos.
Os jardins do Paraíso
Por
falar em Bíblia, em Gênesis conta-se a história do fruto proibido, da
Árvore do Bem e do Mal. Adão e Eva viviam no Paraíso, livres da fome e
da morte. Um dia, convencida pela serpente, Eva colheu o fruto proibido e
o ofereceu também a Adão. A Humanidade foi então expulsa do Paraíso,
conheceu a morte e a fome; e Deus determinou que os seres humanos
tivessem de trabalhar para comer – “ganhar o pão com o suor de seu
rosto”.
Avancemos
no tempo. O desembargador Vulmar de Araújo Coêlho e o juiz trabalhista
Domingos Sávio Gomes dos Santos, de Porto Velho, Rondônia, foram
punidos: o desembargador, por deslocar uma ação de R$ 5 bilhões da 2ª
para a 7ª Vara, onde o juiz trabalhista manteria a causa sob controle. O
Conselho Nacional de Justiça determinou a aposentadoria compulsória de
juiz e desembargador – e só. Ambos continuarão a receber integralmente
seus vencimentos, embora sejam proibidos de trabalhar.
Ambos têm deuses poderosos: ganham o pão sem o suor de seu rosto.
Juntos de novo
A
informação que chegou a ser recebida com desdém – o grande acordo
eleitoral entre PMDB e PT – já está publicamente confirmada. Em Minas, o
PMDB informou ao diretório nacional que pretende se aliar ao governador
Fernando Pimentel – o mais próximo aliado de Dilma Rousseff, alvo de
diversas investigações. Objetivo: aumentar as bancadas estadual e
federal do partido, esquecendo as divergências recentes. Serão eleições
curiosas: Aécio Neves terá fôlego para concorrer? E votos para ser
levado a sério?
Paz nas ruas
Se
depender das manifestações da oposição para mostrar força, Temer pode
avançar tranquilo nas reformas: o protesto contra a reforma trabalhista,
amplamente divulgado, organizado com grande antecedência, com apoio de
todas as centrais sindicais, reuniu menos gente que os jogos de futebol
das equipes mais mal colocadas na tabela. Os congestionamentos de
trânsito foram raros e rápidos; mais problemas eventuais do que muita
gente nas ruas. A manifestação de sexta-feira, ocorrida na véspera da
entrada em vigor da nova lei trabalhista, não chegou sequer a incomodar
quem dela não participava. E, não esqueçamos, não houve qualquer acordo
sobre o imposto sindical. Neste momento, e desde ontem, está extinto.
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