Opinião
AS TORNOZELEIRAS DE GRIFE
Coluna Carlos Brickmann
Atenção
para o dia 19: o Príncipe dos Empreiteiros, um dos responsáveis
confessos por alguns bilhões de dólares em propinas, pixulecos,
acarajés, presentes e quetais, aquém e além fronteiras, nunca assaz
louvado em terras bolivarianas e africanas, livra-se enfim da prisão.
Vai para casa cumprir pena domiciliar; restam-lhe, dizem, R$ 14 bilhões
para garantir-lhe um mínimo de conforto. Dizem também que, apesar de não
ter ficado pobre, sente-se injustiçado: por exemplo, não teria nada a
ver com o sítio de Atibaia, aquele que não é de Lula, e que o presente
que Lula jura que não recebeu foi-lhe dado por seu pai, Emílio
Odebrecht. As relações de Marcelo com o pai, a mãe, o cunhado, a irmã
parecem abaladas. Pior: embora não se considere responsável por boa
parte da pixulecagem, seu nome e rosto é que ficaram marcados para a
opinião pública, a ponto de se considerar perigosa qualquer indicação
sobre sua viagem de retorno.
Há
quem tema, dentro da Odebrecht, os próximos depoimentos de Marcelo. Ao
que se comenta, ele tem sido muito critico das confissões dos 77
diretores da empresa, e insinua a possibilidade de corrigi-las. Conforme
o tipo da correção, isso pode significar a anulação da delação
premiada, com a cassação dos benefícios outorgados aos delatores. Mas é
tudo muito estranho: o alto comando da empresa confessou os crimes. Se a
empresa se responsabilizou pelos crimes todos, como poupar o Príncipe
Herdeiro?
A luta de Lula
O
juiz-relator do Tribunal Regional Federal de Porto Alegre, o TRF-4, já
entregou seu voto sobre o apelo de Lula, condenado a 9 anos e meio de
prisão pelo juiz Sérgio Moro. O voto é agora encaminhado ao
juiz-revisor. Mantida a média de prazo, o recurso de Lula será julgado
até março.
Togas em luta
Caso
seja condenado em segunda instância, o ex-presidente Lula seria
obrigatoriamente preso, mesmo que o processo não tenha ainda transitado
em julgado? Uma decisão do STF autorizou a prisão do condenado em
segunda instância, situação em que Lula se enquadraria se o apelo fosse
rejeitado. Mas o ministro Gilmar Mendes disse que o Supremo autorizou a
prisão, mas não a tornou obrigatória. O problema então é outro: Lula,
que já lançou sua candidatura à Presidência, estaria ou não enquadrado
na Lei da Ficha Limpa, mesmo sem aprisionado? Como a questão de Lula
envolve posições políticas complexas, haverá boas discussões nos
tribunais.
Prisão bem-bão
Três
deputados fluminenses, Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertasi,
detidos desde 16 de novembro na Cadeia Pública de Benfica, Rio, recebem
normalmente seu salário de R$ 25.322,00. E, embora estejam em outro
endereço, custodiados pelo Tesouro do Estado, recebem também
auxílio-moradia de R$ 3.190,00 cada um.
Não
estranhe: de acordo com a Mesa da Assembleia, como os três foram
afastados pela Justiça e não se licenciaram dos cargos, “têm direito ao
pagamento decorrente do mandato outorgado pelo voto popular”. Os Nobres
Parlamentares se baseiam também num antecedente: em março, cinco
conselheiros do Tribunal de Contas do Estado foram presos por suspeita
de envolvimento em corrupção, e receberam tudo di rei ti nho.
Quem mandou estudar e trabalhar, caro leitor, para ganhar bem menos?
É assim que se faz
André
Puccinelli, ex-governador do Mato Grosso do Sul, foi eleito no último
sábado, em chapa única, para a Presidência Regional do PMDB. O líder
peemedebista foi eleito por aclamação 17 dias depois de deixar a prisão,
envolvido na Operação Papiros de Lama da Polícia Federal: segundo a
acusação, uma empresa de prestação de serviços comprava livros jurídicos
superfaturados em quantidade suficiente para atender o Governo.
Puccinelli
foi duas vezes prefeito de Campo Grande, duas vezes governador do Mato
Grosso do Sul, sempre pelo PMDB; e tem ótimas possibilidades de vencer
as próximas eleições para o Governo, em 2018.
Reforma, nos descontos
Ao
que tudo indica, a reforma da Previdência do Governo Temer deve passar –
por margem pequena, insuficiente, após negociação extremamente cara,
num dos últimos dias do prazo – mas, mesmo assim, passa. O Governo
espera 320 votos, quando o mínimo legal seria de 308. Há ainda um pouco
de folga para ampliar a vantagem: o PSD do ministro Kassab, por exemplo,
tem 38 deputados, dos quais só oito se comprometeram com a votação.
Kassab dificilmente deixará seu partido sair com a pecha de infiel aos
amigos. E definitivamente não irá concordar em perder ministérios por
passar a mão na cabeça de deputados infiéis. Na segunda-feira, Temer
avaliou quem é quem e se convenceu de que a reforma pode ser votada.
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